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Parada Gay quer fim da guerra entre religião e direitos humanos

A 15ª Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, considerada a maior do mundo, já começa a render polêmica na edição deste ano. Pela primeira vez, o evento se apropriou de uma citação religiosa e contará com representantes de um grupo religioso desfilando na avenida Paulista, no próximo dia 26, na capital paulista.

Reverendos e seguidores da Igreja Anglicana do Brasil, além de fiéis de outras religiões, vão participar da passeata ao lado de gays, lésbicas, bissexuais, transgêneros e simpatizantes. O grupo deverá ter um trio elétrico próprio.

Ideraldo Beltrame, presidente da Parada, é seguidor da Igreja Anglicana. Budistas e hinduístas também foram convidados. “O trio deve chamar ‘O amor lança fora todo o medo’, que é o que a gente prega”, espera Ester Lisboa, fiel da Igreja Anglicana que ajuda a organizar o desfile. A mensagem estará estampada em camisetas usadas pela comitiva, que trarão no verso a frase “religiosos e religiosas contra a homofobia”.
 
A relação do preconceito com a religião é o tema deste ano: “Amai-vos uns aos outros: basta de homofobia!” Uma carta lida ontem na entrevista coletiva de abertura do 15.º mês do Orgulho LGBT explicou a citação, típica do universo cristão. “Respeitosamente, nos apropriamos dela para pedir fim à guerra travada entre religião e direitos humanos”, dizia o manifesto.

"Não queremos fazer um discurso autofágico, voltado para o próprio umbigo, mas para toda a sociedade brasileira. O país está sendo vítima de um sistema fundado numa moral religiosa, mas este é um recado direto para toda a sociedade brasileira. Usamos a frase como tema para descontextualiza-la (do sentido cristão). O grande princípio para essa frase também surge porque nossos agressores mudaram. Estamos sendo agredidos também pela classe média", disse Ideraldo Beltrame (citando o caso do rapaz que agrediu outro jovem com uma lâmpada fluorescente na avenida Paulista no ano passado).

Na carta aberta à população, divulgada em entrevista coletiva, os organizadores da parada citam os 260 gays e lésbicas mortos em 2010 e afirmou que no Brasil "se mata mais homossexuais do que em países islâmicos". A associação criticou ainda o recrudescimento dos setores conservadores.

"Antes nossos algozes agiam na calada da noite, nos violentando em becos à surdina, como se, nos atingindo individualmente, pudessem nos exterminar pelas beiradas. Hoje, saem às ruas, fazem abaixo-assinados, manifestam-se na avenida Paulista e marcham sobre a Esplanada dos Ministérios para barrar a garantia de nossa dignidade", disse o texto.

De acordo com Beltrame, a carta aberta é direcionada a toda a sociedade e, segundo ele, "para deixar bem claro a exigência de um Estado laico, democrático e moderno, que busca entender que todas as pessoas são iguais".

A parada também defenderá a aprovação do Projeto de Lei da Câmara (PLC), que criminaliza a "discriminação ou preconceito de origem, condição de pessoa idosa ou com deficiência, gênero, sexo, orientação sexual ou identidade de gênero". Segundo a associação, durante o evento, serão colhidas assinaturas pedindo a aprovação do PLC. A presidente Dilma Rousseff foi convidada para participar da parada, bem como "todos os parlamentares" do Congresso, disse Beltrame.

Reação agressiva

As reações ao tema do evento não demoraram. O site oficial (www.paradasp.org.br) da Parada Gay foi hackeado já ontem. Como destaque na página inicial do site consta a frase “Deus criou o homem e a mulher, não existe terceira opção! (Site Hackeado!)”.

Logo abaixo lia-se “Command Tribulation Site Hackeado, abaixo PL122!”. O PL 122, ao qual o texto se refere, é o projeto de lei que visa tornar crime a homofobia. Quem acessa o link encontra uma citação bíblica creditada ao Romanos I e a frase “O salário do pecado é a morte!”

Na parada do ano passado, houve a explosão de bomba durante o evento, atribuída a atentado. Pelo menos 30 pessoas ficaram feridas. Para garantir a segurança das 3,1 milhões de pessoas esperadas para a festa deste ano, o policiamento será reforçado. O efetivo da Polícia Militar passará de 800 pessoas, em 2010, para 1,5 mil, e 400 seguranças particulares foram contratados.