“Provas” para atacar a Síria são duvidosas e esquivas

Sem apresentar até hoje uma só prova que incrimine o governo sírio pelo suposto uso de armas químicas, os Estados Unidos persistem nas intenções de bombardear o país, ignorando a ONU e a opinião pública.

Por Luis Brizuela Brínguez 

Dias atrás, o ministro das Relações Exteriores da Síria, Walid al-Muallem deu um ultimato aos acusadores internacionais para que apresentassem uma só prova contra o governo do presidente Bashar Al Assad.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin demandou que Washington expusesse perante o Conselho de Segurança da ONU as supostas provas contra a Síria para que fossem analisadas e tomadas as medidas correspondentes pelo único órgão internacional com faculdades para resolver casos como este.

Tanto o presidente Barack Obama como o secretário de Estado John Kerry, entre outras autoridades da administração estadunidense, mantêm suas acusações baseados em hipotéticas "comunicações interceptadas entre funcionários sírios de alto nível" e a suposta observação de "pessoal militar movendo-se por Damasco".

Especialistas estadunidenses, citados por meios de imprensa, reconheceram na semana passada que não têm "evidências decisivas" para demonstrar que as autoridades sírias ordenaram um ataque com gás venenoso em 21 de agosto em Ghouta Oriental, na periferia de Damasco.

Ainda acossada pelo fantasma da guerra do Iraque, iniciada em 2003 sob o pretexto de supostas armas de extermínio em massa que nunca apareceram, a opinião pública estadunidense se mostra em sua maioria contrária a qualquer ataque militar à Síria.

Segundo uma pesquisa conjunta da agência Reuters com o instituto Ipsos, mais de 60 por cento dos estadunidenses creem que Washington deve manter-se à margem do conflito sírio; somente nove por cento pede para Obama intervir.

Embora com quase nenhuma referência na imprensa internacional que de imediato deu ampla repercussão ao hipotético ataque químico nas proximidades de Damasco, grupos opositores armados admitiram recentemente terem sido os responsáveis pelo fato, que tem sido usado para culpar o governo sírio e ameaçá-lo com um ataque militar.

É o que mostra uma reportagem de Dale Gavlak, correspondente da agência Associated Press, que explicou há alguns dias que a morte de civis em Ghouta Oriental se deveu a uma manipulação mal feita de agentes tóxicos em poder de bandos mercenários.

Depois de muitas entrevistas com moradores e combatentes armados da oposição, a repórter revelou que as armas letais foram enviadas pelo chefe dos serviços de inteligência da Arábia Saudita, Bandar Bin Sultán.

Os artefatos, alguns "com uma estrutura de tubo" e outros como "uma enorme garrafa de gás", segundo detalhou o artigo, destinavam-se inicialmente à Frente al-Nusra, derivação da rede terrorista Al Qaeda que opera na Síria.

A facção recebeu, manipulou erroneamente os artefatos e ocorreram as explosões, detalhou.

Não nos disseram que tipo de armas eram, nem como usá-las, queixou-se uma combatente à repórter, que foi identificada como "K".

Não podíamos imaginar que eram armas químicas. Quando o príncipe Bandar (chefe da Inteligência saudita) as entregou, deveria ter feito isso a pessoas que sabem usá-las, queixou-se.

Desde o primeiro momento, o governo da Síria afirmou que não tem nenhuma responsabilidade pelo ataque.

As autoridades detectaram há poucos dias um depósito clandestino próximo da capital com produtos tóxicos e letais nos quais se lê a inscrição “Feito na Arábia Saudita.

A operação para remover o depósito, segundo fontes oficiais, custou a vida de um coronel e afetou cerca de 50 militares, devido às emanações dos gases no local.

O presidente Bashar al-Assad qualificou como um insulto ao senso comum as acusações a seu governo pelo uso dessas armas, enquanto advertiu que a Síria jamais se submeterá aos ditames de qualquer país nem será um títere do Ocidente.

O primeiro-ministro sírio Wael al-Halaki explicou que tais invencionices se devem à resistência mantida pelo povo durante os mais de dois anos de conflito e às evidentes contínuas vitórias do Exército Árabe Sírio contra os bandos mercenários treinados, financiados, equipados e apoiados na mídia pelos mesmos que tentam invadir a Síria, afirmou.

Prensa Latina