Em entrevista, Manuela mostra caminhos para inovação e igualdade

O Jornal do Comércio publicou, em 20/8, entrevista de Manuela d’Ávila (PCdoB), segunda candidata a responder as perguntas do periódico, que traz uma série com os concorrentes desta eleição. Foi mais uma excelente oportunidade para apresentar propostas e mostrar o ponto de vista de Manuela sobre questões essenciais para a cidade. Confira na íntegra aqui ou pelo link:

Jornal do Comércio – Quais são os carros-chefes entre as suas propostas?

Manuela d’Ávila – Temos pelo menos uma proposta bastante importante em cada área. O nosso slogan “Porto Alegre da inovação e da igualdade” reflete o espírito que queremos dar à administração municipal. Estamos querendo dizer, primeiro, que é preciso ter uma gestão moderna e eficiente para melhorar a qualidade de vida das pessoas, para que elas possam andar sem medo nas ruas, para que o trânsito não tire tanto tempo das nossas vidas, para que as nossas escolas públicas não tenham o pior índice de avaliação da região Sul, para que a nossa saúde não seja a 18ª em equipe de Saúde da Família.

JC – Em quais destes eixos de programa a atenção às mulheres está presente?

Manuela – O tema da mulher é transversal. Se observarmos o tema da saúde, temos em Porto Alegre uma incidência de câncer de mama acima da média das capitais. Um índice que deveria fazer com que o SUS fosse preparado para acolher essas mulheres nos postos de saúde, que são insuficientes, ou nas equipes de atendimento básico, nas equipes de atendimento à Saúde da Família. Quando pensamos na educação, na qualidade do ensino fundamental, ou na ausência de 23 mil vagas em creches, estamos pensando nas mulheres. O desemprego em Porto Alegre é superior entre as mulheres. Estamos pensando em mulheres que estão no ambiente de trabalho e que estão com medo da insegurança e que temem pela vida de seus filhos, porque os guardas municipais não estão mais nas escolas. Creche e guarda municipal na porta da escola tem a ver com a questão de gênero.

JC – Em 2008, a senhora apresentou projeto para criar uma Secretaria de Desenvolvimento. Mantém essa ideia?

Manuela – Quando falamos em inovação e igualdade, também estamos trabalhando com o bom momento econômico que o Brasil vive e o não aproveitamento desse momento na potencialidade da nossa cidade. Porto Alegre tem o mesmo salário médio há uma década. Ter o mesmo salário médio de R$ 1.800,00 na década em que o salário-mínimo cresceu 67% em ganho real, significa estagnação relativa dos vencimentos. Isso significa pouco capital humano ficando na cidade. Temos que ter uma Secretaria de Desenvolvimento para fomentar o turismo de eventos, para garantir que a indústria criativa seja atraída com tributações específicas que pretendemos criar como estímulo de ISS (Imposto Sobre Serviços) para os investidores nessa área. Hoje o investidor é tratado como um adversário da prefeitura, ele precisa ser tratado como um aliado. Temos a proposta de criar a Sala do Empreendedor, que seria um balcão único em que aquele que quer investir chega, apresenta o seu projeto, e a prefeitura unifica os seus procedimentos para resolver os problemas.

JC – Qual foi o seu aprendizado desde 2008?

Manuela – Talvez a maior lição que eu tenha individualmente entendido é que aprendemos muito com as vitórias, mas nos inclinamos a aprender mais quando somos derrotados. Perdi a eleição e passei quatro anos estudando sobre a nossa cidade, conhecendo experiências que deram certo, vendo o que a cidade precisa, quais outras cidades brasileiras que conseguiram ter uma coalizão política para fazer reformas estruturantes. Esses quatro anos também serviram para eu me sentir efetivamente pronta para ser a primeira prefeita da nossa cidade.

JC – E quais as suas credenciais para assumir a prefeitura?

Manuela – Primeiro, a minha trajetória, construída em parceria com a população. Segundo, é o conhecimento que tenho da nossa cidade, justamente por eu não ter nenhum padrinho político, nenhuma máquina eleitoral. O único pacto que fiz foi com as pessoas da nossa cidade. Conheço Porto Alegre, os nossos problemas e as pessoas que podem me ajudar na prefeitura a solucioná-los.

JC – Qual é a importância do apoio da senadora Ana Amélia Lemos (PP)?

Manuela – Tenho apoio de partidos políticos; de políticos, como eu, que são de uma nova safra, que estão, nas duas últimas décadas, conquistando os seus espaços, como o vereador (Nelcir) Tessaro (PSD), o deputado Danrlei (de Deus, PSD), o deputado (hoje secretário estadual) Beto (Albuquerque, PSB), o vice-governador do Estado (Beto Grill, PSB) e a senadora Ana Amélia, que, para meu orgulho, anunciou a sua licença do PP para poder se dedicar à minha campanha. Sou muito feliz de receber o apoio dela porque é um apoio entre pessoas que têm um projeto igual. A senadora não é do tipo que apadrinha alguém, ela estabelece relações políticas a partir de projeto, e esse projeto é tão forte que ela se licenciou.

JC – Haverá retribuição ao apoio da senadora em 2014?

Manuela – Quando disputei a eleição em 2010 e o deputado Beto retirou a sua candidatura ao governo do Estado, as pessoas diziam que eu tinha recebido em troca o apoio do governador Tarso (Genro, PT). Sempre disse que não fazia esse tipo de acordo, apoiando alguém para receber em troca. Não faço acordo nem a meu favor, como em 2010, nem a favor dos outros, porque a senadora não agiria dessa maneira. Seria um rebaixamento da política e do próprio programa que eu defendo para Porto Alegre.

