Reparação e direito à memória: Mais de 40 mandatos são devolvidos

A Câmara Municipal de São Paulo, que foi o cenário de ataques frontais à democracia, nesta segunda-feira recebeu citações de Ernesto Che Guevara e até um grito de Viva Stalin durante a Sessão Solene. Democracia, justiça, direito à memória, proletariado, foram palavras que ecoaram durante toda a cerimônia.

 
A atividade, segundo o vereador Orlando Silva (PCdoB), permite o reencontro da Casa Legislativa com a história política da cidade de São Paulo e a Câmara faz o seu dever com a restituição dos mandatos cassados.

“O sentido dessa homenagem é primeiro garantir o direito à memória, à história de um país para que as novas gerações possam, referenciando-se nessa história, referenciando nessa memória, cultivar os valores democráticos tão importantes para a história de São Paulo e do nosso país”, pronunciou Orlando.

O vereador ressaltou que a reparação histórica não estava sendo feita só para os comunistas, mas para várias outras agremiações, inclusive aos integralistas. Orlando reafirmou que a perseguição de opinião, muitas vezes não tem bandeira e que a devolução dos mandatos de diversas legendas é um marco para o Parlamento de São Paulo.

O projeto reconheceu com legítima representante a primeira mulher eleita na cidade, Elisa Kauffman Abromovich, que até o início dos trabalhos de devolução dos mandatos, não constava nos registros históricos.

Dois ex-vereadores, Armando Pastrelli e Moacir Longo, eleitos em 1947 e 1964, respectivamente, presidiram a sessão. Pastrelli, que fugiu diversas vezes de São Paulo por causa da repressão, viveu em diferentes cidades, como Londrina, Ponta Grossa e também no estado do Amapá.
“Os patrões não admitiam que os indivíduos pertencessem ao Partido Comunista. Tive dificuldade de encontrar emprego e em São Paulo o clima era de extrema repressão da polícia”, contou Pastrelli, que não pôde tomar posse, sendo impedido de entrar na Câmara logo no seu primeiro dia de mandato.

Moacir Longo reafirmou que a luta pela democracia deve continuar. “A nossa luta pela democracia precisa continuar, o gesto da Câmara é símbolo disso, mas precisamos avançar também na democracia participativa e social.”

Para a vereadora Juliana Cardoso, presidenta da Comissão Municipal de Direitos Humanos, resgatar essa história é muito importante para a nossa democracia, principalmente “porque até pouco tempo essa história não existia”.

A juíza Clarissa Campos Bernardo, do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), disse que o ato assume um caráter inédito no país, pois retrocede ao marco de 1946.

Da Redação, Ana Flávia Marx