Para o Sinjorba, o jornalista deve se orgulhar do seu papel

Pouca gente lembra, mas hoje, 7 de abril, é o Dia do Jornalista, profissional indispensável para que a sociedade tome conhecimento do que acontece no Brasil e no mundo. Na Bahia, são mais de 6 mil profissionais, muitos trabalhando nos finais de semana, dias santos e feriados para levar a informação em tempo real para a sociedade. Nesta entrevista ao Vermelho, a presidente do Sindicato dos Jornalistas da Bahia (Sinjorba), Marjorie Moura, fala da situação da categoria no estado.

Vermelho – Como está a situação dos jornalistas na Bahia após o fim da obrigatoriedade do diploma? Houve aumento do número de pedidos de registro por pessoas não habilitadas?

Marjorie Moura – O Supremo Tribunal Federal decidiu que eles podem pedir o registro de jornalista, mas isto não é encaminhado através do Sinjorba e sim diretamente pela Superintendência Regional do Trabalho. O Sindicato só encaminha o registro de quem tem diploma. A nossa base de trabalho é essa. Tem aumentado sim, mas não de maneira extraordinária. Sempre houve alguns pedidos, algumas tentativas neste sentido. Além disso, o mercado não reagiu da maneira como algumas pessoas esperavam. As grandes empresas, por exemplo, não contratam quem não tem diploma porque não são escolas. Elas precisam de profissionais já formados, que tenham alguma base de onde partir para poder ingressar no mercado de trabalho. Então se exige sim. Porque toda profissão hoje dia exige um nível de escolaridade a partir do terceiro grau. Com o jornalista não é diferente. As empresas já aprenderam que não podem trabalhar apenas com pessoas de muito talento, porque talento não se mede, o que se mede é eficiência, através do tempo que se dedicou a uma formação específica.

V – Qual a situação do mercado de trabalho na Bahia?

MM – Nós temos basicamente o maior número de vagas nos jornais impressos da capital. Uma grande parte dos jornalistas trabalhando em Tv e em Rádio, mas o grosso, a maioria dos jornalistas trabalham em assessorias de imprensa. É uma área que tem alguns problemas, principalmente em relação à carga horária de trabalho, que a gente aos poucos vem tentando adequar para corrigir algumas situações e ajudar a empresa a se adequar ás regulamentações de nossa profissão que estão previstas na CLT.

V – A demissão do jornalista Aguirre Peixoto, pelo jornal Atarde, colocou em debate a questão da pressão que existe nas redações para que o jornalista fale a língua do patrão. Vocês recebem muitas denúncias sobre este tipo de situação?

MM – Eu sou funcionária do jornal Atarde há 17 anos, já trabalhei no Correio da Bahia e no Bahia Hoje, então posso falar que nós temos que ter a consciência que jornais são empresas, que têm interesses, políticos, econômicos e religiosos sim. Mas, nosso papel enquanto jornalista é evitar esta barreira. Então para mim é normal que os jornalistas tenham este filtro sim. Tem algumas questões de interesse do patrão, que a gente pode se recusar sim, pois todo acordo coletivo tem cláusulas de ética, que podem ser usadas para isso. Mas, temos que ter consciência de que é uma empresa e que cabe a nós, como jornalistas, sempre ter a coragem de nos posicionar para que a sociedade não seja enganada e seja bem informada.

V – Você acha que os jornalistas conseguem exercer a liberdade plena de imprensa ou ainda existem alguns temas proibidos? A imprensa consegue falar de tudo e de todos?

MM – Não sei se a gente consegue falar de todo mundo, mas a gente tem que tentar. Ao jornalista cabe produzir sua matéria através de informações muito bem apuradas. Mas, como eu te disse, as empresas têm seus interesses que podem bloquear alguns assuntos sim. Sejam por interesses econômicos, políticos ou até por temerem processos judiciais. Existem pessoas, principalmente personalidades e empresários, que ingressam na Justiça para impedir que seu nome seja citado. Então existe receio das empresas e até de jornalistas destes processos. Então esta liberdade de imprensa é subordinada a todas estas questões que te falei agora e ainda aos questionamentos jurídicos.

V – Você acha que a grande quantidade de blogueiros acaba atrapalhando a cobertura jornalística, principalmente nos eventos mais concorridos?

MM – Na minha avaliação, blogueiro não é jornalista. Se ele for jornalista, com certeza acaba produzindo um blog melhor. Cabe a nós jornalistas assumirmos a nossa função principal. Nós somos profissionais liberais, nós temos que ter a iniciativa de produzir nosso próprio negócio e tomar conta deste mercado. Porque quando os jornalistas tomarem conta deste mercado, realmente a produção de trabalho dos blogs será de melhor qualidade e vai suprir melhor o interesse da sociedade. Então tem que fazer este filtro através de nós mesmos.

V – O jornalista tem o que comemorar em seu dia ou a categoria não consegue cumprir o seu papel social de informar a sociedade?

MM – Muita gente me diz que está desencantada com o jornalismo, mas eu sempre digo que elas não devem ficar desencantadas com a profissão, pois estamos fazendo a nossa tentativa de cumprir a nossa função social, que é sermos interlocutores da sociedade. Então, se você está fazendo isso com toda a sua energia, com toda a sua capacidade, porque você tem que se envergonhar? Eu acredito que a maior parte dos jornalistas trabalha assim.

Baixos salários, condições de trabalho ruins, mas está cumprindo o seu papel. Eu sempre fui repórter e muitas vezes, no plantão no jornal onde eu trabalho, as pessoas chegam e me dizem: eu vim aqui porque ninguém mais pode fazer alguma coisa por mim. E é assim que a sociedade vê o jornalista. E é assim que o jornalista tem que se ver e continuar com o seu papel, apesar de todas as barreiras e dificuldades. A nossa profissão é muito especial e as pessoas que assumem esta atividade também. As pessoas em geral querem ter o seu final de semana, às 18h estarem em suas casas, querem ter uma rotina de vida dentro do padrão dito normal. E nós nos submetemos às condições mais incríveis de trabalho para cumprir o nosso papel, que é a nossa missão. Então eu acho que todo o dia a gente tem que comemorar, não apenas o dia 7 de abril, e tem de estar correndo atrás dos nossos direitos, nos fazendo respeitar e nos respeitando acima de tudo.

De Salvador,
Eliane Costa