Argentino vítima da Operação Condor fala pela 1ª vez ao MJDH

Um episódio oculto por mais de três décadas robustece as provas já existentes de que o Rio Grande do Sul participou da Operação Condor, a aliança secreta entre as ditaduras militares do Cone Sul para perseguir opositores políticos além das fronteiras.

Em 12 de setembro de 1978, o argentino Carlos Alfredo Claret foi sequestrado quando morava em Passo Fundo, no Planalto Médio, sob suspeita de ser um militante de esquerda refugiado no Brasil.

Claret escapou da repressão ditadura argentina e viveu clandestinamente no Rio Grande do Sul. Em 1977, obteve uma carteira de trabalho e trabalhou como gerente de produtos de uma empresa em Passo Fundo. Ele foi preso um ano depois, em uma operação ostensiva com participação da política política da época.

Após a prisão, ele foi levado para Porto Alegre e lá, na Superintendência da Política Federal, foi torturado e interrogado por agentes brasileiros e argentinos. Em setembro do mesmo ano, o então representante do Brasil do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados, Guy Prim, conheceu Claret e avaliou que ele havia sido vítima de repressão política.

Assim, o argentino ganhou o status de “refugiado político” e saiu do Brasil na condição de “deportado”. Atualmente, ele vive na Suécia como refugiado. O caso de Claret ocorreu dois meses depois que um casal de uruguaios e seus dois filhos foram perseguidos no Rio Grande do Sul.

Na tarde desta segunda-feira (10/12), Claret, hoje com 64 anos, revelou detalhes do sequestro na sede do Movimento de Justiça e Direitos Humanos (MJDH), em Porto Alegre. Contou que foi levado de Passo Fundo à Polícia Federal da Capital, onde sofreu pressões e torturas com choques elétricos, nos pés e nos braços. Queriam que informasse contatos com subversivos, os quais desconhecia.

O caso de Claret junta-se a outros sequestros ocorridos no Estado. Em 1978, foram apanhados os uruguaios Lilian Celiberti e Universindo Díaz, em Porto Alegre. Dois anos depois, foram capturados por agentes da Operação Condor os argentinos Jorge Adur e Lorenzo Ismael Viñas, no cruzamento Paso de los Libres-Uruguaiana. Adur e Lorenzo desapareceram na Argentina, depois de serem torturados e mortos.

De Porto Alegre,
Barbara Paiva, com agências