Acordo do G5 + 1 com Irã é a volta da era bipolar

O acordo alcançado em Genebra entre o G5+1 com o Irã sobre o programa nuclear do país persa é para muitos o início de um novo período de bipolaridade no mundo, em que os Estados Unidos não poderão impor seus preceitos, como o fez até pouco tempo atrás, desde o desaparecimento da União Soviética.

Por Patricio Montesinos*, em Cubadebate

No pacto histórico alcançado no domingo (24) passado na Suíça, a Rússia jogou um papel primordial, como também de maneira destacada a China. Estas são as duas grandes potências que conseguiram frear Washington em seu intento de invadir militarmente a Síria, e, ao invés disso, favorecer uma saída pacífica para essa nação árabe.

Na opinião de analistas, essas duas claras vitórias diplomáticas recentes de Moscou e Pequim e, obviamente, de Teerã em Genebra, reabrem a era da bipolaridade que o mundo viveu no século passado, antes do desmoronamento da União Soviética e da comunidade dos Estados socialistas da Europa Oriental na primeira década dos anos 1990.

Os mesmos comentaristas coincidem em que o Irã e a Rússia são sem dúvida alguma os grandes vencedores das negociações do G5+1, assim como o povo norte-americano, farto de que seus regimes e os falcões da guerra alentem invasões e confrontações de rapina.

O governo do presidente russo, Vladimir Putin, demonstrou que é capaz de sentar-se à mesa de conversações com os representantes da administração da Casa Branca, e impedir outro eventual conflito militar planejado pelos Estados Unidos e seus “amigos” europeus da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

Os esforços de Moscou fizeram fracassar os propósitos estadunidenses e de seu velho aliado estratégico, Israel, de mudar pela força o mapa geopolítico do Oriente Médio.

O regime de Tel Aviv é considerado o maior perdedor, ao não conseguir bloquear o acordo sobre o programa nuclear pacifico iraniano assinado na Suíça, apesar dos ingentes esforços que fez nesse sentido.

Israel, o único país que rechaçou o compromisso de Genebra, foi posto à margem inclusive por seu similar encabeçado pelo inquilino da Casa Branca, o mandatário Barack Obama, que se viu obrigado a negociar pela profunda crise que os Estados Unidos padecem e o risco que corre de se lançar em outra aventura militar, e mais ainda contra o poderoso e combativo Irã.

A Europa, representada no diálogo pela França, a Grã Bretanha e a Alemanha, e igualmente engolfada no grave panorama econômico que padece atualmente, não pôde fazer outra coisa senão seguir pelo mesmo caminho de seu regente norte-americano na Otan, e inclinar-se obrigatoriamente para o pacto com Teerã.

O acordo sobre o programa nuclear pacífico nuclear iraniano confirma que os tempos mudaram e que o mundo transita para o fim definitivo da unipolaridade e da hegemonia temporária exercida pelo decadente Império de Washington, e o regresso ao necessário equilíbrio internacional.

*Jornalista espanhol, correspondente do Cubadebate em Madri