Abbas rechaça política colonizadora de Israel e faz advertências

A ligação que Israel criou entre a libertação de prisioneiros palestinos e a expansão das colônias judias provavelmente acabará com as negociações de paz, disse o presidente da Autoridade Palestina (AP), Mahmoud Abbas, nesta segunda-feira (5). Durante uma reunião do seu partido, o Fatah (Movimento de Libertação Nacional da Palestina), em Ramallah, na Cisjordânia, o presidente fez referência ao avanço do governo israelense para a construção de 5.000 unidades habitacionais nas colônias.

Palestina - AP Photo

Autoridades palestinas não têm evitado transmitir à mídia a sua profunda frustração com as chamadas “conversações de paz” e com o descompromisso evidente de Israel. Durante a reunião com líderes do partido Fatah, Abbas ressaltou que não tem havido progresso nas negociações e que as tensões podem aumentar no futuro próximo.

Para o presidente palestino, o anúncio do governo de Benjamin Netanyahu sobre a construção de mais 5.000 unidades habitacionais nas colônias que construiu ilegalmente na Cisjordânia e em Jerusalém Leste coincidiu com a libertação do segundo grupo de 26 prisioneiros palestinos, na semana passada, o que é problemático.

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Segundo o jornal israelense Ha’aretz, o anúncio das construções foi uma medida do governo para apaziguar os ânimos dos direitistas, que ficaram raivosos com o processo de libertação. Em agosto, o primeiro grupo entre 104 nomes a serem libertados já saiu da prisão e, como na semana passada, o evento acendeu manifestações enfurecidas e uma cobertura midiática complicada.

Os prisioneiros libertados são palestinos detidos principalmente antes da assinatura dos Acordos de Oslo, em 1993, e alguns chegam a estar detidos há cerca de 30 anos, segundo a mídia israelense, por crimes ligados ao “terrorismo”.

As acusações, entretanto, de acordo com organizações israelenses, palestinas e internacionais, são elaboradas de forma extremamente questionável, e incluem a associação de membros de um grupo a atos de violência cometidos por outros membros. Este é mais um aspecto das “punições coletivas” do governo israelense contra os palestinos.

Abbas ressaltou que a Autoridade Palestina insistirá na libertação dos 104 prisioneiros, que devem poder ir para as suas casas, ao invés de serem deportados, como alguns políticos israelenses reivindicam. Se isso não acontecer, disse o presidente, a AP retomará a sua campanha com ações contra Israel no âmbito da Organização das Nações Unidas.

O presidente palestino questionou ainda a exigência de Israel sobre a manutenção do controle militar sobre o Vale do Jordão (na Cisjordânia), dentro de um acordo “de questões securitárias”. Para Abbas, a questão real é o lucro feito pelas empresas agrícolas de Israel no território palestino. “É uma questão econômica, e não securitária”, disse.

Para a AP, o plano de acordo a ser apresentado pelos Estados Unidos, segundo o anúncio do secretário de Estado John Kerry, em janeiro, deve partir de dois princípios: que seja permanente, e não outro acordo interino; e que inclua um cronograma pré-determinado para a implementação de todas as fases, inclusive as questões centrais, como a definição das fronteiras, por exemplo.

Com Ha'aretz,
Moara Crivelente, da redação do Vermelho