Palestra sobre AVC na Câmara Municipal de Campinas

O vereador Sérgio Benassi (PCdoB) abre a primeira parte da sessão da Câmara Municipal, segunda-feira (12), às 17h, para a palestra da neurologista Cinthia Herrera, que tratará da epidemia de AVC no mundo. Campinas tem 10 leitos especializados para tratar 3 mil casos/ano. Cerca de 500 campineiros morrem e outros 2.500 ficam com sequelas. O Governo Federal pretende investir mais de R$ 430 milhões nos próximos dois anos na criação de mais vagas no SUS em todo o País e em medicamentos.

Uma em cada 6 pessoas sofre AVC no planeta. Dia 29 de outubro celebrou-se o Dia Mundial de Combate ao AVC (Acidente Vascular Cerebral), popularmente conhecido como derrame, que é a primeira causa de mortalidade no Brasil e a terceira no mundo. Em Campinas, ocorrem 494 óbitos por ano e cerca de 2500 pessoas passam a viver com sequelas. Estes dados foram divulgados durante um evento realizado na Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp (FCM) para jornalistas e transmitido pela Internet, denominado Mídia Desk.

Durante evento na FCM realizado há duas semanas, especialistas de diversas áreas como neurologia, psicologia, enfermagem, fonoaudiologia e fisioterapia deram pareceres sobre causas e tratamentos deste mal que atinge 100 mil brasileiros por ano, cerca de 3 mil campineiros anualmente e que está engatinhando no que diz respeito a políticas públicas e informação, tanto que, segundo dados dos especialistas, 70% dos sobrevivente não voltam ao trabalho.

Mas, em Campinas, uma iniciativa começa a acender uma luz nas trevas do atendimento especializado. Uma equipe multidisciplinar de atenção ao AVC e Infarto, chamada de Unidade de Referência Vascular Aguda, foi formada no Hospital Ouro Verde em julho deste ano e conta com 10 leitos de tratamento intensivo – com projeto de aumentar para 20 – e um protocolo de atendimento, que envolve treinamento de equipes de resgate e esclarecimento da população e pretende salvar vidas e evitar sequelas. “Tempo é fundamental no atendimento”, afirma a neurologista que coordena a Unidade, Cynthia Herrera. Ela propugna a criação de campanhas informativas e políticas públicas que criem uma cultura da presença de AVC na sociedade, imposta pelo modelo de vida das cidades. “Hoje temos já temos uma cultura de priorizar o paciente com infarto, que é mesmo problema, só que no cérebro”, avalia.

Por exemplo, é preciso que as pessoas saibam que 15% dos casos de AVC ocorrem com pacientes com diabetes e que outros fatores, como hipertensão, são perigosos. Segundo o neurologista Wagner Avelar, o AVC nem deveria se chamar acidente, porque isso pressupõe uma fatalidade imprevista. “ Não é acidente porque é um mal anunciado pela vida sedentária. Se controlarmos todos os fatores de risco, previne-se 90% da possibilidade de ter AVC”, explica. Os especialistas relatam que durante a vida a pessoa pode ter micros derrames sem se dar conta e que há registro que eles podem levar a demência na velhice. Muitas vezes apenas um verificação da pressão arterial pode prevenir problemas futuros. "A pressão arterial de 14 por 9 na juventude aumenta o risco de demência na terceira idade em 8 vezes", afirma Avelar.

Ação correta evita sequelas

O tempo no atendimento de um paciente com AVC é fundamental para manutenção da vida e prevenção contra sequelas. Hoje há medicamentos anticoagulantes, que se forem ministrados nas primeiras horas podem evitar problemas que muitas vezes tem que se conviver pelo resto da vida. Isto porque a coagulação do sangue no cérebro pode prejudicar de maneira irreversível áreas relacionadas a locomoção, fala etc.

A fisioterapeuta Sara Almeida, doutoranda da Unicamp, lida com a reabilitação de pacientes que sofreram AVC e afirma que uma ação correta e coordenada da equipe multidisciplinar num centro de atendimento especializado pode evitar além da morte, graves danos ao paciente e facilitar sua reabilitação e ressocialização. “Um dos trabalhos do fisioterapeuta é de manter a mobilidade para evitar escara (lesão da pele por pressão do próprio corpo) e trabalhar com a respiração para não acumular secreção no pulmão”, destaca. Outro profissional importante na fase aguda do AVC é o fonoaudiólogo, que pode prevenir pneumonia por aspiração e combater a disfagia, que é a dificuldade em comer, que acomete cerca de 70% dos paciente. "A aspiração atinge de 30% a 40% dos pacientes e pode ser reduzida para 1% a 5% com a presença de fono na fase aguda", afirma a fonoaudióloga, Mariana Bahia, que participou do Midia Desk.

