Manuela é destaque em reportagem da revista Em Evidência

A revista Em Evidência traz uma reportagem sobre a participação das mulheres na política e entrevista a deputada Manuela d'Ávila. Confira na íntegra a reportagem.

Em 4 de fevereiro de 1932, as mulheres brasileiras conquistaram um direito: o voto. Passados 80 anos desse avanço, o universo político continua sendo majoritariamente masculino. Mesmo com uma mulher presidindo o Brasil, ainda são poucas as mulheres que ocupam espaços políticos. Qual o maior desafio, então, para superar essa desigualdade?

Desde a instituição do voto feminino, a participação da mulher na política vem aumentando. O que começou timidamente – só podiam votar as mulheres casadas (com autorização do marido), as viúvas ou as solteiras com renda própria –, passou pela instituição de uma lei de cotas (que obriga os partidos a terem mulheres candidatas) e chegou ao mais importante cargo da nossa república: a presidência. Ao mesmo tempo em que esse caminho comprova que o brasileiro não é um povo machista – afinal, elegeu Dilma Rousseff – mostra, também, que há muito a ser feito.

“Não podemos negar que houve avanços na participação da mulher na política. Hoje, ocupamos cargos importantes no país, temos mulheres à frente de muitos ministérios… Muito para quem, há poucas décadas, sequer pensava em trabalhar, pouco para um país com 58% de eleitoras”, lembra a deputada federal Manuela d’Ávila (PCdoB/RS), uma das poucas mulheres no Congresso Nacional. No total, entre os parlamentares da Câmara, apenas 9% são mulheres.

Na gestão Dilma, são nove ministras: Casa Civil, Gleisi Helena Hoffmann; Ministério da Cultura, Ana Maria Buarque de Holanda; Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello; Ministério do Meio Ambiente, Izabella Teixeira; Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, Miriam Belchior; Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Helena Chagas; Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Maria do Rosário Nunes; Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Luiza Helena de Bairros; e Secretaria de Relações Institucionais, Ideli Salvatti.

Porém, segundo levantamentos, o Brasil está entre os países com os mais baixos índices de participação feminina no parlamento. Na América Latina, o Brasil aparece à frente apenas do Haiti e da Colômbia. Entre os países das Nações Unidas (192), o Brasil ocupa a 110ª posição. A deputada gaúcha levanta outro desafio a ser vencido pelas mulheres. “Não bastasse ser masculino, a atividade política é machista. Quando uma mulher cobra resultados e fala alto, é histérica; o homem é firme. Quando cheguei ao Congresso, fui tratada como ‘musa’. Os homens da minha idade – que chegaram comigo ao mesmo Congresso – eram jovens promissores”, relembra.

Para diminuir a imensa diferença que existe entre homens e mulheres, algumas ações serão realizadas na Câmara dos Deputados. Dentro da celebração do dia internacional da mulher (8 de março), haverá uma campanha “80 anos da Conquista do Voto Feminino – Mulher no Poder”, que relembrará a história do voto feminino. Ainda durante as comemorações, deverá ser assinado um acordo de cooperação entre a Câmara e o Banco Mundial.

A bancada feminina pretende avançar no debate sobre a participação feminina e apresentará ao presidente da Câmara, deputado Marco Maia, uma relação de proposições que tramitam na Casa, como o Projeto de Lei 6653/09, que dispõe sobre a equidade entre homens e mulheres no mercado de trabalho.

Para Manuela, o fortalecimento da democracia passa pela real participação das mulheres no poder. “Em países como França, Espanha e Noruega, por exemplo, existe o chamado gabinete paritário. Existem, ainda, outros exemplos no mundo todo que poderíamos usar como inspiração”, citou. Na sociedade a mulher já vem ocupando seu espaço. Apesar de o salário ainda ser 30% inferior ao salário dos homens, os espaços já estão sendo divididos e as mulheres ocupam chefias e dirigem grandes empresas.

As mudanças são necessárias e os desafios são grandes. “Nem tudo é uma questão de gênero, simplesmente. Mas tudo é parte de uma mudança cultural que a sociedade já vive, mas que quem protagoniza a política insiste em manter distante desse universo. Temos grandes mulheres eleitas tanto no Rio Grande do Sul quanto em todo o país. É preciso que isso não seja exceção”, destacou Manuela d’Ávila.