Preconceito linguístico e outros no país do conservadorismo
Vivemos num país assustadoramente conservador e preconceituoso, com opiniões majoritárias da população em favor de posições anacrônicas, muitas delas já superadas nos chamados países avançados.
Por Geraldo Galindo*
Publicado 07/07/2011 19:17 | Editado 04/03/2020 16:19
No Brasil a maioria do povo é contra o aborto, é contra o casamento entre homossexuais, é contra o desarmamento, contra leis que asseguram o estado laico etc. Isso é decorrente, entre outros fatores, por conta de uma influência religiosa ainda muito marcante em nossa sociedade – o que tem travado a aprovação de propostas que fariam o país avançar para um ambiente mais civilizado – e também pela força das dezenas de partidos conservadores presentes na disputa política.
Aqui em Bruzundanga, quando falamos em respeitar os direitos humanos, os direitistas falam que estamos ao lado dos bandidos; quando defendemos cotas para negros e pobres, eles dizem que estamos premiando a ignorância; quando dizemos que o corpo da mulher pertence a ela e ela deve decidir sobre ele, os reacionários dizem que o corpo pertence a deus e que as regras do tal deus é que devem prevalecer e nos acusam ainda de estarmos propondo o assassinato de crianças indefesas; quando se pretende punir os país que surram os filhos, eles vem com o argumento de intromissão do governo em assuntos domésticos; quando propomos a união entre homossexuais e o combate contra a homofobia eles dizem que estamos fazendo campanha para o povo fazer opção pelo homossexualismo; quando defendemos o desarmamento, eles afirmam que queremos desarmar o povo e deixar os bandidos bem armados; quando combatemos o racismo, eles dizem que estamos pregando o ódio entre as raças; se somos contra o ensino de religião nas escolas, falam que somos ateus materialistas e que queremos proibir a bíblia.
Quando defendemos programas sociais para o povo pobre, eles falam em assistencialismo e estímulo à preguiça, quando defendemos pesquisas com células-tronco para a cura de doenças, eles falam que estamos ameaçando as leis divinas; quando bradamos contra o machismo eles dizem que essa é a tradição brasileira; quando queremos investigar os crimes da ditadura eles nos acusam de revanchistas. Como se vê, os preconceituosos e os obscurantistas dos vários tipos têm argumento contra tudo que signifique um mundo mais arejado, mais tolerante, mais civilizado. O pior de tudo é que vez por outras surgem pessoas tidas como de "esquerda", que em tese deveriam estar ao lado de causas libertárias – , assimilando esse tipo de discurso, como a presença de deputados do PT em manifestações públicas contra os homossexuais e contra o direito da mulher fazer aborto.
Recentemente, um livro didático para jovens e adultos distribuído pelo MEC a 4.236 escolas do país reacendeu a discussão sobre como registrar as diferenças entre o discurso oral e o escrito sem resvalar em preconceito, mas ensinando a norma culta da língua. Isso foi o estopim para uma saraivada de ataques os mais reacionários contra a iniciativa que visava entre outros objetivos, reduzir o preconceito existente contra as pessoas que "falam errado".
O já conhecido PIG (Partido da Imprensa Golpista) usou suas ferramentas de trabalho (Globo, Folha, Veja, Estadão) para atacar impiedosamente o projeto. No Congresso Nacional os reacionários do PSDB e DEM foram para o campo de batalha com artilharia pesada contra o ministro da educação. Seria bom que todas pessoas pudessem ler o livro "Preconceito Lingüístico" e outros do professor da UNB Margos Bagno (pode-se baixar na internet). Para os conservadores de plantão, a avançada idéia do MEC de se contrapor à ditadura da "gramática culta" seria estimular a ignorância entre os alunos, quando o objetivo vem a ser exatamente o contrário.
O objetivo desse texto não é entrar no mérito da polêmica, já bastante explorada por tantos que se manifestaram. O que trago aqui é uma pequena parte do livro citado, intitulado de "10 cizões" onde em 10 itens o brilhante autor enumera os caminhos para se aprender um tipo de ensino menos preconceituoso. Se puder aproveite e visite o sitio: www.marcosbagno.com.br e conheça mais sobre assunto.
* Geraldo Galindo é dirigente estadual do PCdoB/BA