Candidato governista desiste de concorrer à eleição no Chile

A corrida eleitoral chilena ganhou novos ares de incerteza, com o anúncio de que o governista Pablo Longueira renunciou à sua candidatura presidencial, o que deixa a direita momentaneamente sem um nome, a exatos quatro meses do primeiro turno – que ocorrerá no próximo dia 17 de novembro.

Por Victor Farinelli*, no Opera Mundi

Pablo Longueira - Chile - Agência Efe

Após vencer as primárias da Aliança (coalizão governista), Longueira viajou para Osorno (sua cidade natal, no sul do país), afirmando que iria descansar por duas semanas antes de retomar a campanha para o primeiro turno eleitoral. A coletiva realizada na tarde da última quarta-feira (17) pela UDI (União Democrata Independente, seu partido), que deveria ser a do retorno das férias, mudou de cenário quando os filhos do candidato surgiram no palco e anunciaram que ele abandonou a disputa pela presidência devido a um quadro de depressão diagnosticado pelos médicos da família.

A notícia caiu como uma bomba sobre o governismo chileno, já que, faltando pouco tempo para o primeiro turno, o cenário eleitoral já era claramente favorável à ex-presidenta Michelle Bachelet, que conseguiu 53% dos votos nas primárias do último dia 30 de junho, contra 14% de Longueira.

A notícia gerou reações das mais diversas. O presidente chileno, Sebastián Piñera, afirmou que “não é fácil para um homem com a vocação de Pablo Longueira tomar esse tipo de decisão, mas se a tomou, tenho certeza de que foi pensando no bem do Chile e no da Aliança”. O mandatário também pediu ao seu conglomerado político que a busca pelo substituto seja a mais cordial possível. “Não é tempo de mesquinharias nem de divisões, pelo contrário, o que precisamos agora é de unidade, grandeza e generosidade. Que saibamos atuar como o país espera que façamos”.

Bachelet também se manifestou sobre o ocorrido com o candidato da direita: “a notícia me surpreendeu muito e desejo à família de Pablo Longueira a força necessária para superar logo este momento doloroso que está vivendo”.

Oficialismo dividido

Após a vitória de Longueira nas primárias, ficou evidenciada a tensa relação entre os dois partidos da coalizão governista: a UDI, de Longueira, e a RN (Renovação Nacional), a qual pertence o presidente Sebastián Piñera.

O anúncio das listas de candidatos para o legislativo, na semana passada, foi um exemplo disso, já que a RN lançou Andrés Allamand como candidato a senador pela Região Metropolitana de Santiago, no mesmo distrito onde a UDI esperava ganhar tranquilamente com o ex-prefeito da capital, Pablo Zalaquett.

Segundo Gonzalo Müller, cientista político e professor da UDD (Universidade do Desenvolvimento, entidade símbolo dos intelectuais de direita do Chile), “esse episódio demonstrou que a Aliança está dividida, mas não impede que se recupere a unidade na direita. Talvez a divisão mais importante seja a dos que defendem a coesão dentro do setor e os que pretendem forçar uma divisão, por motivos pessoais”.

A Lei de Primárias do Chile prevê que, caso um candidato vencedor das primárias desista da sua candidatura, esta deixa de ter qualquer efeito e os partidos ficam livres para tomar a determinação que quiserem.

A UDI marcou uma reunião para decidir o nome com que o partido pretende substituir Longueira. Especula-se que a favorita é a atual ministra do Trabalho, Evelyn Matthei, pelo fato de que o partido registrou o domínio de internet “Matthei2014.cl” na manhã desta mesma quarta-feira


Não se descarta, porém, que o partido possa retomar a candidatura de Laurence Golborne, ex-ministro de Minas e Energia, que foi um dos protagonistas do resgate dos 33 mineiros, em outubro de 2010. Golborne foi o candidato da UDI nas primárias governistas até o final de abril, quando um escândalo por uma suposta conta secreta sua nas Ilhas Virgens o fez deixar a disputa, sendo substituído por Pablo Longueira.

Porém, na RN a tendência é que se defenda a ideia de que, sem Longueira, o candidato natural da coalizão governista é Andrés Allamand, que foi o segundo colocado nas primárias.

O professor Gonzalo Müller vê um clima pouco propício para que os partidos cheguem a um acordo sobre o novo presidenciável da Aliança, o que poderia terminar inclusive com cada partido lançando seu próprio candidato. “Com a confiança abalada, os presidentes dos partidos precisam ter sensibilidade para alcançar um consenso e evitar o cenário com a direita dividida entre dois candidatos, pois isso facilitaria ainda mais o caminho para Michelle Bachelet”.

Victor Farinelli é correspondente do Opera Mundi no Chile