Na ONU, premiê israelense tenta minar diplomacia entre Irã e EUA

Um editorial do jornal estadunidense New York Times desta quarta-feira (2) criticou o discurso do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, na Assembleia Geral das Nações Unidas, nesta terça (1º/10), quando o sionista fez ameaças contra o Irã. O jornal acusou Netanyahu de sabotar “esforços diplomáticos” dos Estados Unidos.

Benjamin Netanyahu - ONU

O editorial do New York Times afirma que “poderia ser desastroso” que Netanyahu e seus aliados no Congresso estadunidense fossem tão “cegos pela desconfiança no Irã que extrapolassem a ameaça, bloqueassem o presidente [Barack] Obama na tentativa de aproveitarem de novas aberturas diplomáticas e sabotassem a melhor chance de estabelecer uma nova relação desde a Revolução Iraniana de 1979, que colocou no congelador as relações EUA-Irã”.

Em seus mais de 30 minutos de discurso, Netanyahu acusou o Irã reiteradas vezes de contradição, de apoiar o terrorismo em todo o mundo, e fez diversas referências ao seu programa nuclear, sugerindo uma intenção belicista, embora o próprio Israel possua armas nucleares não declaradas e não verificadas. Netanyahu, na contramão das reivindicações e diálogos diplomáticos, também defendeu a manutenção e extensão das sanções impostas contra o país persa.

Por outro lado, para dar alguma justificativa à “desconfiança” de Netanyahu, o editorial alegou que o Irã escondeu o seu programa nuclear da ONU por 20 anos, ao contrário do que afirmam o presidente Hassan Rohani e o ministro de Relações Exteriores Mohammad Javad Zarif. Além disso, o Irã é signatário do Tratado de Não Proliferação Nuclear e membro da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), já tendo permitido a inspeção de seus laboratórios nucleares diversas vezes. Israel, por outro lado, não ratificou o TNP e não permitiu inspeções das suas instalações.

Ainda assim, o editorial faz a ressalva: O primeiro-ministro israelense, que sugeriu repetidamente que recorreria à opção militar para impedir o Irã de adquirir armas nucleares, ”pareceu ansioso” pela guerra.

Em seu discurso, Netanyahu disse que o seu país “nunca permitirá armas nucleares nas mãos de um regime embusteiro que prometeu repetidamente que iria limpar Israel do mapa”, e que não teria outra opção a não ser “defender-se de tal ameaça”.

Pouco depois do discurso de Netanyahu, o Departamento de Estado dos EUA emitiu uma nota confirmando que não houve qualquer mudança na política da administração, e que o presidente Obama havia sido claro sobre a escolha por um caminho diplomático.

Um antigo consultor do setor de segurança do governo estadunidense disse que o discurso do premiê israelense “foi uma tentativa fracassada de impedir a jogada do presidente iraniano. [Netanyahu] estava tentando apresentar tudo sob uma luz negativa, mas prejudicou a sua própria credibilidade com seu exagero”.

Robert Gibbs, ex-porta-voz da Casa Branca, citado pelo portal Middle East Monitor, disse que “o discurso de Netanyahu foi dirigido ao público israelense. Israel não se ajudou com as declarações [do premiê], inclusive com a de que o mundo esqueceu-se do que aconteceu no século 20”, mais uma vez usando o Holocausto para o seu posicionamento político.

Com informações do Al-Akhbar e da ONU,
Da redação do Vermelho