PCdoB recebe Maria Prestes para palestra e lhe rende homenagem

Maria Prestes, ou Altamira Rodrigues Sobral, seu nome original, é filha de camponeses pernambucanos, com quem, ainda na infância, teve suas primeiras lições sobre a causa comunista. E foi na militância política juvenil que conheceu o “cavaleiro da esperança”, Luiz Carlos Prestes, com quem viveu por quarenta anos. De lá pra cá, nunca abandonou seu aprendizado e, aos 80 anos, ainda mantém viva e pulsante a convicção militante.

PCdoB recebe e Maria Prestes para palestra e lhe rende homenagem

Para comemorar os 90 anos do Partido Comunista do Brasil e também a passagem do Dia Internacional da Mulher, a direção do PCdoB/DF realizou a palestra “As mulheres e os 90 anos do PCdoB”, que contou, justamente, com este ícone comunista que foi Maria Prestes, além da deputada federal Jô Moraes (PCdoB-MG) e da Secretária da Mulher do DF, Olgamir Amancia (dirigente do PCdoB-DF). Simbolizando as gerações de mulheres comunistas, a mesa foi dirigida pela jovem militante Patrícia de Matos.

Maria Prestes falou com a simplicidade da camponesa e com a sabedoria e vivência de quem dedicou sua vida ao socialismo. Relatou em detalhes passagens de sua vida ao lado de Prestes, empolgando e emocionando a plateia que lotou o auditório da sede do PCdoB/DF.

Nascida em Recife, em 1930, muito cedo foi morar na Bahia, num pedaço de terra onde o pai plantava uma roça que servia para sustentar o jornal do Partido. Foi com o pai que aprendeu o bê-a-bá da ideologia comunista. Aos 17 anos, quando militava na Juventude Comunista, enfrentou a primeira fase de repressões porque viveu o país e, tendo que viver na clandestinidade, fugiu para São Paulo.

Junto com seus companheiros de militância juvenil teve a tarefa de cuidar da segurança de Prestes e assim o viu pela primeira vez. Tempos depois foi designada a tomar conta de um “aparelho”, ou seja, uma casa onde ela sequer sabia quem seria o morador. Descobriu que era o “Velho”, como ficou conhecido Luís Carlos Prestes. Ali nasceu o romance que se transformou num casamento de mais de quarenta anos.

“Pergunte aos meus filhos: nunca tivemos nenhuma briga”, conta Maria, ao relatar uma passagem interessante que arrancou aplausos do plenário. “Não sou supersticiosa, mas na adolescência uma vizinha que era ‘macumbeira’ me levou no terreiro e disse que ‘fecharam meu corpo’ com Santa Bárbara (Yansã). Depois, em São Paulo uma moça pediu para ler minha mão e falou que eu ia conhecer um homem importante e com ele iria atravessar mares, sobrevoar montanhas, mas que não teria riquezas. Não dei bola. Mas, por coincidência ou não, conheci o Velho no dia 4 de dezembro, dia de Santa Bárbara”.

Mas, foram os relatos de suas atividades militantes, de convicção inabalável que mais chamou a atenção. Maria passou por ditaduras, enfrentou períodos de repressão, clandestinidade e o exílio. E mesmo em meio a monstruosas diversidades, criou nove filhos (sete seus e dois do primeiro casamento), sempre convicta de seu papel, de modo especial, no cuidado com a segurança do “cavaleiro da esperança”. “A polícia não adivinha nada. Quando ela vai num lugar é porque alguém delatou. E eu tinha que tomar muito cuidado, pois se algo acontecesse ao Velho, todos achariam que eu o havia entregue”.

Maria encerrou sua fala chamando a atenção para bandeiras que ela considera fundamentais para a luta do povo, como, de modo especial, a reforma agrária. Também disse que é preciso resgatar a juventude e a intelectualidade progressista para unir-se em torno da causa do socialismo.

Convicção militante renovada

A Deputada Jô Moraes destacou que a fala de Maria estava carregada do sentido de “ser comunista”, ou seja, de viver com e para o povo, ajudando-o a encontrar as soluções para seus problemas. “A força da simplicidade, a capacidade de resistir, a fraternidade e a camaradagem esboçada nesta palestra da Maria nos fortalece e renova nossa convicção militante”, destacou a parlamentar.

Olgamir Amancia, secretária da Mulher do Governo do Distrito Federal enfatizou que a história de Maria Prestes é emblemática para a luta das mulheres, também sobre a ótica do papel das mulheres, muitas vezes dando suporte para que outros pudessem desempenhar outros papéis, como no caso de Prestes.

A secretária comunista também advertiu que a fala de Maria trazia a reflexão sobre os avanços da ciência e da tecnologia e a serviço de quem estaria este avanço. “Não se constrói socialismo sem o sentido básico da ética comunista e da solidariedade de classe. Ela retoma a bandeira da utopia possível, da referência comunista, no momento em que se nega esta utopia”, falou Olgamir.
Senado homenageia Maria Prestes

Na tarde de ontem o Senado Federal homenageou mulheres de destaque, entre elas, Maria Prestes e a presidenta Dilma, que receberam o Diploma Mulher Cidadã Bertha Lutz. Ao falar sobre Maria, a presidenta destacou “Maria Prestes, a militante. Ela teve como destino acompanhar um líder das lutas democráticas no Brasil ao longo de uma História difícil. Participou ao seu lado, na condição fundamental, oferecendo apoio político e a criação de seus filhos. A relevância histórica deste livro deve ser uma recomendação para sua leitura”.
Na oportunidade, Maria entregou aos Senadores uma solicitação para a revogação da cassação do mandato de Senador de Luís Carlos Prestes, ocorrido por perseguição política, enquanto muitos corruptos que lesam o povo seguem exercendo mandato e realizando manobras jurídicas para evitar a cassação.

Ontem mesmo o Senador Inácio Arruda (PCdoB-CE) apresentou requerimento para a revogação da cassação do mandato de Senador do “cavaleiro da esperança”.
De Brasília
Sônia Corrêa