Presidente palestino discute processo de paz com judeus e Obama

No contexto da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), que realiza seu debate geral entre chefes de Estado desde esta terça-feira (24), em Nova York, o presidente estadunidense Barak Obama encontrou-se com o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, para discutir as negociações com Israel, retomadas no fim de julho. Na segunda-feira (23), Abbas também pediu o apoio de líderes judeus ao processo de paz, em uma reunião na mesma cidade.

Presidente Mahmoud Abbas e presidente Barack Obama - Reuters

Obama urgiu os membros da ONU a colocarem de lado os “velhos preconceitos” e tomar os “riscos necessários” para ajudar na busca por um acordo de paz entre Israel e os palestinos, de acordo com a agência de notícias palestina Ma’an.

O presidente estadunidense havia dito em seu discurso, na Assembleia Geral, que continua comprometido com a solução do conflito, embora tenha dado ênfase reiterada ao compromisso fundamental com a “segurança” e o reconhecimento de Israel como um Estado judeu.

Estas são duas condições que o governo israelense defende de forma irredutível, ainda que ambas pressuponham concessões extremas que os palestinos não pretendem fazer, como a permissão para a presença de soldados israelenses em território palestino e a possível legitimação da segregação e do racismo no “Estado judeu”.

Apesar de declarar-se comprometido com a solução do conflito, o governo estadunidense ignora violações graves dos direitos humanos e do direito internacional humanitário (com práticas confirmadas, repetidamente, pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU) das quais os palestinos são as maiores vítimas. Entre elas, a restrição do movimento, o deslocamento forçado, a demolição de casas e a destruição de plantações, as detenções arbitrárias e a construção de colônias judias, de forma alastrada, em território palestino.

Além disso, em consonância com o regime israelense, os EUA não aprovaram medidas legítimas elaboradas pelo governo palestino, como o pedido pelo reconhecimento do Estado da Palestina pela Assembleia Geral da ONU (garantido em 2012) e o recurso a outras organizações internacionais (como a Unesco) para o estabelecimento da sua atuação internacional com personalidade jurídica (ou seja, com posição como ator independente, com direitos e responsabilidades).

Ainda assim, no encontro com Abbas, Obama elogiou o presidente palestino por colocar de lado esses esforços, que classificou como “atalhos para a busca pela paz”, e por voltar à mesa de negociações, ainda que os reiterados processos, promovidos pelos EUA há mais de 40 anos, não tenham surtido resultados para a causa palestina.

Obama também elogiou o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu pela libertação de prisioneiros, como parte do acordo pré-negociações. A libertação desses prisioneiros (alguns dos quais estão detidos há cerca de 30 anos), porém, não é classificada pelos palestinos como uma condição para as negociações, mas sim um dever dos israelenses. Esta afirmação já foi feita pelo chefe da equipe palestina para as conversações, Saeb Erekat.

Encontro com a comunidade judia

De acordo com a gência palestina Wafa, Abbas encontrou-se com líderes judeus em Nova York, na segunda-feira (22), quando afirmou que "é hora de estabelecer a paz".

"Temos uma oportunidade real de alcançar uma paz duradoura, justa e abrangente", ele disse, na véspera da abertura dos debates gerais entre os chefes de Estado, na Assembleia Geral das Nações Unidas.

"Podemos conseguir, não se enganem. Ninguém ganha mais com o sucesso na busca por um acordo do que os palestinos, e ninguém perde mais se nós falharmos em alcançar um acordo. O fracasso não é uma opção para nós", continuou.

Abbas afirmou que o processo precisa do apoio dos líderes judeus nos EUA, "para assegurar uma conclusão bem-sucedida para as negociações de paz, para que o Estado da Palestina possa viver lado a lado com o Estado de Israel, em paz e segurança, nas fronteiras de 1967".

"Eu insto o governo israelense a focar na construção da paz, e não na construção de colônias", adicionou. O presidente advertiu para a possibilidade de que as atuais negociações sejam a última oportunidade para a paz na região, através da solução de dois Estados.

Caminho tortuoso para a paz

O presidente Abbas disse, no encontro com Obama, que não tem ilusões “de que a paz será fácil”, mas ressaltou que o esforço é importante, não apenas para os palestinos, mas para toda a região e para o mundo.

As negociações foram retomadas no final de julho, e pressupõe encontros semanais entre as equipes representantes das duas partes. Segundo Obama, as discussões focam em “questões definitivas, como as fronteiras e a segurança, os refugiados [palestinos] e Jerusalém”.

Neste sentido, o presidente Abbas disse que, se Obama estiver mesmo comprometido com a paz, deve levar a sério a reivindicação palestina sobre o reconhecimento das fronteiras de 1967 (como definidas antes do processo de ocupação e expansão sistemática israelense, a partir da Guerra dos Seis Dias, entre sionistas e árabes).

“As colônias israelenses e o recente assassinato de um soldado israelense em Hebron não devem descarrilhar as negociações”, disse Obama, de acordo com um correspondente da agência Ma’an.

Segundo uma nota da Casa Branca, a respeito do encontro entre Obama e Abbas, o presidente estadunidense encorajou o palestino, “assim como fez com o primeiro-ministro Netanyahu, a desenvolver as discussões rapidamente”. E continua: “Temos uma janela de oportunidade com as negociações diretas, e quanto mais rápido eles chegarem às questões centrais, maior será a probabilidade de sucesso”.

O secretário de Estado John Kerry também se encontrou com o presidente Abbas nesta terça (24), após manter uma reunião separada com o diplomata palestino, Saeb Erekat. Kerry insistiu na confidencialidade das negociações, para evitar vazamentos que pudessem prejudicar as chances de um acordo, já que há suspeita e desconfiança nos dois lados.

Os palestinos têm dado declarações curtas à imprensa para demonstrar a sua frustração com a clara falta de compromisso do lado israelense, uma vez que as detenções arbitrárias, as agressões e a construção de colônias se mantêm ainda que em tempos de negociações.

Em encontro com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, Abbas também reafirmou impresses sobre o papel da comunidade internacional para o apoio ao processo de paz, de acordo com uma nota emitida pela secretaria de Ban.

Ambos também ressaltaram “a necessidade vital da união da comunidade internacional no impulso à posição fiscal da Autoridade Palestina”, altamente dependente da doação internacional e dos impostos recolhidos pelo governo israelense, que frequentemente congela o repasse como forma de punição.

A equipe de Kerry, juntamente com o Quarteto para o Oriente Médio (ONU, União Europeia, Estados Unidos e Rússia), estão trabalhando em um plano econômico para atrair US$ 4 bilhões em investimentos privados, para impulsionar a economia palestina com o investimento em tecnologia, construção habitacional e turismo. O projeto, entretanto, mantém a dependência palestina frente à planificação estrangeira, uma vez que as questões estruturais não são resolvidas.

Atualizada às 09h20

Com agências,
Moara Crivelente, da redação do Vermelho