2013 marca consolidação da esquerda na América Latina

As eleições na América Latina em 2013 apontam para a continuidade das forças de esquerda. Desde a primeira delas, com a reeleição de Rafael Correa nas presidenciais do Equador, até a última, com o retorno de Michelle Bachelet ao poder no Chile, a configuração política latino-americana segue a tendência dos governos progressistas. O Vermelho fez uma retrospectiva dos principais acontecimentos eleitorais do ano na América Latina:

Por Théa Rodrigues e Vanessa Silva, da redação do Vermelho

Da esquerda para a direita: Nicolás Maduro comemora vitória na Venezuela, Rafael Correa é reeleito no Equador, Michelle Bachelet volta ao poder no Chile e Horácio Cartes toma posse no Paraguai | Montagem: Portal Vermelho


Equador: Correa, o primeiro a completar um mandato no Equador é reeleito

O presidente do Equador, Rafael Correa, venceu as eleições presidenciais realizadas no país no dia 17 de fevereiro, confirmando as pesquisas de intenção de voto e boca de urna. Correa foi reeleito com 57% dos votos válidos, evitando a disputa em segundo turno no país. "Esta revolução ninguém para, estamos fazendo história. Estamos construindo a pátria pequena e a pátria grande. Obrigado por esta confiança, nunca lhes faltaremos, esta vitória é de vocês", disse o presidente assim que a vitória foi anunciada.

A eleição foi vista como um referendo sobre a popularidade do único presidente que completou um mandato no Equador nos últimos 20 anos, em um país repetidamente golpeado por crises econômicas e políticas. A reeleição de Correa ajudou ainda a fortalecer as lideranças socialistas na região andina que, na época, sofria com a ausência de Hugo Chávez, presidente da Venezuela, que estava hospitalizado em Havana por conta de um câncer.

Venezuela: Sem Hugo Chávez, chavismo continua vencendo

Com a morte do presidente Hugo Chávez, que foi reeleito em dezembro de 2012, mas não resistiu a um câncer na região pélvica, a Venezuela celebrou uma nova eleição presidencial em abril deste ano, como determina a Constituição do país. Antes de sua derradeira cirurgia em Havana, Chávez pediu aos venezuelanos que, se algo lhe ocorrera que o impedisse de assumir a presidência, que votassem em Nicolás Maduro, que então era o chanceler do país.

Maduro fez uma aguerrida campanha contra o opositor Enrique Capriles, mas a dor dos venezuelanos que recém haviam perdido seu líder se manifestou nas urnas de maneira contrária e Maduro venceu com uma margem estreita de votos. A diferença de apenas 1,5 ponto de vantagem sobre seu opositor provocou diversas denúncias não provadas de fraude e de não reconhecimento do resultado, mas diante da lisura do processo eleitoral do país já diversas vezes escrutinado e avalizado por observadores estrangeiros, Capriles teve que se contentar em governar o estado de Miranda, de onde já era governador. Esgotada a possibilidade de plantar denúncias, a oposição partiu para a sabotagem e o desabastecimento no país tornou-se um dos principais problemas a ser enfrentados pelo primeiro presidente chavista da história da Venezuela.

Em dezembro, o país foi novamente às urnas, mas para eleger prefeitos e vereadores em uma eleição destituída do peso político que tem uma corrida presidencial, mas a oposição viu nesta a oportunidade ideal para tentar deslegitimar a administração de Maduro e perdeu mais uma vez. Os chavistas ganharam em quase 8 de cada 10 prefeituras do país, inclusive as mais importantes. Assim, Maduro ganhou mais tranquilidade para seguir levando a cabo a revolução bolivariana iniciada por Chávez em 1998 e tem 61% de aprovação entre os venezuelanos.

Paraguai: Golpe de Lugo marca volta da direita

Após o golpe parlamentar que destituiu o presidente constitucionalmente eleito do país Fernando Lugo em 2012, criou-se grande expectativa pela volta da democracia com as eleições presidenciais realizadas em abril de 2013. A esquerda, no entanto, se fragmentou e ambos os candidatos – Aníbal Carrillo e Mário Ferreiro disputaram o mesmo eleitorado e perderam para o Colorado Horácio Cartes, fato que marcou a volta do partido que governou o Paraguai por seis décadas, até a eleição de Lugo, em 2008.

