Ainda há esperança (apenas a minha opinião)

Desde os tempos da faculdade me envolvi com o movimento estudantil, e em seguida o movimento sindical. Nunca fui das militantes mais revolucionárias, mas sempre apoiei todo o movimento saído da classe oprimida, seja trabalhadora, estudantil ou movimentos sociais. Apesar de tudo isso, não simpatizava com o movimento #ForaMicarla. Inicialmente por achar que tirar Micarla era só abrir caminho para Paulinho Freire, que, na minha opinião, não seria diferente em nada da atual prefeita.

Fora Micarla
Durante os meses em que o movimento se configurou nas redes sociais eu o apoiei de forma tímida. Fiz minhas críticas à administração municipal, enviei convites via Facebook e fiz minha parte para tornar as hashtags do movimento, tendências nacionais e quiçá mundiais. Mesmo assim não fui às manifestações.

Sempre achei que é muito difícil se controlar multidões. Mesmo na minha tímida militância é possível testemunhar como sempre há os mais exaltados que nunca seguem as recomendações dos líderes, e, um movimento tão eclético quanto se apresentava o #ForaMicarla, a tentativa de ser organizado deveria ficar fora da realidade.

Minha outra crítica ao movimento se deu também à primeira manifestação ocorrida no Midway. Até hoje a maior do movimento. Com o mérito de ter colocado duas mil pessoas unidas em prol de uma causa justa, o movimento, a meu ver, pecou em escolher o horário e o local. O horário pegou exatamente a volta pra casa do trabalhador. Esse mesmo trabalhador que, assim como grande parte dos que fazem o movimento, é submetido a um péssimo sistema de transporte público e passa por ampla exploração em um dia de trabalho. Perdeu o movimento em perder o apoio da população. O local pra mim também prejudicou a manifestação, pois fechou o único acesso ao maior hospital de urgência e emergência da cidade.

Apesar de tudo isso mantive meu apoio, e minha indignação aumentou quando começou-se a falar em polícia para desocupação da Câmara. Aí vieram vereadores reclamando o direito de trabalhar. Aqueles mesmos que vivem em recesso e sempre ganham com convocações extras nas férias. Aqueles mesmos que suspenderam a sessão quando o ex-vice-presidente morreu. Ora vamos colaborar. Não precisa suspender sessão por um protesto ordeiro como aquele.

Várias vezes tentei ir à Câmara, mas os compromissos cotidianos me impediram. Com isso comecei a acompanhar o relato de amigos, jornalistas ou não, que estavam acompanhando o dia-a-dia daquele grupo que resolveu lutar pelo bem de toda uma cidade. Mesmo com toda a realidade contida nos relatos eu ainda mantinha um resquício de dúvida.

Nesta quarta-feira recebi um pedido do Sindicato para o qual trabalho que fizesse um registro fotográfico do movimento. Ao chegar lá, me deparei com um dos movimentos mais organizados que acompanhei na minha vida. O que eu julgava ser um movimento estudantil é na verdade amplo e plural. São pessoas completamente distintas unidas por um interesse em comum. O de viver em uma cidade administrada de forma competente e honesta.

O coletivo #ForaMicarla já tinha ganhado a minha simpatia antes do final da tarde. Momento em que os acampados começaram a se organizar para resistir ordeira e pacificamente à ameaça de repressão do braço armado do estado: a polícia. Naquele momento já tinha vontade de deixar a câmera fotográfica de lado e me juntar aos que entoavam músicas e gritos de guerra no pátio da Câmara Municipal de Natal.

Já com vontade de descer as escadas que dão acesso à presidência da Casa onde eu me mantinha para eternizar os momentos mais marcantes, me deparo com um momento lindo. Entra pátio adentro um dos manifestantes gritando: GANHAMOS.

Naquele momento todos se abraçaram e dali surgiu, de forma natural e espontânea uma das cenas mais emocionantes da minha vida. Com a bandeira do Brasil aberta, os manifestantes cantaram o Hino Nacional brasileiro. Chorei. Chorei de verdade, de emoção e felicidade por ver que as coisas em que acredito ainda podem ser o caminho sim.

E aquele movimento que eu tanto critiquei, de quem eu tanto duvidei, me conquistou e me acalentou. Parabéns a todos que fazem o Coletivo #ForaMicarla. Que esse seja o primeiro passo para uma luta muito maior. Que a instalação da CEI seja conquistada e que, apesar do rabo preso de grande parte dos edis. Que consigamos provar os desvios de verba pública e provocar a abertura do processo de impeachment da prefeita.

Por fim, aos que acham que jornalista tem que ser imparcial, sinto acabar com o sonho: não existe imparcialidade. Cada um defende o que acha certo. Eu defendo o direito de lutar por um mundo melhor.
 

   Ana Paula Costa é jornalista, assessora o Sindicato dos Trabalhadores em Saúde do Rio Grande do Norte e é diretora de comunicação e cultura do Sindicato dos Jornalistas do RN.