Trensalão: Grande demais para mídia esconder

A grande e velha imprensa tentou esconder, mas não conseguiu. A denúncia de corrupção que envolve a nata tucana paulista, leia-se principalmente, Geraldo Alckmin e José Serra, é tema de conversas nas redes sociais e também do último protesto realizado hoje (14) nas ruas de São Paulo.

Ato contra o propinoduto tucano - Ana Flávia Marx

Depois de ser apontada como cúmplice dos tucanos por não dar a matéria, a mídia tradicional teve que falar sobre assunto. Contudo, é preciso notar a tática usada nas matérias para manipulação. Veja bem:

Tática 1 – Esconder o nome do PSDB
A manchete que dizia “Alstom pagou US$ 20 milhões a partidos do Brasil, diz justiça da Suiça”, foi publicada no jornal O Estado de S. Paulo (09/08) e virou até piada nas redes sociais por não dizer que era o PSDB, o principal partido envolvido e não “partidos políticos brasileiros” como grafou o jornal da família Mesquita. A matéria foi publicada em diversos outros sites com o mesmo título.
Outra matéria fala em “suposto envolvimento de servidores públicos” ou no máximo de representantes do governo que teriam negociado com a empresa Siemens e Alstom. Que servidores são e qual governo, no caso o de Geraldo Alckmin, os jornais não falam.
Não falam porque não podem comprometer a cúpula do PSDB.

Tática 2 – O crime de corrupção é trocado por cartel
A palavra corrupção não é citada, nem escrita e muito menos falada. A tática aqui empregada é o leitor – telespectador pensar que somente as empresas cometeram algum tipo de crime com o dinheiro público. Porém, quando há a participação do governo, o crime deixa de ser o de cartel e passa a ser peculato, ou seja corrupção.
O governo autorizou as empresas na formação de quadrilha para disputa da licitação e, pior, ganhou muito dinheiro favorecendo as, por isso está envolvido até o pescoço no crime. A relação entre o governo estadual e as empresas para firmar o acordo para vencer a licitação, chama-se formação de quadrilha.
A partir dessa lógica, Alckmin quer enganar o povo paulista apelando ao dizer que “vai processar a Siemens”, mesmo sem romper o contrato. Conta outra, né não?

Tática 3 – A culpa é do PT. É uma manobra política
Ao anunciar a manifestação que ocorreu hoje, na Capital do estado, a jornalista Eliana Cantanhêde (a mesma que foi na convenção do PSDB e disse que o partido tinha uma massa cheirosa) anunciava que “diferente das últimas manifestações, essa tinha a participação de partidos políticos”.
“Eu não estou lá, mas posso dizer sim, que essa é uma manifestação partidária, nitidamente com militantes políticos. Cabe lembrar que o ex-presidente Lula tem como prioridade eleitoral o estado de São Paulo”.
Foi a mesma tática usada por Geraldo Alckmin ao dizer que o CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) estava sendo instrumentalizado pelo PT e, consequentemente, pelo governo Dilma para atacar o seu governo como uma rasteira eleitoral.

Tática 4 – Tentativa de distorção da realidade
O editorial da revista Veja da última semana (14/08 -nº 33) é difícil de ser lido até a última palavra. Na “Carta ao leitor” a manipulação começa com o título “Há indícios, mas não provas”.
Depois da própria empresa Siemens assumir a sua culpa; dos dados da justiça da Suiça e todos os outros documentos que comprovam a existência de corrupção no sistema metroviário e ferroviário estadual, a revista tem a cara de pau de escrever que não há provas.
“A reportagem da Veja mostra que há motivos, sim, para desconfiar da lisura dos negócios da Siemens com os tucanos de São Paulo, mas ressalta que as investigações oficiais não produziram ainda provas ou acusações diretas de improbidade”, distorceu a revista.
E em outro parágrafo continua: “Ao escândalo Siemens no Brasil faltam evidências sólidas”.

Tática 5 – A Siemens “enganou todo mundo”
A tática de construir pontos de recuo em uma batalha não é nova, por isso, a ideia de que o PT também foi enganado pela empresa em contratos de obras nacionais tem o efeito de mea culpa, como se fosse apenas uma falha por parte dos tucanos.
O que a grande e velha mídia não diz é que a participação das empresas citadas começam em 1998, no governo do tucano mor, Fernando Henrique Cardoso.
Além disso, a tática de que “todos erramos” não cabe aqui, porque o esquema de corrupção acontece há 20 anos em São Paulo.

Tática 6 – Da memória fraca do leitor-telespectador
Já alguns anos o caso de corrupção da Alstom nas licitações do Metrô e CPTM foi divulgado por alguns poucos veículos de comunicação. A bancada que não faz parte da base de apoio do governador Alckmin até gritou um pouco, mas devido a correlação de forças na Assembleia Legislativa, parou sem causar nenhum efeito.
O fato é que existem mais 110 inquéritos no Ministério Público Estadual sobre os contratos do metrô; outros 24 sobre o mesmo tema que investiga os contratos da CPTM e 65 inquéritos a partir de contratos julgados irregulares pelo Tribunal de Contas do Estado de São Paulo.
Além disso, não é só do dinheiro do transporte que o PSDB faz o seu caixa de campanha. Outros casos de corrupção envolvendo a cúpula do partido ainda não esfriaram, como o caso de superfaturamento de mochilas para estudantes da rede estadual através da Fundação para o Desenvolvimento para Educação, que teve como articulador José Bernardo Ortiz, presidente da Fundação na época, aliado de primeira hora de Geraldo Alckmin.

Daqui a pouco a grande imprensa vai tentar usar mais uma tática, a da compaixão do brasileiro e colocar toda culpa no colo do finado Mario Covas. Que Deus o tenha!

De São Paulo, Ana Flávia Marx