Pelao Carvallo: A continuidade golpista

15 de agosto de 2013, Assunção do Paraguai. Neste dia e cidade, assumirá a Presidência da República do Paraguai o empresário-banqueiro Horacio Cartes. Presidência que obteve financiando um golpe de estado, uma disputa eleitoral fraudulenta e antes disso, a designação como candidato pelo partido mais poderoso do Paraguai: o partido Colorado.

Por Pelao Carvallo*, especial para o Portal Vermelho

Professores em greve farão ato durante a posse de Cartes

A designação de Horacio Cartes como candidato pelo Partido Colorado teve um custo altíssimo que foi bem recompensado. O partido teve que romper seu regulamento que obrigava a ter 10 anos de militância nele para que alguém pudesse ser designado como candidato presidencial. Cartes pode fazê-lo com apenas um ano de filiação.

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Mais tarde, no massacre de Marina kue, Curuguaty, foi um dos chefes consultados para dar permissão ao golpe parlamentar que se concretizou em 22 de junho 2012. Deu seu amém respaldado pelos milhões que controla.

Posteriormente, ganhou as eleições mais ilegítimas e fraudulentas já registradas na história do Paraguai: ilegítimas por ocorrerem em uma situação de golpe de estado parlamentar, sob um governo ilegítimo surgido da traição, falta de respeito e poder do dinheiro. Um governo subserviente às multinacionais, à soja, aos transgênicos e aos Estados Unidos. Um sistema eleitoral corrupto e manipulado e as eleições em que mais recursos foram investidos para conseguir votos, a tal ponto que pelo menos dois partidos com representação parlamentar, na prática, deixaram de existir pela sucção de votos que sofreram mediante "saques" por parte dos dois principais partidos, o liberal e o colorado.

É assim que, este banqueiro, a partir do qual são tecidas milhares de conjecturas sobre a origem de sua fortuna, todas elas relacionadas à margem da lei, chega à presidência.

O cenário nestes dias de mudança presidencial é de continuidade golpista: o salário dos funcionários estatais atrasou, os agricultores estão sendo expulsos de suas terras pelos promotores e policiais em favor dos proprietários de terras paraguaios e brasileiros, os trabalhadores da educação seguem em greve, reprimidos pela polícia e a justiça que acaba de declarar que a paralisação é "ilegal".

O sinal mais claro de que o sistema de desigualdades que impera no Paraguai não só não mudou, como se aprofundou com o golpe parlamentar de 2012, do qual o presidente que agora assume, Horacio Cartes, foi um ator protagonista, é a situação dos presos e presas políticos do massacre de Marina kue [Curuguaty]. Submetidos a um processo judicial, na fase da audiência preliminar, a juíza responsável, o promotor e um defensor público participante formaram uma quadrilha judicial para assaltar o devido processo e negar qualquer possibilidade defesa aos presos, apesar do evidente absurdo, injustiça e abuso de tudo o que foi realizado pelo Ministério Público, tanto pela investigação, como acusação.

Nada de novo, nada melhor se espera deste novo governo de continuidade golpista. Portanto, tanto os professores em greve, como muitas organizações sociais e políticas irão se manifestar nas ruas contra o governo que assume e contra o que sai.

*Pelao Carvallo é jornalista paraguaio