JC – Qual é o maior problema de Porto Alegre?

Manuela – Nós temos diversos níveis de problemas. Temos apenas 30% de cobertura de equipes de Saúde da Família, temos quatro dos oito pronto-atendimentos que precisamos, e um desses, por exemplo, é o da Vila Cruzeiro. A saúde é, para mim, uma obsessão, porque nós estamos lidando com a fragilidade humana. Outra área é a qualidade do nosso Ensino Fundamental. Porto Alegre, que é a capital de Leonel Brizola, que se orgulhou tanto da educação aqui desenvolvida durante anos, tem hoje uma média abaixo da nacional no Ideb. Terceiro problema é o da segurança. A cada 100 mil mortos, 47 são por homicídio. Temos um índice de furtos de carro muito elevado. A política de segurança e a forma como ela é tratada pela prefeitura é indignante. É preciso garantir o cercamento virtual da cidade. É possível garantir que regiões da cidade tenham equipamentos à prova de disparos, como Canoas já fez. Garantir que os guardas municipais estejam nas nossas escolas, e não na segurança privada, porque o guarda tem uma relação diferente com a comunidade. Além disso, as nossas praças devem ser espaços ocupáveis, e não depósitos de resíduos sólidos.

JC – Aos 31 anos, a juventude ainda é uma de suas prioridades?

Manuela – O País tem 55 milhões de jovens, e a curva está descendendo. Essa é uma média altíssima se comparada com o resto do mundo e com a América Latina. Não há desenvolvimento se não garantirmos a qualificação desses jovens, se não combatermos fortemente as drogas. Existe uma série de políticas que precisam ser feitas. Destaco o tema da educação no Ensino Fundamental porque essa responsabilidade é quase exclusiva do prefeito. Se pensarmos em um ciclo de nove anos, e se combinarmos Educação Infantil e Ensino Fundamental, quase 15 anos, estamos tratando de alguém que entra na juventude de uma maneira absolutamente diferente.

JC – A senhora tem bastante tempo no horário eleitoral, seis minutos. Como vai aproveitá-lo?

Manuela – Me elegi vereadora com cinco segundos disponíveis na TV, me elegi deputada duas vezes, também com menos de 30 segundos. Acho que terei um tempo suficiente. Além disso, caminho e converso com as pessoas durante sete ou oito horas por dia. Acredito que o brasileiro é cada vez mais consciente e que a TV tem um papel importante porque levamos as nossas ideias para um grande conjunto de pessoas ao mesmo tempo. Isso, complementado com a internet, que cada vez é mais acessada, e o corpo a corpo, me trarão a vitória.

JC – A senhora tem dito que a cidade perde muitos investimentos por inexistência de projetos.

Manuela – Me refiro, precisamente, aos projetos de infraestrutura. Porto Alegre não planeja o seu investimento viário e de infraestrutura. A maior prova disso é o fato de que somos a 10ª cidade de 123 que disputaram investimentos para a Copa. Então, me parece que tínhamos poucos projetos para apresentar. Somos a cidade que perdeu a Praça da Juventude do Bom Jesus, que desperdiça investimentos de emendas de deputados federais. O candidato (José Fogaça, PMDB) que foi eleito não é o atual prefeito (José Fortunati, PDT). Temos um conjunto de obras que equivalem a R$ 560 milhões que devem, sim, continuar, e quem disser o contrário é irresponsável. Poderia fazer um discurso defendendo o municipalismo, mas isso não muda nada, não cria crédito pró-infância, não aumenta investimento em novas rotas, não acelera a obra do metrô, não faz estacionamento subterrâneo se encontrar com o BRT (Bus Rapid Transit). Isso se chama planejamento e estoque de obras e organização. Esse é um problema da cidade de algumas gestões.

JC – Quais são os seus projetos para mobilidade urbana?

Manuela – Primeiro, a EPTC teria que retomar o seu papel com um vasto conjunto de ações. Segundo, o estoque de obras, planejamento da cidade e futuras intervenções viárias, continuidade de obras que estão em andamento, e a reengenharia do trânsito. Terceira questão, melhoria do transporte coletivo. Porto Alegre pode dispor de paradas inteligentes e informatizadas, que, além de possuírem a rota dos ônibus, informem o tempo de demora das linhas. Com relação ao Centro da cidade, esse é um projeto que foi interrompido pelo atual prefeito. Fogaça havia sugerido espaços, digamos, barreiras para os ônibus entrarem até as avenidas centrais. É uma proposta que merece adaptações, mas que poderia ser usada. A emissão de gases no Centro é absolutamente insalubre para quem mora, trabalha e circula lá. A retomada do Centro Histórico é a criação de uma forma alternativa para as pessoas chegarem ao Centro com volume menor de ônibus. A valorização da atividade do comércio no Centro, para uma cidade que quer ser a capital de turismo de eventos do Mercosul, precisa ser feita, e ocorre também com espaço para as pessoas caminharem.

JC – E com relação aos passeios públicos e às edificações abandonadas?

Manuela – A proposta para habitação passa, primeiro, pela ocupação dos imóveis abandonados. É um projeto de ocupação do espaço público e, portanto, de segurança urbana, porque os vazios urbanos geram insegurança. Temos um déficit de 53 mil casas inscritas no Minha Casa, Minha Vida. Precisamos também pactuar com os porto-alegrenses que algumas calçadas sejam cuidadas pela prefeitura. É importante também fazer interconexão entre os modais, incluindo bicicleta, ônibus, BRT, metrô, mas também o ser humano, gente andando na rua, e isso é política de segurança pública.

Fonte: Jornal do Comércio