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"O país mudou", diz autor de Insensato Coração sobre impunidade

Com tramas sempre hiper-realistas, é normal que as novelas de Gilberto Braga e Ricardo Linhares despertem discussões a respeito de como andamos nos comportando como país. Foi assim com Vale Tudo, que Gilberto escreveu com Aguinaldo Silva e Leonor Bassères em 1988, e que agora, em reprise no canal Viva, acabou por transformar Insensato Coração, a atual novela das 9 da Globo, em peça de comparação. É como se as duas novelas, analisadas em conjunto, pudessem dizer de onde saímos e onde chegamos.

Poderíamos imaginar que Cortez (Herson Capri), por exemplo, o banqueiro inescrupuloso que anda às turras com as autoridades da novela atual, pensou que faria como o Marco Aurélio (Reginaldo Faria) da novela de 1988. Em fuga numa cena que foi ao ar há 15 dias, Cortez tentou reproduzir a antológica "banana" que Marco Aurélio mandou para o Cristo Redentor quando deixou o País e seus podres para trás.

Mas o Brasil é outro e, desta vez, o castigo veio bem antes do último capítulo de Insensato Coração, que vai ar em meados de agosto. "O País mudou e a novela espelha a transformação. Cortez pensa que ainda está vivendo na impunidade. Mas, desta vez, o bandido é preso, será julgado e condenado por crimes contra o sistema financeiro", anota Linhares. "Isso era impensável na época de Vale Tudo. São gestos simbólicos, que retratam que o Brasil não é mais o mesmo."

"Não considero a novela pessimista. Sempre ouço e leio comentários de que esta novela mostra a vida como ela é", afirma o autor, observando que casos como o de Norma (Glória Pires), que foi enganada pelo bonitão Léo se fazendo passar por um príncipe encantado de sugestivo nome "Armando", chega a ser didática. "Muitas mulheres dizem que aprendem com a história a se proteger das pessoas traiçoeiras. Talvez a grande identificação de Norma venha daí. Ela foi vítima de um golpe que poderia ter acontecido com praticamente qualquer uma, se estivesse vulnerável."

Com cenas pesadas – como quando Léo dispensou Norma, ou como no capítulo de sexta-feira, quando ele foi humilhado por perder um dente -, a novela é palco para grande dose de maldade. Linhares não vê excesso. "Há um time forte de personagens do bem, a começar por Raul (Antonio Fagundes). "Mas os vilões sempre chamam mais a atenção. É a 15.ª novela que escrevo. Nestes anos todos, observei uma coisa. Durante a novela, o público vibra com os vilões. Mas, no final, quer que eles sejam castigados e que o bem triunfe."

Com O Estado de S.Paulo