Michelle Bachelet, ante um Chile diferente

Depois das eleições primárias realizadas em junho, a ex-mandatária chilena Michelle Bachelet (2006-2010) consolidou-se como a candidata favorita às eleições presidenciais de novembro, segundo evidenciaram as últimas pesquisas.

Por Enrique Torres*, na Prensa Latina

Michelle Bachelet

Bachelet saiu à frente na competição interna do pacto opositor Nova Maioria (antiga Concertação), rebaixando com ampla vantagem seus concorrentes Claudio Orrego, da Democracia Cristã, José Antonio Gómez, do Partido Radical Social-democrata e Andrés Velasco, independente.

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O que se tornou como tsunami eleitoral, com mais de 73% dos votos, a ex-presidenta ganhou desse bloco, para fazer frente ao então ganhador das primárias da aliança de direita, Pablo Longuera, e aspirantes de outros partidos e independentes que competirão de maneira direta para chegar ao Palácio La Moneda.

No entanto, Longuera, em uma decisão de última hora, renunciou à candidatura presidencial, abatido por um quadro depressivo, decisão que desatou um terremoto político nos partidos governamentais, em procura de quem será seu ou seus concorrentes nas próximas eleições.

Sem dúvida alguma, a campanha de Bachelet, com suas propostas, seduziu um majoritário setor do eleitorado que foi às urnas nas primárias e que lhe permitiu ganhar mais de um milhão e 500 mil votos, dos pouco mais de dois milhões que receberam ao todo os aspirantes da oposição.

Do outro lado, os candidatos da aliança de direita, Longuera, pela União Democrata Independente, e Andrés Allamand, de Renovação Nacional, em seu conjunto, mal chegaram a 806 mil votos.

Como assinalou a revista Ponto Final, a disposição de Bachelet na lutar contra a desigualdade, na reformar da educação, saúde e no sistema tributário, acertaram em cheio as demandas de um setor maioritário da população.

Bachelet se postulou pelos partidos Socialista e pela Democracia, também com o respaldo dos comunistas, da Esquerda Cristã e do Movimento Amplo Social.

A expresidenta, de 61 anos, é pediatra e filha da antropóloga Angela Jeria e do general Alberto Bachelet, morto de um infarto seis meses após o golpe de Estado no Chile, em 11 de setembro de 1973, e abatido pelas torturas que sofreu nas mãos de seus subalternos, por opor-se ao regime militar. 

Depois do golpe, Bachelet foi detida junto a sua mãe em centros de reclusão da ditadura de Augusto Pinochet, até que em 1975 ambas são expulsas do país. Depois de quatro anos de exílio na Austrália e Alemanha, retornou em 1979 ao país, onde continuou seus estudos de medicina e se especializou em pediatría. Bachelet ocupou vários cargos públicos na esfera da saúde e estudou a estratégia militar.

Durante o governo de Ricardo Lagos desempenhou-se como ministra da Saúde nos primeiros dois anos dessa administração, também ocupou a secretaria de Defesa, sendo a primeira mulher em ocupar essa cadeira na história da nação.

Em março de 2006 converteu-se também na primeira chilena a assumir a presidência da república, cargo que ocupou até março de 2010, quando entregou a faixa a seu sucessor, Sebastián Piñera.

Em 14 de setembro do mesmo ano foi designada diretora da ONU Mulher, uma agência das Nações Unidas recém criada para defender os direitos das mulheres e meninas no mundo, responsabilidade à que renunciou em março para regressar ao Chile e participar na campanha eleitoral com a intenção de retornar ao La Moneda.

Entre suas propostas programáticas defende a educação pública e gratuita para os cidadãos de baixos rendimentos e uma reforma tributária que permitiria arrecadar cerca de oito mil 200 milhões de dólares, dinheiro que seria destinado para reformar o ensino, com ênfase na qualidade e na gratuidade.

A reforma tributária anunciada por Bachelet inclui aumentar gradualmente de 20% para 25% os impostos às empresas, enquanto o teto dos encargos às pessoas baixaria de 40% a 35%.

*Enrique Torres é correspondente da Prensa Latina no Chile