Ney Campello: A Copa os benefícios que trará ao povo brasileiro
Neste artigo, o secretário estadual da Bahia para Assuntos da Copa da Fifa Brasil 2014, Ney Campello, fala da importância da realização do evento no Brasil e dos benefícios que trará para a população.
Publicado 12/05/2011 13:02 | Editado 04/03/2020 16:19
Campello trata ainda da candidatura de Salvador para sede da abertura do evento e dos esforços feitos pelo governo do estado para que todos os projetos envolvendo a Copa estejam prontos no prazo estipulado pela Fifa. Confira a íntegra do texto:
Percebe-se uma crescente euforia e enorme expectativa advindas da preparação desta que será a 2ª Copa do Mundo a ser sediada no Brasil, após longos sessenta anos. Natural para um povo amante do futebol, cuja identidade quase se confunde com a prática desta modalidade esportiva, historicamente celebrada como um símbolo do orgulho nacional.
Uma correta compreensão do que significa para o país a condição de anfitrião do maior evento midiático do planeta, e em que contexto este evento se realizará, certamente contribui para dele extrairmos o máximo de benefícios esportivos, econômicos e sociais para a sociedade brasileira. Há que se observar, com igual importância, os requisitos atinentes à aplicação dos recursos públicos nas competições, com o fito de assegurarmos transparência, eficiência e controle social dos investimentos que serão realizados.
Sob este prisma, o país que sedia as competições, atua como provedor dos requisitos estipulados no Caderno de Encargos da FIFA, mediante os contratos celebrados entre a entidade, o governo federal e as sedes, dentre eles, o Host City Agreement (Acordo da Cidade-Sede), o Stadium Agreement (Acordo do Estádio) e o Hosting Agreement (Acordo do País Sede).
Arenas esportivas com alto padrão de qualidade, conforto e segurança, obras de mobilidade urbana e acessibilidade, portos e aeroportos modernos e sustentáveis, rede hoteleira compatível com a previsão de visitação de mais de 600 mil estrangeiros, receptivo treinado e qualificado em diferentes idiomas são algumas das principais condicionantes requeridas pela entidade internacional do futebol.
O esforço público para o atendimento de tais exigências é compensado com a visibilidade internacional que o país e os estados conquistam com a realização da Copa, somada à incorporação da expertise e os ganhos tecnológicos aportados num megaevento como esse.
O Mundial de 2014 integra uma extensa agenda do esporte nacional, que começa este ano
com os Jogos Militares no Rio de Janeiro, continua, em 2013, com a Copa das Confederações, prossegue com a Copa América, em 2015, e conclui o ciclo com as Olimpíadas e Paraolimpíadas em 2016. Vale ressaltar que a Bahia deve participar de quase todos esses eventos. Esse ciclo virtuoso eleva o esporte à condição de estratégia nacional de desenvolvimento e promoção humana, fato alvissareiro para um modelo de desenvolvimento sustentável no país.
Entretanto, há um outro viés de análise da Copa 2014, sob o ponto de vista dos legados e externalidades positivas potencialmente resultantes da preparação e realização do evento. Nesta dimensão de análise, a Copa 2014, além de catalisadora e indutora de aceleração de obras e projetos estruturantes, oferece ao país oportunidades únicas e variadas, sejam elas econômicas, esportivas ou socioculturais.
Cidades requalificadas e sustentáveis, soluções para os problemas metropolitanos da mobilidade, maior eficiência e qualidade na prestação de serviços, modernização das redes hoteleiras, reestruturação dos nossos aeroportos e portos, requalificação de praças, parques e da infraestrutura turística, revitalização dos centros históricos e fomento à diversidade cultural brasileira são objetivos que devem ser perseguidos via o bom pretexto da Copa, ainda que representem demandas e direitos que não se restringem ao evento.
Na dimensão dos legados, a própria incorporação do Mundial como parte da agenda nacional colabora para a consecução destes objetivos. Um evento destas proporções estimula um debate nacional sobre o tipo de nação e cidades que desejamos depois que os jogos findarem. Não por acaso, as 12 sedes estão distribuídas nas cinco regiões do mapa geopolítico brasileiro, suscitando o debate federativo sobre a redução das assimetrias regionais que persistem no Brasil.
Segundo estudos divulgados pelo Ministério do Esporte, os impactos da Copa 2014 na economia brasileira podem alcançar cifras próximas a R$ 183 bilhões, sendo a maior parte (73%) referente aos reflexos indiretos na economia. Infraestrutura de portos, aeroportos, estádios e mobilidade, visitação esperada de 600 mil turistas estrangeiros, geração de centenas de milhares de postos de trabalho permanentes e temporários, incremento no consumo e arrecadação tributária constituem os principais vetores de crescimento esperados em função das competições.
Razão pela qual é justa a expectativa de uma distribuição equânime dos investimentos públicos e dos aportes privados, oportunizando o fortalecimento das economias regionais, em especial no Norte e Nordeste Brasileiros.
