Rádio Vermelho debate repressão e tortura no Brasil

'Ao analisar o acervo dos interrogatórios na Operação Bandeirante (Oban) e no DOI-CODI de São Paulo identifiquei que esses órgãos eram mais que ferramentas para obter informações, eram instrumentos de poder”, declarou à Rádio Vermelho Mariana Joffily autora do livro ‘No Centro da Engrenagem’, que será lançado na próxima edição do Sábado Resistente, que ocorre no dia 17 de agosto, a partir das 14h, no Memorial da Resistência de São Paulo.

Joanne Mota, da Rádio Vermelho em São Paulo

Mariana Joffily explicou que o Oban e o DOI-CODI se converteram “em um dos produtos mais específicos e marcantes da violência institucional e do regime autoritário. No livro trabalhamos com os interrogatórios preliminares, que eram realizados logo que as pessoas eram detidas, interrogatórios ilegais e sistematicamente realizados sob tortura”.

Na oportunidade ela falou sobre a contribuição que o Prêmio de Pesquisa Memórias Reveladas, instituído em 2009 pelo Arquivo Nacional, joga na divulgação de monografias elaboradas com base nas fontes documentais referentes ao regime civil-militar no Brasil entre os anos de 1964 e 1985. Outra ferramenta importante, apontada pela autora, foi a instituição da Lei de Acesso a Informação, que garante o visita à diferentes acervos da Ditadura Militar.

Ao ser questionada sobre as contribuições da Comissão da Verdade e da Comissão de Anistia, Mariana Joffily destacou que no que se refere à Comissão da Verdade poderá desempenhar uma tarefa de grande relevância histórica e política se ela conseguir, a despeito dos problemas internos, conquistar alguns pontos.

“O primeiro é questionar a Lei de Anistia; o segundo é, simbolicamente, levar ao banco do réus os agentes do estado que perpetraram ou forma responsáveis pela violência (tortura, assassinatos e desaparecimentos); em terceiro, contribuir para o aumento do conhecimento sobre os crimes daquele período; e por fim, mobilizar a sociedade brasileira no sentido de condenar a tortura não só daquele período, mas também na atualidade”, pontuou Mariana.

Sobre a Comissão de Anistia, Mariana salientou que “assistimos a um belíssimo trabalho. Seja pelo papel simbólico, no sentido da positivização das atividades políticas dos perseguidos durante a Ditadura Militar, seja pelo reconhecimento da atuação do Estado naquele período. Então, o pedido de desculpas, realizado pela Comissão de Anistia, é de grande importância para recolocar e ressignificar as atividades políticas dessas pessoas. Além da indenização financeira, que em alguma medida recupera o que foi tirado brutalmente dessas pessoas”.

Prêmio de Pesquisa Memórias Reveladas

O Prêmio de Pesquisa Memórias Reveladas, instituído em 2009 pelo Arquivo Nacional, tem o objetivo de incentivar a divulgação de monografias elaboradas com base nas fontes documentais referentes ao regime civil-militar no Brasil entre os anos de 1964 e 1985.

Concedido bienalmente desde 2010, o Prêmio é uma iniciativa do Arquivo Nacional no âmbito do Centro de Referências das Lutas Políticas no Brasil (1964-1985) – Memórias Reveladas. A comissão julgadora da primeira edição do prêmio, composta por especialistas brasileiros na área de História e Memória escolheu três trabalhos que foram igualmente classificados como sendo de importância ímpar pela qualidade da pesquisa e contribuição que oferecem para a reflexão sobre o período da ditadura civil-militar no Brasil.

Além do lançamento do livro ‘No Centro da Engrenagem’, de Mariana Joffily, a próxima edição do Sábado Resistente, que ocorre no dia 17 de agosto a partir das 14h, também será palco dos lançamentos de mais dois livros premiados: ‘O Terror Renegado’, de Alessandra Gasparotto, que versa sobre a retratação pública de integrantes de organizações de resistência à ditadura (1970-1975); e ‘Todo o Leme a Bombordo’, de Anderson da Silva Almeida, que trata do tema pouco conhecido do papel dos marinheiros antes, durante e depois do golpe civil-militar até a luta dos mesmos pela Anistia.

Ouça a íntegra da entrevista na Rádio Vermelho: