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Canal 100: Imagens que encantam até quem não gosta de futebol

Até os anos 1970 não havia satélite, nem TV colorida. Daí que os jogos internacionais ou de outros estados brasileiros só chegavam pela narração acalorada dos speakers de rádio. As emoções eram renovadas, a cada semana, nas salas de cinema, quando a telona era ocupada pelos lances sensacionais de Pelé, Garrincha, Vavá e Didi.

Eram tempos do Canal 100, famoso cinejornal criado pelo carioca Carlos Niemeyer, e que de 1957 a 1986 foi exibido semanalmente nos cinemas de todo o país, minutos antes de começar o filme. Dribles e gols fantásticos, tomados pela câmera no melhor estilo jornalístico, bem de pertinho e em closes sensíveis, eram ainda potencializados pela força da trilha sonora e pela grandiosidade das imagens, projetadas nas grandes telas de cinema daquela época.

A fórmula cinejornal e futebol encantava até os menos aficcionados ao esporte. O cinema, vale dizer, era bem mais popular do que é hoje, e o cinedocumentário concorria de perto em audiência com o jornal impresso e a televisão. Mas os cinegrafistas do Canal 100 foram testemunhas não somente dos melhores momentos do futebol.

Documentaram também fatos importantes da história brasileira, como a fundação de Brasília em 1960, a entrega da Palma de Ouro para o filme O Pagador de Promessas (1962), a inauguração da Ponte Rio-Niterói (1974), ou a morte do presidente Juscelino Kubistschek (1976). O acervo reúne aproximadamente setenta mil minutos de imagens.

No caso do futebol, o arquivo histórico do Canal 100 guarda verdadeiras preciosidades, como as imagens das primeiras atuações de Pelé e de Garrincha na Copa do Mundo de 1958 na Suécia; a eliminação do Brasil na Copa de 1966 e os jogos das Copas de 1982 e 1986. Muito do que se vê é trabalho de Francisco Torturra, grande cinegrafista de futebol da história dos cinejornais.

Apesar do sucesso, o Canal 100 não resistiu às investidas do mercado americano, apoiado pelo governo militar. E em 1985 deixou de ser produzido, quando a propaganda comercial em cinejornais foi proibida pelo ministério da Cultura do governo Figueiredo.

Com a morte do seu fundador, o Canal 100 foi gradualmente deixando fazer novas filmagens, restando um grande arquivo histórico. Em 2001, Alexandre Niemeyer, filho de Carlos Niemeyer, iniciou um projeto em que visava à recuperação e apresentação de todo o acervo cinematográfico feito pelo seu pai.

Foi criada a "Revista Canal 100", que apresenta fotos do arquivo, e um site oficial do projeto onde é possível assistir a vários documentários, ler sobre a história da produtora e conhecer um pouco do ambiente brasileiro nos anos 1960. Imperdível para quem gosta de cinema, futebol, ou ambos.

Agora, uma parceria entre o Canal 100 e o Ministério da Cultura vai permitir que todos os filmes sejam restaurados e voltem a ser exibidos na telonas e telinhas até a Copa de 2014.

Fonte: Portal Copa 2014