Igual raciocínio deve ser aplicado à distribuição do mix de eventos que compõem as competições de 2013 e 2014. Abertura e encerramento da Copa das Confederações, show e abertura do Mundial em 2014, oitavas, quartas, semifinais e final do torneio, congresso da FIFA, sorteio das seleções, Centro de Mídia, Centros Oficiais de Treinamentos, Centros de Treinamentos das Seleções são alguns dos principais eventos que ocorrerão e esperamos sejam distribuídos por critérios que contemplem as 12 sedes, justificando os investimentos que todas elas farão para atender às condicionantes Fifa.
A Bahia reivindica sediar a abertura e/ou o encerramento da Copa das Confederações e a abertura do Mundial de 2014. Sustenta esse pleito por sua representatividade cultural e civilizatória e, também, pelo bom estágio de desenvolvimento do seu projeto.
Como decorrência dessa discussão, o outro legado de indiscutível repercussão se refere à compreensão do evento como fruto do diálogo entre os entes federativos, União, Estados e municípios, posto que a Copa é , essencialmente, um acontecimento em regime de colaboração federativa. É o chamado legado institucional.
A Copa articula e integra diferentes organismos, públicos e privados, valorizando o diálogo interinstitucional, o que pode resultar em maior eficiência e melhor alocação de recursos, redução de superposições e retrabalhos. A Copa é uma agenda nitidamente ganha-ganha e pode colaborar para a formação de novas competências no âmbito do setor público, sobretudo no uso de tecnologias e estratégias que privilegiam o planejamento, o monitoramento e o estabelecimento de indicadores de performance para os objetivos estipulados pelos governos.
A Bahia, por exemplo, contratou e elaborou o seu Plano Diretor da Copa, através da Secretaria de Planejamento, em parceria com a Secretaria da Copa (Secopa), demonstrando que o evento precisa estar integrado ao planejamento estratégico do Estado e arregimentar todos os órgãos sistêmicos de governo que possuam interface com a preparação e realização das competições.
No plano da infraestrutura, o maior dos nossos desafios se refere à mobilidade urbana e à acessibilidade. Salvador, terceira cidade do país em termos populacionais, e com a maior densidade demográfica dentre todas as capitais, com 10.000 hab/km2, perdeu progressivamente o compromisso com a cultura do planejamento e, hoje, enfrenta situação de grave estrangulamento na oferta de circulação de pessoas e veículos. A Copa pode e deve contribuir para uma solução de mobilidade de caráter metropolitano, multimodal e integrado, oportunizando transporte público de qualidade, sustentável e de longo prazo para a população.
O Procedimento de Manifestação de Interesse, sob a liderança da Seplan e da Sedur, deverá contribuir para a definição da melhor solução e opção de investimento. O uso da bicicleta como modal saudável e sustentável de circulação é um outro importante tema da chamada Copa Verde. O Governo do Estado apresentou pleito da ordem de R$ 40 milhões, para construção e requalificação de quase 200 km de ciclovias e ciclofaixas, até 2014.
Arena Fonte Nova é uma outra obra estruturante e de centralidade para o Governo da Bahia. Mais que um estádio moderno, seguro e confortável, trata-se de um equipamento multifuncional que impactará positivamente a revitalização do centro antigo e histórico de Salvador, incorporando novos usos e funcionalidades para o espaço urbano, além de inserir a capital baiana no circuito internacional do entretenimento.
Na dimensão do capital humano, principal dos legados da Copa, a Secopa pretende mobilizar todas as instituições qualificadoras, públicas e privadas, para o desafio de treinar e qualificar milhares de baianos, formando habilidades e competências essenciais para receber bem os turistas, mas, sobretudo, constituir opção de empregabilidade e sobrevivência no pós-copa. O Planseq Copa 2014, do Ministério do Trabalho, e o Bem Receber Copa, do Ministério do Turismo, são exemplos de programas que contribuirão para o desafio da qualificação profissional, abordando temas como hospitalidade, empreendedorismo, atendimento e aprendizagem de idiomas estrangeiros.
Esses e tantos outros temas estratégicos, que se relacionam ao evento, ganham força com a implementação do Plano Diretor e a consolidação da governança da Copa na Bahia. O Estado, além da criação de uma Secretaria específica para os assuntos da Copa, possui um Comitê Gestor e 10 grupos executivos temáticos, para a implementação das ações e articulação de uma carteira de projetos correspondentes às diretrizes e metas estabelecidas pelo governo.
Recentemente, o governo do estado celebrou, com a Prefeitura de Salvador, um Termo de Cooperação que institui o Comitê Organizador Unificado, instância de monitoramento conjunto que se articulará com a Fifa/COL e todos os entes responsáveis pelas dimensões de preparação do evento.
Dois são os grandes objetivos que almejamos alcançar com o Mundial de 2014. Ganhar a Copa, objetivo que expressa a legítima paixão dos brasileiros pelo futebol, e ganhar com a Copa, motivação maior em busca de oportunidades e benefícios que sejam internalizados às sociedades brasileira e baiana.