EUA: John Kerry visita Israel e Palestina para negociações 

O chefe da diplomacia estadunidense, no cargo de secretário de Estado, John Kerry esteve em Jerusalém nesta segunda-feira (8) para um encontro com o primeiro-ministro da Autoridade Palestina Salam Fayyad e, depois, com o presidente de Israel, Shimon Peres, em sua segunda viagem à região em duas semanas. 

John Kerry e Benjamin Netanyahu

Kerry havia acompanhado o presidente Barack Obama na viagem que fez como a sua primeira visita oficial a Israel e à Palestina, há duas semanas. A missão é supostamente a retomada dos diálogos entre palestinos e israelenses, em negociações que estão num impasse ao menos desde 2010.

Depois de chegar a Israel neste domingo (7), Kerry foi direto para Ramallah, na Cisjordânia, onde conversou por 1h30 com o presidente palestino Mahmoud Abbas, no que um oficial do Departamento de Estado chamou de “uma reunião construtiva”.

Na manhã desta segunda, Kerry encontrou-se com oficiais israelenses numa cerimônia que marcou o Dia da Memória do Holocausto, e deve encontrar-se também com Fayyad no consulado estadunidense situado em Jerusalém ocidental, no fim da tarde.

Nesta terça-feira (9), Kerry deve encontrar-se com o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu para uma reunião antes de o secretário partir para o Reino Unido.

Durante o terceiro encontro em menos de um mês entre Kerry e Abbas, ambos focaram no desenvolvimento econômico palestino em uma reunião de 20 minutos com oficiais de ambos os países.

Depois, em uma reunião privada, ambos “concordaram em continuar trabalhando em conjunto para determinar o melhor caminho adiante”, com Kerry insistindo sobre manter os detalhes sob o pano “para continuar caminhando adiante, em uma direção positiva”.

Abbas disse que a libertação de prisioneiros palestinos em cárceres israelenses é de “alta prioridade” para retomar as conversações de paz, segundo seu porta-voz Nabil Abu Rudeina.

O presidente tem afirmado repetidamente que não haverá retorno às negociações sem um congelamento na construção de assentamentos israelenses em terras palestinas, mas também disse que suspenderá por dois meses medidas unilaterais que buscam reconhecimento internacional de um Estado da Palestina, “para dar uma chance” aos esforços mediados pelos EUA.

Abbas também disse desejar que Netanyahu apresente um mapa das fronteiras para um future Estado palestino antes da retomada das conversações.

“Qualquer retomada de diálogos exige que Netanyahu concorde com as fronteiras de 1967”, Nimr Hammad (seu conselheiro político) disse à AFP na semana passada.

Netanyahu já afirmou em diversas ocasiões que não aceita um retorno às fronteiras de 1967 (ano da guerra que mais marcou o expansionismo ilegal de Israel para territórios árabes, incluindo a Cisjordânia palestina), e nesta segunda um alto oficial do governo israelense disse ao jornal Ma’ariv que apresentar um mapa está fora de questão.

“Seria insano apresentar tal mapa. Com efeito, isso significa desistir do nosso recurso mais importante, sem que os palestinos tenham se comprometido com qualquer coisa nem o reconhecimento de Israel como um Estado judeu quanto com aspectos securitários”, ele disse.

Por outro lado, Israel nunca mostrou comprometimento com as negociações e acordos alcançados com os Palestinos (incluindo os Acordos de Oslo da década de 1990, amplamente acatado pelos palestinos mas ignorados pelo governo israelense), e o governo atual, recentemente composto, prevê a manutenção das construções ilegais em territórios palestinos (através do financiamento governamental), entre outras políticas arbitrárias e opressivas contra palestinos.

Na Turquia, antes de partir para Israel, Kerry disse ver em Ankara um importante parceiro para as negociações, mas a ministra da Justiça Tzipi Livni, recentemente nomeada pelo governo israelense como líder das negociações, reduziu a ideia de um envolvimento imediato turco dizendo que “é interessante, mas pode levar tempo”.

O chefe da diplomacia estadunidense também pediu que Israel e a Turquia finalizassem o processo de normalização das suas relações diplomáticas, duas semanas depois de Israel ter pedido desculpas formais pelo ataque realizado contra um navio turco que levava ajuda humanitária a Gaza, em 2010, quando cidadãos turcos foram mortos.

Em 23 de março, um dia depois do fim da vista de Obama, Kerry começou a sua campanha diplomática entre Israel e a Cisjordânia. Como resultado das conversas com Netanyahu, o primeiro-ministro anunciou, por exemplo, a retomada do envio dos impostos coletados por Israel em nome da Autoridade Palestina (AP), que tinham sido congelados como medida “punitiva” depois de a AP ter pedido o reconhecimento internacional na ONU em novembro de 2012.

Assim como a visita de Obama, a presença de Kerry não tem sido recebida com otimismo pelas organizações e movimentos palestinos que já perderam a confiança em um compromisso dos EUA com uma solução justa para o conflito.

Entretanto, a AP declarou empenhar-se por “dar uma chance” às tentativas e propostas estadunidenses, como uma forma de demonstrar boa vontade, apesar de continuar sendo denunciada a completa falta de compromisso de Israel com os acordos e resoluções aprovadas na ONU com relação aos direitos do povo palestino.

Com Ma'an,
da redação do Vermelho