Uma equipe multidisciplinar completa de atendimento ao AVC deve com neurologista, cardiologista, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, nutricionista, terapeuta ocupacional, enfermeiros, psicólogo e assistente social.

Sintomas

Um dos esforços das equipes especializadas em AVC é obter o diagnóstico o mais rápido possível. Ele é confirmado pela tomografia do crânio que é indicada a partir de certos sintomas identificados pelo médico. Mas, algumas vezes, as pessoas estão de frente para um caso e não sabem como identifica-lo e tomam medidas equivocadas, como ir se deitar e dormir aos invés de correr para o Pronto Socorro.

Os sintomas gerais são:
– Dificuldade súbita de falar e compreender os outros.
– Ficar fraco de um lado do corpo e a boca ficar torta
– Dor de cabeça súbita
– Formigamento de um lado do corpo
– Visão dupla
– Dificuldade para engolir
– Náuseas e desequilíbrio.

Como identificar um AVC

Se houver suspeita de AVC, o melhor é ligar imediatamente para o número 192 (SAMU). Mas, a própria pessoa ou o socorrista pode relatar ao médico os sintomas e chamar a atenção para a possibilidade do Acidente Vascular Cerebral, o que pode acelerar a decisão de pedir uma tomografia, tomar medidas contra a fibrilação atrial ou ministrar o anticoagulante.

Para identificar alguns sintomas pode pedir ao doente que tente falar para ver se há dificuldade na articulação das palavras; para levantar os braços, para identificar se há fraqueza; peça para sorrir, para ver se a boca fica torta; diga algumas coisas e peça para ele repetir, para verificar se seu entendimento está afetado.

Experiências no mundo

Durante o Mídia Desk, na FCM da Unicamp, os palestrantes contaram de suas experiências em hospitais especializados em AVC fora do País.

Cynthia Herrera acredita ser possível montar outras unidades intensivas de tratamento ao AVC pela cidade, utilizando técnicas já utilizadas pelo mundo. Ela fez um aperfeiçoamento no Hospital de Calgary, no Canadá, que tem características similares a Campinas em dimensões, mas seus habitantes, como em todo aquele País, tem média etária bem mais elevada e a expectativa de vida está acima dos 80 anos. Isto exigiu a criação de uma rede de cuidado ao paciente com AVC muito mais eficiente.

Primeiro, as equipes de socorro sabem que tempo no atendimento é crucial, então sabem identificar o AVC e levam para o hospital certo. Segundo, os hospitais estão em rede e há uma central de neurorologistas que atende a outros médicos, fazendo diagnósticos à distância por meio da telemedicina, ou seja, transmissão via internet do local onde está o paciente e envio on line da tomografia computadorizada.

O neurologista Wagner Avelar fez especialização em AVC no Hospital Vall d’Hebron, em Barcelona, Espanha, por alguns meses e explicou que apesar de ter uma equipe pequena, com apenas 5 médicos, havia atendimento 24 horas, por meio da telemedicina.
Herrera avalia que este tipo de ação pode ser realizada em Campinas, mas é necessário um projeto que crie unidades de atendimento intensivo ao AVC, como abertura de leitos e integre a ação. O grupo que funciona no Hospital Ouro Verde foi criado com verba do Ministério da Saúde.

Segundo informações do Governo Federal, ano passado foram realizadas 179.185 internações por AVC (isquêmico e hemorrágico), que custaram R$ 197,9 milhões para o Sistema Único de Saúde (SUS). Para ampliar a assistência a vítimas de Acidente Vascular Cerebral, o Ministério da Saúde investirá R$ 437 milhões no SUS até 2014. Deste total, R$ 370 milhões vão financiar leitos hospitalares. Os outros R$ 96 milhões serão investidos na incorporação e oferta do medicamento antitrombótico. Isso quer dizer que Campinas pode concorrer a parte desta verba para criar novas vagas para atendimento de pacientes de AVC, o que precisa é de política pública.

Gil Caria / Ass. Imprensa Benassi