Chanceler de Israel defende proposta dos EUA para negociações

O ministro israelense das Relações Exteriores Avigdor Lieberman, de extrema direita, vem sendo citado com declarações que parecem bondosamente favoráveis à resolução do conflito e à criação do Estado da Palestina. Recém-reconduzido ao cargo, após enfrentar acusações de corrupção, Lieberman disse, no domingo (5), que a melhor opção para Israel é aceitar a proposta do secretário de Estado dos EUA, John Kerry, para uma base de acordo com a Autoridade Palestina.

Avigdor Lieberman - Memo

Lieberman é proponente de um plano considerado racista por diversos analistas, inclusive israelenses: a troca de territórios entre Israel e o Estado da Palestina a ser reconhecido. Para ele, as “cidades árabes” devem ser transferidas aos palestinos, e as colônias judias na Cisjordânia, ao Estado israelense.

O partido de Lieberman, Yisrael Beiteinu (Israel é Nosso Lar), atualmente coligado com outro direitista, o Likud, do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, alega aceitar a proposta de dois Estados para a solução do conflito, mas exatamente pelos motivos racistas que povoam as suas bandeiras, com exigências inaceitáveis de manutenção das tropas israelenses em um Estado da Palestina desmilitarizado e com a anexação de colônias ilegalmente construídas em território palestino.

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Lieberman, que se encontrou com Kerry na sexta-feira (3), em Jeusalém, disse que a proposta do chanceler estadunidense é a melhor opção para o governo sionista – ou seja, colonialista e racista – e que “qualquer outra proposta da comunidade internacional não será tão boa.”

Provavelmente, a convicção do ministro é garantida pelo apoio incondicional declarado pelos EUA às chamadas “preocupações securitárias” de Israel, que incluem a manutenção de tropas em território palestino e a manipulação das fronteiras, que os israelenses não pretendem aceitar como as de 1967 – alegadamente "indefensáveis" -, ou seja, anteriores à ocupação e anexação de diversos territórios árabes, a partir da Guerra dos Seis Dias.

Nesta empreitada, Kerry visitou a Jordânia e a Arábia Saudita num mesmo dia, domingo (5), para voltar à noite a Israel e à Palestina e transmitir o resultado das conversas com as duas monarquias ao presidente palestino, Mahmoud Abbas, e ao premiê israelense, Netanyahu.

Embora suas conclusões ainda não tenham sido divulgadas, a Liga Árabe já havia anunciado que não apoiará qualquer acordo que “mude os territórios palestinos ocupados geográfica ou demograficamente”, e que “nem sequer um soldado israelense” deverá continuar na Palestina.

Segundo Kerry, as discussões que tem mantido durante a sua décima visita à região em menos de um ano devem ser a base para a proposta de um acordo quadro, ou seja, de diretrizes para os quatro meses de negociações restantes. Na retomada das conversações, anunciada no fim de julho, um período de nove meses havia sido acordado para a nova rodada, embora Kerry venha tentando postergar a conclusão.

O representante estadunidense tem afirmado que o processo está avançando, mas a estagnação é evidente, principalmente pela insistência na proteção da ocupação israelense sobre a Palestina e pela negligência com a expansão das colônias, que se manteve até mesmo durante os cinco meses já transcorridos de negociações. Ainda assim, a previsão é a de que a proposta de acordo seja apresentada até o final de janeiro.

Por Moara Crivelente, da redação do Vermelho
Com informações do jornal israelense Ha'aretz.