Sionistas pressionam governo de Israel contra concessões

Importantes atores israelenses têm pressionado o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu contra qualquer concessão aos palestinos, no contexto das negociações retomadas em julho. As conversações já estão em um impasse, embora essa rodada deva durar ainda mais meio ano. Entre os principais temas na agenda estão a definição das fronteiras e o fim da construção de colônias israelenses em territórios palestinos, que têm sido impedidos por ministros e grupos de pressão sionistas em Israel.

Mais uma vez, o ministro da Economia e líder do partido sionista Lar Judeu, Naftali Bennett, ameaçou retirar-se da coalizão do governo, negociada a duras penas no início do ano pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, do partido de centro-direita Likud.

Bennett, que já deu declarações racistas e agressivas contra os palestinos e contra o processo de paz, rechaçou a possibilidade de Netanyahu fazer qualquer concessão para que as negociações avancem.

Em uma declaração à imprensa, nesta quarta-feira (16), o ministro disse: “Até agora, não está claro se as concessões serão dadas ou não, mas se nós sentirmos uma ameaça séria [neste sentido], nós não apenas deixaremos o governo como também lideraremos a batalha contra tais concessões”.

O partido de Bennett não é parte da equipe negociadora israelense, liderada pela ministra da Justiça, Tzipi Livni. “Sem alcançar a paz, fizemos e continuamos fazendo tudo pelo Estado Judeu”, disse o ministro. O reconhecimento de Israel como “Estado judeu” tem sido posto como uma condição por Netanyahu e outros líderes políticos, o que aprofundaria o segregacionismo já verificado em um país de leis exclusivistas contra os não judeus.

Impasse na definição das fronteiras

O jornal israelense Ma’ariv, nesta quinta-feira (17), relatou mais uma vez um impasse nas negociações entre Israel e a Autoridade Palestina. O motivo é a definição das fronteiras, uma das questões estruturais que o governo palestino exigiu que fosse tratada, na busca por um acordo final, e não mais uma medida provisória.

Os dois lados discordam fundamentalmente nessa questão. Os palestinos têm sido obrigados a fazer concessões extremas na questão territorial, e desde o estabelecimento do Estado de Israel, em 1948, aceitaram ficar com apenas 22% da Palestina histórica. Ainda assim, a partir da Guerra dos Seis Dias, em 1967, Israel passou a ocupar e anexar mais territórios árabes, com a construção de colônias e de postos militares avançados.

Além disso, a importante Jerusalém, segundo o consenso internacional, seria dividida entre israelenses e palestinos. Jerusalém Leste é considerada parte da Cisjordânia, mas o governo israelense continua permitindo e financiando obras de construção de colônias judias nessa região, e autoridades como Bennett e o ministro das Finanças, Yair Lapid, entre muitas outras, dão declarações públicas frequentes sobre Jerusalém como uma “capital israelense indivisível”.

Como parte das negociações, a equipe de Israel ofereceu “emprestar” à Autoridade Palestina o Vale do Jordão, na Cisjordânia, por um “período de décadas”. A região é cenário frequente das agressões de tropas israelenses contra agricultores palestinos e de uma disputa acirrada por fontes de água. Os palestinos, de acordo com o Ma’ariv, rejeitam a proposta “indeterminada”.

Além disso, fontes palestinas citadas pela mídia israelense disseram que Israel está determinado a manter o controle sobre suas forças militares nas fronteiras orientais com a Jordânia, recusando-se a repassar a função a uma força internacional. Para o governo palestino, a presença de tropas israelenses em território palestino, após um acordo, é inaceitável.

Construção de colônias

A construção de colônias judias na Cisjordânia aumentou consideravelmente na primeira metade de 2013, e não foi suspensa durante as conversações, retomadas em julho. O que poderia ser um gesto de confiança por parte de Israel manteve-se como uma demonstração a mais da falta de compromisso com uma solução justa para o conflito.

De acordo com a organização israelense Peace Now, que se manifesta contrariamente à ocupação dos territórios palestinos, durante a primeira metade do ano, a construção de colônias na Cisjordânia e, especificamente, em Jerusalém Leste cresceu 70% em comparação com o mesmo período de 2012. Isso representa a construção de 1708 unidades habitacionais.

Segundo o jornal Ha’aretz, Gabi Kadosh, conselheiro do primeiro-ministro em questões de colonização, está formulando um plano para liberar colônias urbanas da obrigação de publicar informes sobre o orçamento das terras a serem comercializadas. O objetivo é reduzir a pressão diplomática resultante da transparência.

Assim, para evitar uma discussão diplomática antes da retomada das negociações entre Israel e a Autoridade Palestina, o premiê Netanyahu coordenou a publicação de orçamentos para mil residências na Cisjordânia e em Jerusalém Leste com o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, que tem se apresentado como o mediador por excelência entre as partes, em um processo que tem apenas o objetivo de manter o status quo.

Ainda às vésperas da retomada das negociações, em julho, o Ministério da Habitação israelense divulgou planos para a construção de cerca de 3.000 unidades habitacionais na região de Jerusalém, dentro da Cisjordânia.

Embora seja um processo agonizante de ocupação e de expulsão de diversos palestinos, através da força ou de mecanismos jurídicos da administração israelense, a colonização se mantém, e os apelos feitos pela liderança e pelo povo palestino para que os EUA e a União Europeia intervenham, pressionando Israel contra a ocupação, ainda não foram respondidos com prática suficiente.

Com agências,
Moara Crivelente, da redação do Vermelho