Em homenagem ao seu centenário, legado de Pedro Pomar é exaltado

A Câmara Municipal de São Paulo recebeu na noite desta segunda-feira (20), uma emocionante sessão solene para marcar o centenário do dirigente histórico do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), Pedro Pomar – covardemente assassinado pelo Comando do Exército na Chacina da Lapa, em 1976. Familiares de Ângelo Arroyo e João Amazonas também estiveram presentes na homenagem.

Família Pomar

Dirigentes que militaram com Pomar foram à tribuna para anunciar o papel do dirigente na defesa da democracia e do povo brasileiro. Suas características pessoais, seu jeito de debater, convencer, coesionar a militância, sua abnegação e dedicação ao marxismo-leninismo e, principalmente, suas ideias fortificantes e construtoras do trabalho comunista brasileiro foram lembradas e resguardadas.

Pomar começou a militar desde jovem, quando já libertara a sua consciência para as causas coletivas, a defesa da liberdade e da democracia. Sua primeira eleição foi em 1935, quando encabeçou a lista do Partido da Mocidade do Pará. Após 12 anos, recebeu mais de 100 mil votos para deputado federal em São Paulo.

Ideias que venceram

Jonas Villas Boas representou a família de Pomar e disse ter a impressão de que os dirigentes comunistas conheciam mais o pai que ele. “Eu era jovem, mas sempre participava de reuniões nos aparelhos do partido”, rememorou.

“É bom lembrar de toda essa história para que a nossa juventude tome conhecimento do que foi a luta das pessoas que comungavam as suas ideias e morreram por um ideal. Um ideal que se a gente tivesse sempre com a vida, seria melhor”, expressou Jonas.

O secretário nacional de Justiça, Paulo Abrão, acentuou o caráter democrático e estratégico da memória. “A ditadura militar brasileira, quando exterminou os seus opositores, teve como proposta fundamental não destruir pessoas, mas queria acabar com uma ideia, um pensamento, um rumo político, uma opção política, porque ela sabia que uma ideia é capaz de transformar as pessoas.”

“Todos nós sabemos que eles foram derrotados e continuarão sendo, a cada vez que nós reafirmarmos e mantivermos a nossa decisão e disposição de exercitar a nossa memória”, manifestou Abrão.

Fortalecimento decisivo do Partido

O presidente Renato Rabelo relembrou que o diálogo entre a Ação Popular (AP) e o PCdoB começou com o texto intitulado “A Proposta da AP”, publicado por Pomar – então redator-chefe do jornal A Classe Operária. “Era o início de um diálogo histórico”, contou Renato, que culminaria na integração da AP às fileiras do PCdoB.

Renato ressaltou o papel de Pedro Pomar, Maurício Grabois, João Amazonas e outros destacados dirigentes na elaboração da teoria marxista-leninista no Brasil, bem como a contribuição desses dirigentes na prática política dos comunistas.

“Eles lideraram um processo de debate interno, o mais importante do movimento comunista brasileiro. Pomar foi um dos signatários da Carta dos Cem e ousou levantar bem alto a bandeira da ideologia marxista e da defesa da linha revolucionária do Partido Comunista do Brasil”, enalteceu Rabelo.

A defesa do marxismo continuou no 5º Congresso do Partido, em que estava em debate entre os comunistas brasileiros duas orientações políticas. Pedro Pomar participou dos debates e seu primeiro texto foi a “Análise marxista ou apologia ao capitalismo”, em que demonstrava o esforço para convencer o conjunto da militância partidária. “Apesar das diversas limitações, confirmo que na luta franca de opiniões, todos nós nos esforçaremos por encontrar as soluções que sirvam à nossa grande causa”, escreveu Pomar.

Para José Luiz Del Roio, historiador e membro do Instituto Astrojildo Pereira, o contexto internacional era nebuloso. “Esses comunistas tiveram que combater não só o problema de terra, desse imenso país, mas também as dificuldades do movimento comunista internacional. Tinham problemas internacionais seríssimos, tinha problema da infiltração de uma nova concepção, a partir do Partido Comunista dos Estados Unidos daquela época, [dizia] que não era mais necessário o partido comunista, [pra eles] o imperialismo não existia mais.”

Características de Pedro Pomar

Após o forum máximo, a 6º Conferência do PCdoB também contou com a participação ativa de Pomar para reorganizar o partido. Nessa conferência, foi eleito para o Comitê Central e como redator-chefe da A Classe Operária. “Pomar era ao mesmo tempo capaz na direção prática e erudito na reformulação política, conhecedor profundo da teoria marxista e dedicado estudioso da realidade brasileira”, exaltou o presidente nacional do PCdoB.

Pedro Pomar chegou a ficar dois anos na União Soviética para estudar. Segundo Aldo Arantes, que militou com o paraense, ele “tinha uma formação sólida, tinha características muito interessantes, era sério, preparado, sabia dialogar, procurava convencer sempre”.

Haroldo Lima, outro dirigente que chegou a atuar com Pomar, no grande comício do Pacaembu, que recebeu o discurso de Luiz Carlos Prestes.

“[Ele] Nunca ficou em cima do muro e, ao mesmo tempo, nunca trabalhou contra o partido. Morreu sem poder ver o fim da ditadura, sem ver a conquista da tão sonhada democracia, morreu sem poder acabar o debate que tinha começado sobre a Guerrilha do Araguaia”, falou Haroldo.

O vereador e presidente estadual do PCdoB, Orlando Silva, encerrou a atividade explanando a sua honra de presidir a sessão. “Pedro Pomar ajudou a construir a história de nosso país. Ele está presente na eleição do primeiro presidente operário, na primeira presidente mulher e assim nós renovamos o nosso compromisso de seguir conquistando mais direitos para o nosso povo”.

Lançamento do livro Pedro Pomar- Ideias e Batalhas

Após a sessão solene foi lançado o livro de autoria do historiador, Osvaldo Bertolino, Pedro Pomar Ideias e Batalhas. O livro da editora Anita Garibaldi conta a biografia e a trajetória política de Pedro Pomar, com a participação de pessoas que conheciam Pomar de perto, como a viúva de João Amazonas, Edíria Carneiro.

Estavam presentes também na mesa o presidente da Fundação Maurício Grabois, Adalberto Monteiro, o vice-presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil, Nivaldo Santana, o deputado estadual e vice-presidente municipal do PCdoB, Alcides Amazonas, deputada estadual de Santa Catarina, Angela Albino, entre diversos membros do Comitê Central do PCdoB.

De São Paulo,
Ana Flávia Marx