Apesar das inúmeras denúncias de irregularidades no pleito, Cartes foi empossado e, com isso, o Paraguai ganhou a permissão para voltar ao Mercosul e à Unasul, após ter sido suspenso pela falta de democracia em seu país. O novo presidente, no entanto, hesitou a voltar ao bloco integracionista. Cartes também gerou polêmica ao aprovar, logo no início de seu mandato, um pacote com quatro medidas polêmicas que somadas às denúncias de corrupção, despertaram a cidadania que realizou diversos protestos no país.

Argentina: A inabalável força de Cristina

A Argentina realizou eleições legislativas em outubro deste ano. Recém operada de para a retirada de um coágulo do cérebro, a presidenta Cristina Kirchner não participou da última etapa da campanha. O partido Frente para a Vitória (FPV), da presidenta foi o mais votado, com 7,7 milhões de votos, 33% do total. Os demais não chegaram nem perto da marca. Assim, a mandatária segue com a maioria das 132 cadeiras na Câmara de Deputados e 39 no Senado, apesar de ter perdido nos principais distritos eleitorais. Ainda assim, os veículos de comunicação argentinos e brasileiros, insistiram que o resultado nas urnas marcou uma derrota para Cristina. Para esta conclusão, a imprensa comparou duas coisas diferentes: eleições legislativas com presidenciais. Mas, quando comparados os mesmos períodos, o que se observa é que o kirchnerismo obteve resultado muito semelhante há quatro anos e segue sendo a única corrente política que tem um projeto nacional. Os demais partidos são provincianos e possivelmente, se não houver uma ampla articulação, não conseguirão vencer nas eleições de 2015.

Honduras: Irregularidades e fraudes contra eleição de Xiomara Castro

A América Latina voltou sua atenção para as eleições de Honduras, realizadas no domingo 24 de novembro. O pleito marcaria as primeiras eleições livres e democráticas após o golpe de Estado que destituiu o presidente Manuel Zelaya em 2009. O que se viu, no entanto, foi uma sucessão de irregularidades e fraudes na apuração e transmissão de votos, como denunciaram os observadores internacionais presentes em Tegucigalpa. Inconformados com o resultado, a candidata do Partido Libre (Libertade e Refundação), Xiomara Castro e seus correligionários fizeram uma série de protestos no país para pedir a recontagem dos votos. Apesar disso, o Tribunal Superior Eleitoral hondurenho declarou a vitória a Juan Orlando Hernandez. Há ainda a suspeita de que os Estados Unidos intervieram no resultado, como denunciou o sociólogo argentino Atílio Borón.

Chile: A esquerda mais forte com o retorno de Bachelet

A última eleição presidencial da América Latina em 2013 aconteceu no Chile. Confirmando a tendência do bloco, a candidata da coalizão de esquerda Nova Maioria, Michelle Bachelet, venceu o pleito com 63% de votos no dia 15 de dezembro. Com um programa eleitoral que prevê profundas reformas sociais e políticas, a candidata progressista conquistou a adesão das massas populares. Sua principal adversária, Evelyn Matthei, não conseguiu superar as propostas de campanha da ex-presidenta, que voltará ao comando do país a partir do dia 11 de março de 2014.

Outro fato marcante do pleito chileno foi a eleição de Camila Vallejo, ex-presidente da Federação de Estudantes do Chile (Fech), como deputada pelo Partido Comunista. Aos 25 anos, Camila levou 43,7% dos votos no populoso distrito de La Florida. O resultado das eleições confirmou Camila como uma das cinco personalidades políticas mais bem avaliadas pela população chilena (a única que nunca ocupou um cargo público).

Também pelo Partido Comunista, Karol Cariola, ex-líder da Federação de Estudantes da Universidade de Concepción, conseguiu votos para integrar o Parlamento, com 38% no distrito de Recoleta, ao sul de Santiago.