Contra negociações, ministro reitera ameaça ao governo de Israel

Novamente, o ministro da Economia de Israel, Naftali Bennett, ameaça o governo contra a hipótese de reconhecimento das fronteiras palestinas. Bennett disse, no início da semana, que o seu partido colonialista e ultra-ortodoxo, Lar Judeu, “não vai fazer parte de uma coalizão que, por causa da pressão internacional, divida Jerusalém e ponha a nossa segurança em risco.”

Por Moara Crivelente, da redação do Vermelho

Naftali Bennett - Emil Salman / Haaretz

O ministro já colocou ameaças como esta na mídia antes, principalmente quando o debate sobre a retirada de colônias judias dos territórios palestinos é levantado. Representante histórico dos colonos, na liderança de associações deste tipo e de um partido ultra-ortodoxo fundado sobre a ideologia de colonização e expulsão dos palestinos, o sionismo, Bennett é um expoente da ocupação e da violência em que ela se constrói.

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Em julho, às vésperas da retomada das negociações com a Autoridade Palestina, ele foi o porta-voz da advertência contrária ao processo: votaria contra o Orçamento de Estado, o que, em conjunto com outras medidas prometidas, poderia derrubar a coalizão de governo recém-formada e causar uma crise política.

No início desta semana, em declarações no Instituto de Estudos sobre Segurança Nacional, na litorânea Tel-Aviv, ele disse, de acordo com o jornal israelense Ha’aretz: “Nunca concordaremos em desistir de uma Jeusalém unificada (…), nunca aceitaremos um acordo baseado nas linhas de 1967.”

Ele refere-se à fronteira internacionalmente aceita – já resultado de uma concessão extremada dos palestinos – e anterior à expansão da ocupação israelense a mais territórios árabes, desde a Guerra dos Seis Dias, naquele ano. Segundo os sionistas, são linhas militarmente “indefensáveis”, pretexto usado para a extensão da ocupação, embora esta seja classificada pelo direito internacional como um crime de guerra.

Racismo, ocupação e extremismo religioso

Bennett não se impede de dar declarações belicosas. Para ele, “as conversações de paz com os palestinos trouxeram-nos apenas terror”, referindo-se à “lentamente crescente intifada”, ou levante popular árabe, que ele atribuiu à retomada das negociações, mas não à ocupação em expansão, com anúncios repetidos de construção de colônias, prisões arbitrárias, demolições de casas, mortes e postos de controle militar.

“Se os nossos amigos no mundo nos pedem para cometermos suicídio – mesmo que tenham boas intenções – nós lhes diremos que não”, disse ele, sobre a pressão internacional para alcançar um acordo com os palestinos. “Eles nos dizem que há uma ocupação, e que isso é imoral, como judeus. Deixem-me dizer, nós não somos ocupantes na nossa terra,” continuou.

Bennett falou ainda de uma “ameaça demográfica”, frequentemente presente nos discursos extremistas. “Eles nos assustam com o demônio demográfico, e que não haverá uma maioria judia. Isso é incorreto: na verdade, é o oposto. As taxas de nascimento dos árabes estão diminuindo. No dia seguinte ao acordo diplomático, os palestinos abrirão suas fronteiras a centenas de milhares de refugiados e seus descendentes.”

Ainda assim, o mesmo autor da frase “sim, matei árabes, e não vejo problemas nisso”, dita durante uma reunião ministerial em meados do ano passado, afirmou que os palestinos desempenham uma campanha de incitação contra os israelenses, e chamou os jovens nascidos na década de 1990 – quando Israel e a Autoridade Palestina assinaram os Acordos de Oslo – de “geração de terroristas”.

O ministro refere-se às negociações cujo único resultado palpável, até hoje, para os palestinos, é a expansão da ocupação, com acordos que permitem o controle militar isralenese de maior parte da Cisjordânia.

Segundo analistas políticos, entretanto, foi a falta de apoio político entre a elite no poder o que levou à falência os Acordos de Oslo, cujas provisões para a ocupação deveriam ter sido temporárias, mas tornaram-se permanentes.

O extremismo religioso de então acabou no assassinato do primeiro-ministro israelense Yitzak Rabbin por um judeu radical contrário ao acordo. Não que haja uma comparação a ser feita com o atual premiê, Benjamin Netanyahu, já que ele estava à frente de inúmeros comícios que criticavam incisivamente o chamado "processo de paz" e chegou a ser acusado de incitação grave contra Rabin.

Para Bennett, a ocupação é o objetivo, embora ele não a chame por este nome. “Houve um tempo em que nos disseram que tínhamos que dar terras em troca da paz,” disse Bennett. “Mas os israelenses de hoje sabem que o que é preciso é um Exército forte e fé.”