EUA apresentam plano débil na tentativa de convencer palestinos

Em meio à extrema insatisfação dos palestinos com as negociações com Israel, o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, mediador indireto, anunciou um plano econômico de ajuda financeira à Autoridade Palestina. Em visita à Cisjordânia, nesta semana, Kerry encontra um ambiente de tensão e expectativas sobre o caminho seguinte, já que as autoridades palestinas denunciam políticas israelenses inaceitáveis como riscos iminentes ao progresso diplomático.

Por Moara Crivelente, da redação do Vermelho

Kerry e Netanyahu - Foreign Policy

Analistas que acompanham a questão palestina e o desenrolar dos sucessivos processos de paz vêm no plano apresentado por Kerry “outra rua sem saída”. Em artigo desta semana, Omar Shaban, diretor da organização palestina Pal-Think for Strategic Studies, sediada em Gaza, ressalta a tendência cada vez mais estabelecida de impasse e estagnação das negociações.

O ministro das Relações Exteriores, Riad al-Malki havia informado, no início de setembro, que Kerry apresentou um plano para promover o investimento e o crescimento da economia palestina, com um período de três anos detalhado por um documento de 200 páginas.

A chamada Iniciativa Econômica para a Palestina cobre oito setores-chave: construção e habitação (inclusive o financiamento de hipotecas individuais), agricultura, turismo, tecnologias de telecomunicação e informação, energia, água e indústrias leves.

Ficará por avaliar mais essa intervenção política e econômica dos Estados Unidos, ainda que no contexto do Quarteto para o processo de paz, no qual o país é acompanhado pela Organização das Nações Unidas (ONU), pela Rússia e pelo Reino Unido, e cuja eficácia também já foi condenada para inúmeros observadores do processo.

A marginalização da Autoridade Palestina é outra das críticas mais graves contra as medidas e planos apresentados pelo Quarteto. Para Shaban, a não participação das autoridades nacionais na elaboração de tal plano (tornando-as apenas “recipients” do documento) é humilhante, sobretudo porque têm departamentos, ministérios e organizações civis dedicadas à avaliação das necessidades e às propostas para a economia palestina.

Sem pressão sobre Israel

Além disso, “o plano não determinou as facilidades pelas quais Kerry prometeu pressionar o governo israelense. O plano não explicou como alguns dos maiores projetos propostos seriam executados diante da contínua ocupação, colonização e bloqueio imposto sobre Gaza”, lembra Shaban.

A falta de pressão dos Estados Unidos sobre Israel e as práticas que determinam o empobrecimento progressivo da população palestina, para além da sua perda gradual de territórios para a colonização israelense é o principal fator levando analistas e autoridades palestinas à descrença permanente.

A assistência financeira da qual a Autoridade Palestina é mantida dependente tem raiz em uma prática histórica na política internacional, sobretudo no caso dos EUA, com a sua Agência para o Desenvolvimento Internacional (Usaid, na sigla em inglês). Outras agências europeias e a japonesa também atuam na Palestina, com doações pontuais para as estruturas e os serviços prestados à população palestina, à parte da ajuda à Agência das Nações Unidas para Assistência e Trabalhos (UNRWA) para refugiados palestinos no Oriente Médio.

Além disso, Kerry anunciou mais 75 milhões de dólares de ajuda dos EUA para projetos de infraestrutura na Palestina, durante um encontro com o presidente Abbas em Belém, na Cisjordânia, nesta quarta (6). Com o novo número, a cifra da ajuda estadunidense à infraestrutura palestina chega a 100 milhões de dólares. Enquanto isso, Israel segue desenvolvendo e mantendo práticas institucionalizadas que tornam praticamente insustentável uma vida normal e produtiva para os palestinos.

No contexto das conversações, com cerca de 20 rodadas desde a sua retomada, em julho (com a mediação indireta dos EUA), uma autoridade palestina citada pela agência francesa de notícias AFP disse: “as negociações já estão em crise. Durante a sessão da terça (5) à noite, as tensões agudizaram-se dramaticamente porque a delegação israelense insiste na continuidade da construção de colônias. Israel alega que há um acordo para continuar construindo colônias em troca da libertação de prisioneiros, e isso não é verdade.”

Importante também são as exigências israelenses sobre a manutenção de uma presença militar no Vale do Jordão palestino e na fronteira com a Jordânia, o reconhecimento de Israel como Estado judeu (o que oficializaria um regime segregador que marginaliza os palestinos que vivem em Israel).

Além disso, o governo israelense faz alegações sobre “preocupações securitárias” para defender interesses econômicos e colonialistas, de acordo com declarações do presidente palestino Mahmoud Abbas. Neste sentido, além da exigência sobre a presença militar, recusam-se a definir as fronteiras, que os palestinos reivindicam como baseadas nas linhas de 1967, quando Israel passou a ocupar territórios árabes, a partir da Guerra dos Seis Dias.