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Deputado venezuelano diz que integração da região é irreversível

Defensor ferrenho da integração da América Latina, o deputado venezuelano no Parlatino e dirigente do Partido Socialista Unido de Venezuela (PSUV), Rodrigo Cabezas, participa em Brasília, esta semana, de evento sobre conjuntura mundial e sobre as próximas eleições presidenciais na América Latina. Em entrevista exclusiva ao Vermelho, ele fala sobre esses e outros assuntos – pacíficos e polêmicos –, sem transigir do ideal de igualdade, “que deve ser a proposta não egoísta de uma sociedade”.

Deputado venezuelano diz que integração da região é irreversível - Mercosulpress

Cabezas acredita no avanço do processo de integração do continente sul-americano. E cita os vários instrumentos que estão sendo discutidos para permitir a formação do bloco econômico, político e social, como a criação do Banco do Sul, com recursos para financiar o desenvolvimento da região; e a “desdolarização” nas transações comerciais entre os países da América Latina.

Para ele, o ponto máximo desse processo deve ocorrer no início de dezembro com a realização da reunião da Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos), em Caracas, na Venezuela. A reunião, prevista para acontecer em julho último, foi adiada em função do estado de saúde do presidente venezuelano Hugo Chávez.

Para Cabezas, esse adiamento não compromete o processo de integração, e avalia a reunião da Celac como momento histórico para integração das nações da América do Sul e Caribe. “É um espaço político nosso, próprio”, enfatiza, “para lutar pela integração, pelo desenvolvimento e pela paz”.

União importante

O deputado venezuelano acredita que a união entre as nações impedirá que os efeitos da crise econômica mundial cheguem com força ao continente. E também evitará que a América Latina e o Caribe possam sofrer invasões pelos Estados Unidos e países aliados do núcleo do sistema capitalista como ocorre agora com a Líbia.

“É ingênuo pensar que nossa revolução bolivariana não corre risco de ser agredida pelos Estados Unidos, principalmente porque nós temos reserva de produção de petróleo comprovada de 296 bilhões de barris”, avalia, destacando que o modelo irracional de crescimento e desenvolvimento do capitalismo é sustentado no consumo desproporcional e distribuição desigual de energia.

Para comprovar o que diz, ele destaca que os Estados Unidos, que possuem 5% da população mundial, consomem 25% do petróleo do mundo. E informa ainda que esse consumo de petróleo representa 20 milhões de barris/dia, mas o país só produz seis milhões de barris/dia. “Essa diferença (de 14 mihões de barris/dia) eles precisam buscar em outros países produtores de petróleo”, afirma Cabezas.

Para afastar a possibilidade de sofrer uma invasão a exemplo do que ocorreu no Iraque, o parlamentar venezuelano manifestar confiança na consciência do seu povo e na união com os países vizinhos.

Governos progressistas

Ele avalia que a integração do continente sulamericano “tomou corpo a partir das eleições de governos progressistas, de esquerda, socialistas – de diversos matizes – na região”. E tem expectativa positiva com relação ao resultado das eleições que se aproximam. Este ano, haverá eleição na Argentina, com Cristina Kirchner; e na Nicarágua, com Daniel Ortega, como favoritos; e no próximo ano, Hugo Chávez concorre a mais um mandato na Venezuela, e há grande avanço da esquerda no México.

Na avaliação de Cabezas, “o giro à esquerda na América Latina, que começou em 1999 com a eleição de Chávez” foi respaldado pelo movimento popular. E isso ocorreu, segundo ele, pelo compromisso desses governos em derrotar o neoliberalismo e o acordo de livre comércio. Ele cita ainda o pacto desses governos com a inclusão social e a diminuição da pobreza.

Ao término da primeira década, ele avalia que o povo despertou. O que garantirá a manutenção desse processo, que Cabezas define como “histórico e irreversível”. Ele diz ainda que “ajuda um pouco a decadência dos Estados Unidos”, que não tem a mesma força de antes para impor aos países do continente sul-americano a política neoliberal que imperou na década de 1990 e a ALCA (Área de Livre Comércio das Américas).

Cabezas admite que o processo se originou na personalidade desses líderes – Hugo Chávez, na Venezuela, Lula no Brasil, Evo Morales na Bolívia, etc. – que cumpriram suas responsabilidades de acabar com a pobreza gerada pelo capitalismo e permitiram a organização dos movimentos populares que se sentem protagonistas e não representados. Ele cita ainda a atuação dos partidos socialistas que fortalecem esses movimentos no campo ideológico e na organização.

Participação do povo

“A garantia de continuidade não pertence a um líder, mas a um período histórico”, diz Cabezas, para quem o povo não permitirá retrocesso nos avanços conquistados.

O parlamentar venezuelano acredita que, para garantir esses avanços, os 590 milhões de latino-americanos e latino-americanas que habitam este território têm a obrigação de ser um novo bloco econômico, político e social. Essa integração, segundo ele, vai garantir um incremento do comércio entre as nações e também a criação de mecanismos de financiamento próprio. A isso ele chama “nova arquitetura da economia mundial”.

E cita os fatos que dão andamento à integração do continente, como a criação da Corporação Andina de Fomento (CAF), uma instituição financeira multilateral, com sede em Caracas, que presta serviços bancários a clientes do setor público e privado, dos países membros, mediante uma eficiente mobilização de recursos financeiros dos mercados internacionais para a América Latina.

Cabezas destaca ainda o processo de negociação para criação de um modelo de moedas virtuais, que vai permitir a “desdolarização” no comércio entre os países da região, e a criação do Banco do Sul, que terá recursos na ordem de US$ 700 bilhões, para financiar o desenvolvimento do continente. A intenção do banco é emprestar dinheiro às nações da América Latina para a construção de programas sociais e de infraestrutura.

De Brasília
Márcia Xavier