Chanceler racista e de extrema-direita retorna ao cargo em Israel

Avigdor Lieberman, figura patente da ultra-direita israelense, acaba de ser absolvido das acusações de corrupção que o afastavam do seu cargo de ministro das Relações Exteriores. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que também fazia as vezes de chanceler, terá de receber oficialmente mais um elemento do sionismo agressivo já bastante representado em sua coalizão de governo.

Por Moara Crivelente, da redação do Vermelho

Israel - Jim Hollander/EPA

O anúncio da corte de Jerusalém sobre a absolvição de Lieberman, feito nesta quarta-feira (6), não podia vir em pior hora para as negociações entre israelenses e palestinos (retomadas em julho, mas ainda sem avanços). Embora reintegre o governo oficialmente a partir dessa decisão, o seu partido, Yisrael Beiteinu (Israel é Nosso Lar), está coligado com o de Netanyahu, o Likud (que se classifica como centro-direita), desde 2012.

Leia também:
Diálogo israelense-palestino não avança; EUA anunciam intervenção
Abbas rechaça política colonizadora de Israel e faz advertências
Questão palestina: Governo de Israel expõe divisões fundamentais

As negociações de paz são cada vez mais questionadas, principalmente pela própria Autoridade Palestina. O presidente Mahmoud Abbas e outros membros do Comitê Executivo da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), como Yasser Abed Rabbo, já deram declarações contundentes contra um “processo de paz” que apenas permite a Israel manter e expandir a sua ocupação sobre os territórios palestinos.

Além disso, manifestações populares e de partidos integrantes da OLP (uma frente ampla que só não integra o Hamas e outros dois partidos islâmicos, ainda em diálogos com a organização neste sentido) já tinham se intensificado há mais tempo.

Lierberman é de origem “russa” (como se classifica um grupo específico na sociedade israelense, embora ele seja da Moldávia) e um expoente das declarações ultranacionalistas e racistas da extrema-direita, não apenas contra os palestinos, mas também contra setores do país. Além disso, tem sido alvo de acusações de corrupção durante grande parte da sua carreira política. Mais precisamente, desde 1999, de acordo com a mídia israelense.

O jornal Ha’aretz lembra, entretanto, que ele é a concorrência mais forte a Netanyahu entre a direita. O partido que fundou e lidera, Israel é Nosso Lar, de um “sionismo revisionista” (suposta e paradoxalmente secular, sem advogar pela separação entre Estado e religião, entretanto), alega aceitar a solução de dois Estados para a questão palestina, com diversos “poréns” problemáticos e afirmações agressivas contra os árabe-israelenses. Ele vê esse grupo, 20% dos cidadãos de Israel, como o “inimigo interno”, como já declarou diversas vezes.

Além disso, Lieberman já chegou a contradizer declarações públicas de Netanyahu, como a afirmação que fez na Assembleia Geral das Nações Unidas, em 2010, sobre não ser possível entrar em acordo com os palestinos tão cedo, enquanto outra das tentativas de negociações era ensaiada.

Tensão nas conversações e perspectivas

A reunião desta terça-feira (5) entre as equipes diplomáticas israelense e palestina terminou em desavença e exasperação, segundo fontes presentes, citadas pelo Ha’aretz e pela imprensa palestina.

           Foto: AFP
        
               Chefe da equipe diplomática palestina nas negociações de paz, Saeb Erekat.

Saeb Erekat e Mohammad Stayyeh criticaram o anúncio de Israel sobre a expansão das colônias, com a previsão de construção de mais 5.000 unidades habitacionais, e a ligação feita entre essa medida e a libertação dos prisioneiros palestinos. A mesma advertência foi feita pelo presidente Mahmoud Abbas no dia anterior.

De acordo com as autoridades palestinas, as tentativas israelenses de apresentá-las como cúmplices ou silenciosas face à expansão das colônias é enganadora e completamente falsa.

Nesta quarta-feira (6), Abbas deve expressar o seu descontentamento sobre as negociações ao secretário de Estado norte-americano, John Kerry, durante uma reunião. A falta de progresso diplomático tem sido ressaltada continuamente pelos palestinos, assim como a urgência de um acordo permanente para o fim de um conflito perpetuado pelos diversos “processos de paz” pelos que passou.

Além disso, a absolvição de Lieberman deve fortalecer a direita, segundo o jornalista israelense Carlo Strenger, em artigo do Ha’aretz, referindo-se à ascensão da violência de colonos e extremistas contra os palestinos, seja na Cisjordânia (com ataques a plantações e estruturas palestinas) ou em Jerusalém Leste, sobretudo com a importante mesquita Al-Aqsa (onde os judeus acreditam ter sido um dia o seu templo) como cenário.

Para Strenger, o chanceler israelense “fará o que puder para provar que as suas credenciais de direita são impecáveis, e isso significa que as chances já bastante limitadas do processo de paz para o sucesso, agora, são praticamente nulas”.