Com música brasileira e sucessos, Stevie Wonder empolga plateia

Havia, ao longo do dia, uma certa atmosfera de respeito solene pairando sobre o show de Wonder, como nenhum outro artista do festival teve até agora — mesmo quem não conhecia a obra do cantor e multi-instrumentista americano além de hits como I Just Called to Say I Love You e Superstition (que ele tocou) parecia ter noção do peso do nome, esperava por uma apresentação que se anunciava importante, de um artista imensamente influente, que não é visitante frequente (seu último show no Brasil foi em 1995) e que estaria exclusivamente no festival carioca.

O americano entrou no palco com um atraso de 20 minutos, empunhando uma "keytar" (mistura de teclado, guitarra e sintetizador) e tocando How Sweet It Is (To Be Loved by You), um dos maiores sucessos de Marvin Gaye.

"Oh, Rio de Janeiro, como é doce ser amado por vocês", disse ao público, usando a letra da canção. Na sequência, mostraria My Eyes Don't Cry, que teve recepção morna. "Agradeço a Deus por ter a chance de voltar ao Brasil", disse antes de puxar, feito um pastor, um coro de "Deus é bom" (em inglês), ao ritmo de reggae de Master Blaster (Jammin').

"Vocês sabem que não podemos fazer esse show sem um pouco de Michael Jackson", disse, para introduzir sua versão de The Way You Make Feel, que foi emendada com uma versão abreviada de Higher Ground, um de seus sucessos dos anos 1970 (que o Red Hot Chili Peppers já tinha mostrado em seu show no sábado passado). Até aí, o show estava engrenado e acelerando, mas Wonder tinha dificuldade para fazer a plateia acompanhá-lo em coros complexos em inglês; decidiu, então, chamar uma de suas backing vocals para cantar Garota de Ipanema em inglês, e o público respondeu acompanhando em português, para encanto de Wonder. Para manter a mesma toada, puxou de improviso Você Abusou (Antonio Carlos e Jocafi), que também teve coro da audiência.

Sentindo que a plateia precisava de hits, despejou-os em sequência, alterando a ordem prevista inicialmente e incluindo canções que não estavam listadas: Overjoyed, My Cherie Amour, Signed, Sealed, Delivered, I'm Yours, Isn't She Lovely, You Are the Sunshine of My Life, I Just Called to Say I Love You e Superstition fizeram da segunda metade do show (de duas horas) a mais empolgante.

Acompanhado de Janelle Monáe, Wonder voltou para o bis com Another Star, e encerrou a noite quando parte da plateia já havia deixado o Rock in Rio.

Por Marco Aurélio Canônico, na Folha de S. Paulo