Palestina recusa proposta de Kerry e Israel busca manter ocupação
O Comitê Executivo da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) disse nesta semana que a sua liderança recusa a proposta de acordo feita pelo secretário de Estado dos EUA, John Kerry. Trata-se do avanço de um Estado palestino inviável e da manutenção das colônias, em troca do reconhecimento de Israel como um Estado judeu. Já nesta quinta-feira (16), o premiê israelense Benjamin Netanyahu adicionava mais uma grande colônia a ser mantida sob o controle de Israel.
Publicado 17/01/2014 16:11

O secretário-geral do Comitê Executivo da OLP, Yasser Abed Rabbo disse, em uma coletiva de imprensa na quarta-feira (15), que diversos membros da organização consideram a proposta de um “acordo-quadro” (um plano do que será acordado através das negociações, ou um “meta-acordo”) apresentada por Kerry como uma garantia das exigências expansionistas de Israel.
Leia também:
Autoridade Palestina reafirma oposição a exigências de Israel
Palestina-Israel: Abbas diz buscar a paz e Netanyahu, a ocupação
Chanceler de Israel defende proposta dos EUA para negociações
Palestina: Balanço do processo infinito e da ocupação permanente
O plano, com disposições “securitárias” elaboradas pelo general aposentado dos EUA, John Allen, inclui a manutenção de tropas israelenses no Vale do Jordão palestino (próximo à fronteira com a Jordânia) e o controle sobre as passagens fronteiriças, sobre o espaço aéreo e sobre as comunicações, de acordo com Rabbo.
Por isso e pela continuidade da construção de colônias em territórios palestinos (denunciadas cotidianamente e reiteradas ainda desde o anúncio da retomada das negociações, no final de julho), as conversações estão em um impasse crucial. “O governo israelense insiste em fazer exigências que sabe muito bem que a liderança palestina ou o povo palestino jamais aceitará,” diz Rabbo.
“Israel quer construir um muro no Vale do Jordão similar ao muro da anexação que construiu na Cisjordânia, e manter os blocos de colônias, que têm uma área cuja extensão nem mesmo o mediador dos Estados Unidos conhece, já que eles são expandidos diariamente.”
Abed Rabbo explicou ainda que “enquanto Israel exige que os palestinos o reconheçam como um Estado judeu, também exige que sua narrativa histórica seja abolida, e que acolham a narrativa histórica sobre um Estado cujas fronteiras nós nem sabemos qual é. Jerusalém teve o mesmo destino. Foi anexada e ‘judaizada’,” no processo também chamado de “gentrificação”, denunciado constantemente pelos árabes, cujos traços culturais na cidade são eliminados.
“De que Estado palestino sequer se está falando?”, perguntou. “Este seria um Estado sem fronteiras, ou passagens, ou uma capital”, já que Jerusalém Leste, palestina, também é engolfada pelas colônias israelenses e por sua administração, que decide sobre a demolição de casas palestinas e é encarregada do burocrático e complexo processo de “permissão” para construções.
Manutenção das colônias sob o controle de Israel
Ainda que as denúncias sobre a continuidade da ocupação israelense sobre os territórios palestinos sejam reiteradas diariamente, enfatizadas como a causa fundamental da estagnação do processo e do risco de invalidação do Estado palestino, o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, disse que Israel deve manter Beit El (com quase sete mil colonos) como o quarto bloco de colônias a permanecerem sobre o seu controle na Cisjordânia ocupada, sob qualquer acordo eventual.
Outros três grandes blocos que Netanyahu insiste em manter sob o controle israelense são Gush Etzion, com 22 colônias organizadas como “bairros” e mais de 60 mil colonos, Ma’ale Adummim, com estatuto de “cidade” desde 1991 e mais de 40 mil colonos, e Ariel, a quarta maior colônia israelense, com mais de 20 mil colonos. As três ficam próximas de Jerusalém.
Foto: Moshe Shai/Flash90
Colônia israelense Gush Etzion, na Cisjordânia palestina.
De acordo com a emissora de rádio israelense que informou sobre a posição de Netanyahu, o premiê teria dito que exigiria também compensação financeira aos palestinos ao invés de “trocas de territórios” pelas remanescentes colônias. A proposta, obviamente, já foi rejeitada pelo presidente palestino Mahmoud Abbas.
Violência, bloqueio e fim das negociações
Enquanto isso, foguetes lançados desde a Faixa de Gaza bloqueada em direção à cidade de Ashkelon, próxima à fronteira entre o sul israelense e Gaza (que fica no litoral, a oeste) foram considerados pelo ministro das Finanças Yuval Steinitz a “prova” da importância de manutenção das tropas israelenses no Vale do Jordão (que fica a leste, no território palestino da Cisjordânia), para “proteger as colônias”.
Como usual, Israel lançou ataques aéreos com caças F-16 contra Gaza e afirmou tratar-se de uma “resposta” ao lançamento de foguetes a partir do território, bloqueado militarmente pelo governo israelense desde 2006. Os foguetes tinham sido interceptados pelo sistema israelense antimíssil “Cúpula de Ferro”, enquanto em Gaza, quatro crianças e uma mulher ficaram feridas, de acordo com fontes palestinas.
Foto: Yasser Qudih / Xinhua
Força aérea israelense realiza ataque à Faixa de Gaza. Na foto, um carro e uma casa danificados, na Cidade
de Gaza, 16 de janeiro de 2014.
Neste contexto, Rabbo informou que o Comitê Executivo da OLP deve começar a preparar a candidatura da Palestina à integração de diversas organizações internacionais, o que pode promovê-la definitivamente como ator sujeito de direito internacional. Além disso, o Comitê também deve buscar um novo parceiro político, já que os Estados Unidos têm falhado reiteradamente na condução das negociações, segundo o Middle East Monitor, embora a Autoridade Palestina tenha reafirmado o seu “compromisso com os esforços diplomáticos” de Kerry diversas vezes.
A integração das organizações internacionais pela Palestina é a estratégia alternativa para buscar uma solução à sua condição e garantir a sua independência e reconhecimento como Estado soberano, e deve ser retomada quando terminar o prazo para a conclusão das negociações, em abril.
Entre os pontos acordados entre Israel e os Estados Unidos e considerados inaceitáveis para os palestinos estão também o reconhecimento de um Estado judeu e o abandono do direito ao retorno para os refugiados palestinos, já admitido e promovido por diversas resoluções das Nações Unidas.
Por Moara Crivelente, da redação do Vermelho