Depois do “exílio”, Dexter quer saber “como vai seu mundo”

Em destaque na cena musical e há pouco mais de um ano e meio em liberdade definitiva, rapper visita unidades prisionais. Proposta é levar mensagens de perseverança, autoestima e conscientização política e social.


Dexter / foto: divulgação

Destro, direito, esperto, ligeiro e sagaz. Esses são os significados do vocábulo que dá origem ao apelido do rapper Marcos Fernandes de Omena, o Dexter. Há um ano e meio com sua liberdade definitiva, o músico passou 13 anos em cárcere privado.

“Você tem que ser um cara esperto na prisão. Você tem que ser um Dexter, assim como na periferia também, no seu dia a dia.”

Em 1997, quando ganhou destaque dentro do cenário hip hop em São Bernardo do Campo, recebeu o convite de uma gravadora. Mas não teve sorte. O empresário que lhe fez o convite foi roubado pelo próprio sócio, o que impossibilitou a gravação do disco. Um ano depois, em 1998, foi preso num assalto.

Ainda na prisão, Dexter idealizou o projeto “Como vai seu mundo?”, desenvolvido dentro do sistema carcerário.

Desde abril do ano passado, quando ganhou liberdade permanente, o rapper visita unidades prisionais em todo o território nacional, levando aos reeducandos mensagens de perseverança, autoestima e conscientização política e social.

Dexter relata os problemas do sistema carcerário brasileiro e de como o hip hop interveio em sua vida: “Uma vez eu li na prisão uma frase de um amigo meu que diz assim: ‘cuidemos das nossas crianças hoje para que não tenhamos que matar contraventores amanhã’. Diz tudo essa frase. A educação é a base, chapa.”

No Carandiru: “Foi foda. O primeiro dia que eu pisei no Pavilhão 9, foi automático lembrar da chacina.”

Dexter foi para a Casa de Detenção sete anos após o massacre que ficou marcado pelo assassinato de 111 detentos. Foi lá, no pavilhão 9, que fundou o grupo que carregava o número de seu xadrez: 509-E.

Atrás das grades, conseguiu ganhar destaque com os discos “Provérbios 13″ e “MMII DC (2002 Depois de Cristo)”, último álbum gravado pelo conjunto. Em seguida, já com carreira solo, gravou "Exilado Sim, Preso Não" (2005) e "Dexter & Convidados" (2009). Ele mesmo afirma que, se não fosse o rap, sua vida não seria a mesma.

“O Hip Hop salvou a minha vida. Hoje estou aqui trocando ideia com você por conta do hip hop, ele me orientou. O Hip Hop foi um pai que eu não tive.”

Faculdade do Crime. Esse é o termo que Dexter utiliza para designar o sistema prisional. Ele cita o exemplo das pessoas que estão no cárcere por terem cometido pequenos delitos e que passam a conviver com detentos “formados no crime”.

“Então você acha que ele vai sair como de lá? Ele vai sair formado também.”

Além de o presídio não recuperar ninguém, Dexter salienta que a pessoa se torna alvo de preconceito a vida toda. Ao procurar um emprego, por exemplo, qualquer firma pede o atestado de antecedente criminal.

“Ali a chance dele reduziu 99% de não ter essa vaga de emprego.”

Passado os 13 anos privado de sua liberdade, hoje Dexter volta aos presídios para desenvolver o Projeto “Como vai seu mundo?”, que pretende levar uma outra dinâmica, através da cultura e da arte, para o sistema prisional

“É um projeto que tem a tendência de levar uma perspectiva diferenciada para as pessoas que se encontram na cadeia. Através de oficinas de teatro, música, dança, fotografia, rádio, enfim, a gente joga tudo isso pra que o indivíduo que está do outro lado possa entender que existem outras coisas pra fazer, e não só o crime. Essa é a ideia. Eu não sou a favor do crime, sou a favor do ser humano, da vida, não to aqui defendendo bandido, eu to aqui falando de seres humanos.”

Dexter cumpriu pena por assalto a mão armada.

Fonte: Radioagência NP