Capistrano: “Apolítico” ou “apartidário”: um discurso falacioso
Li, na revista CartaCapital, de 23 de novembro, na seção Cartas do Leitor, uma missiva de Marcos Henrique do Espírito Santo, com o titulo, “Sobre o túmulo de Honestino”. Ele aborda um discurso falacioso que vem sendo usado, pelos grupos de direita, nas disputas eleitorais das organizações estudantis e sindicais. Discurso esse com o intuito de ludibriar os incautos, esses grupos se dizem apolítico ou apartidário.
Publicado 30/11/2011 11:49 | Editado 04/03/2020 17:07
Marcos, na sua missiva, diz: “O discurso “apolítico” ou “apartidário” é tão forte quanto incoerente. A matéria sobre as eleições do DCE da UNB, publicada pela CartaCapital, retrata duas perspectivas intimamente relacionadas com os estudantes do século XXI. Primeiro, a universidade tornou-se um local apenas para reprodução da mão-de-obra e, as divergências teóricas ou políticas são meramente abstratas. Segundo, como a pós-modernidade aboliu a luta de classe, não há mais um grande inimigo a enfrentar, portanto, vamos pensar na próxima festa a realizar nesse espaço. Claro que este é apenas um exemplo da estupidez reproduzida no espaço onde se deveria produzir conhecimento. Voltando ao discurso, passamos nós, estudantes da FEA/PUC-SP, por algo extremamente parecido.
Com a mesma lógica irracional, fomos derrotados nas urnas pela disputa do Centro Acadêmico Leão XIII por uma ínfima margem de oito votos. O problema não foi a derrota, mas sim a forma como ocorreu. Uma das chapas (diga-se de passagem, havia apenas duas) assumiu um papel “apolítico”. Ou seja, quem não se posiciona se coloca ao lado dos que dominam. Mas o que mais barbarizou o processo foi quando chamaram os alunos para votar dizendo que nós éramos ligados a partidos e movimentos de esquerda (aos olhos da atualidade isto é quase um crime). Em resumo, e na linguagem dos jovens que serão o futuro do nosso país, “o papo colou”. Política e partido se misturaram e se tornaram assunto chato e ultrapassado. Seja de direita, seja de esquerda, o importante é não debater, são todos corruptos mesmo e ninguém vai mudar nada”.
Este é um discurso perigoso que não interessa nem ao movimento estudantil nem ao sindical, não é positivo para a juventude, muito menos para os trabalhadores.
Agora veja a contradição histórica desse discurso, o DCE da UNB tem o nome de Honestino Guimarães, uma justa homenagem a um jovem estudante dessa instituição de ensino superior, um dos lideres do movimento estudantil contra a ditadura militar no final dos anos de 1960, que por esse motivo foi preso e expulso da universidade, sendo obrigado pelas circunstancias a entrar na clandestinidade. Honestino mudou-se para o Rio de Janeiro, continuando a sua luta em defesa das liberdades democráticas. Em 1973 foi novamente preso e desta vez desapareceu para sempre, sendo assassinato nos porões da ditadura, somente recentemente Estado reconheceu a sua morte.
Darcy Ribeiro, o construtor da UNB e um dos grandes educadores do nosso país, se vivo estivesse, ficaria triste com essa história de chapa apolítica. A universidade é uma instituição política por natureza, ela na sua essência é política. Portanto, querer desvincular a luta pela representatividade de classe da luta política é um ato falacioso. O pior é que esse discurso estar pegando, conta com o apoio da grande mídia, até porque quanto mais despolitizada for à sociedade mais fácil ela será dominada, Cito outro educador, Florestan Fernandes, quando ele diz: “Cada nação e cada povo possuem a universidade que merecem. Acabaremos muito mal, nesse terreno, se não soubermos o que queremos e, principalmente, se não soubermos lutar pelo que queremos. Clarificar o nosso pensamento, a esse respeito, vem a ser parte de uma situação de luta, na qual não seremos poupados e nem nos poderemos poupar”.
Viver é um ato político, a neutralidade é um mito. Agora, a direita estar sabendo usar, com competência, o discurso do “apolítico” e do “apartidário”, inclusive tentando confundir o povo com a história da corrupção, com a história de que todos os políticos calção 40, um discurso de fácil aceitação, até porque conta com o apoio, de forma irrestrita, do Partido da Imprensa Golpista, da grande mídia. As forças de esquerda têm que ter competência no enfretamento desse discurso fácil, que é forte.