Para onde caminha a Humanidade (Européia)?

Por Wellington Duarte*

Ao vermos a crise por que passa a Europa, nos deparamos com uma estrutura de poder que foi criada para dar estabilidade e paz ao Velho Continente. Entretanto, passados 19 anos desde o Tratado de Masstricht, a bela capital da província holandesa de Limburgo, a Europa, além de estar mergulhada numa profunda crise econômica, vê reacender os velhos movimentos fascistas e nazistas, especialmente depois que o Leste europeu socialista, foi varrido do mapa político.

Não nos cabe desenvolver aqui um tratado econômico e político complexo sobre a União Européia, mas lançar um olhar curioso e que provoque inquietação, um formigamento e uma reflexão sobre como o Velho Continente vive a agonia de uma transição que não sabe se bem para onde vai.

No longíquo ano de 1951, logo após a Segunda Guerra e imediatamente após o início da Guerra Fria, a Alemanha Ocidental, França, Itália, Bélgica, Holanda e o minúsculo Luxemburgo, assinaram o Tratado de París e formaram a Comunidade Européia do Carvão e do Aço (CECA), que buscava o estabelecimento de políticas comuns para a área do carvão e do aço, fundamentais para a reconstrução européia. ressalve-se que a CECA foi acompanhado de perto pelas autoridades norte-americanas que ocupavam militarmente a Alemanha Ocidental e que tinham interesse em fortalece esse bloco para se opôr à política de expansão da URSS.

Em 1957 esses países, sempre apoiados e incentivados pelos EUA, firmaram o Tratado de Roma, criando, em 1958, a Comunidade Econômica Européia (CEE), cujo objetivo era a integração econômica européia, acabando com as barreiras alfandegárias (em 12 anos); estabeleceu uma política agrícola comum; aprovou políticas de combate aos monopólios e de formulação conjunta de políticas de transporte. Em 1968 todas as barreiras aduaneiras foram abolidas entre os países-membros, aumentando exponencialmente seu grau de competividade comercial.

Em 1973 a Irlanda, Reino Unido e Dinamarca aderiram a CEE; em 1979 foram realizadas as primeiras eleições para o Parlamento Europeu, fortalecendo a idéia de uma futura federação européia. Grécia (1981), Espanha e Portugal (1986) entraram na CEE, consolidando o bloco capitalista, que logo “engoliria” o Leste Europeu, cabendo à Alemanha, agora unificada, ser aquele que “seduziria” as “novas democracias” para que se “adaptassem” às regras capitalistas.

O Tratado de Maastricht (fevereiro de 1992) que criou a União Européia homogeneizava vários aspectos da vida política e econômica do Velho Mundo. Meio-ambiente, agricultura, saúde, educação, energia e políticas de desenvolvimento passaram a ser tratadas de forma unificada. Também as políticas externas, de segurança, de polícia e do setor judiciário também passavam a ser planejadas na União Européia. O conceito de Estado-nação era colocado em xeque por esse Tratado, mas a conjuntura apontava para a integração à lá Ocidente.

Em 1995, 3 Estados reticentes inicialmente, embarcaram na União Européia : Áustria, Suécia e Finlândia. Em 2002, depois de 10 anos em vigor, é criada a maior arma da União Européia : o Euro. A nova moeda,”federal”, chegava não apenas como meio de pagamento, unidade de conta e meio de circulação. Chegava como a representação do poder político da UE diante das nações européias, da cambaleante Rússia e dos EUA.o Euro foi imediatamente aceito por 12 países. O Reino Unido, temeroso de perder poder diante da Alemanha, França e Itália, decidiu não adotar o Euro.

Em 2004, depois de anos de “adaptações” e “adequações”, entre os quais o banimento político de várias organizações marxistas, Malta, Chipre, Eslovênia, Estônia, Letônia, Lituânia, Polônia, República Tcheca, Eslováquia e Hungria entravam na UE. Em 2007 foi a vez da Bulgária e Romênia aderirem à UE. Foi o que se chamou, na época, “a revoada dos primos pobres” e que representou,para a Alemanha a possibilidade de estabelecer vantagens políticas em relação a França, sua principal concorrente na condução da UE, mas também significou uma complexificação no processo de “federalização” da Europa, devido as diferenças gigantescas entre as economias destes países,com profundos reflexos nas suas organizações políticas internas.

O que vemos agora é que a UE, sob forte crise, tenta, a partir de suas principais lideranças, estancar o processo, utilizando um remédio que, de tão amargo, pode asfixiar o paciente, como tem sido o caso da Grécia, Irlanda, Portugal e Espanha, sem falar na catástrofe econômica que devasta o Leste e que fez renascer as velhas organizações fascistas, nazistas e xenófobas.

O Velho Continente, que apontava para o Novo está às voltas com um impasse que está sendo observado pelo Mundo, com um misto de esperança e preocupação. E virá uma grande escuridão?

*Wellington Duarte é Professor do Departamento de Economia da UFRN
Diretor de Política Sindical do ADURN Sindicato
Diretor de Política Educacional da CTB-RN
Diretor do DIEESE-RN
Membro do Diretório Municipal do PCdoB-Natal
Membro do Diretório Estadual do PCdoB