Presidente palestino diz que aceitaria tropas da Otan no país

Nos últimos dias, notícias de que o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, teria confirmado permitir a presença de tropas da Organização para o Tratado do Atlântico Norte (Otan) no Estado da Palestina a ser efetivado têm causado a consternação daqueles que apoiam a causa palestina pela independência e por sua libertação.

Kerry e Abbas na Jordânia - Associated Press

Embora uma saída para o eterno processo de negociações seja urgente, uma missão da máquina imperialista no país é considerada inaceitável para grande parte dos palestinos e dos seus aliados. A discussão sobre chamada “questão securitária” entre o governo israelense, a Autoridade Palestina (AP) e o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, é o principal impasse atual impedindo o progresso das conversações.

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Depois de uma reunião do gabinete palestino na sexta-feira (31/1), Abbas disse, em uma entrevista para o jornal estadunidense The New York Times, que as tropas israelenses poderiam ficar na Palestina por cinco anos (e não três, como tinha dito que aceitaria, antes).

Ele disse ao jornal também que a Palestina não teria o seu próprio Exército, apenas uma força policial, e que uma missão da Otan seria a responsável por impedir o contrabando de armas e o terrorismo, que Israel tanto diz temer.

“Por um longo tempo, e onde quer que eles queiram, não apenas nas fronteiras orientais, mas também nas ocidentais, em todos os lugares,” disse o presidente Abbas sobre uma eventual missão da Otan. “A terceira parte pode ficar. Eles podem ficar para deixar os israelenses seguros e para nos proteger,” continuou.

O presidente confirmou também que concordava com o caráter de um Estado desmilitarizado para a Palestina, conforme exigido por Israel e proposto por Kerry. “Você acha que temos qualquer ilusão sobre podermos ter segurança se os israelenses não sentirem que têm segurança?”

O artigo sobre a entrevista explica que a proposta securitária com a presença de tropas da Otan não é completamente nova: Abbas disse que ganhou apoio do ex-premiê israelense Ehud Olmert e do ex-presidente George W. Bush pela ideia.

“Ele também disse que apresentou a proposta de uma força liderada pelos EUA que incluiria os jordanianos ao premiê Benjamin Netanyahu, durante uma reunião na casa do israelense, há alguns anos, com a então secretária de Estado Hillary Clinton,” afirma o jornal.

Abbas teria dito que indagou a Netanyahu: “Se você não confia nos seus aliados, então em quem você confia? Não estou te trazendo a Turquia ou a Indonésia,” mas o premiê israelense teria respondido: “Eu só confio no meu Exército.”

Tanto a opção de manutenção das tropas israelenses no território palestino, como exigido pelo governo de Netanyahu, quanto a possibilidade de um destacamento da Otan são perpetuações da situação de ocupação militar já sofrida pelos palestinos há décadas.

A insustentabilidade de um processo eterno pode justificar uma espécie de aceitação do que seria inaceitável, como puseram alguns analistas israelenses favoráveis à causa palestina – como se tratasse de um desafio para testar a retórica do governo israelense e buscar algum avanço nas negociações, retomadas em julho (com prazo para terminar em abril), ainda sem qualquer resultado.

Entretanto, o alarme é inevitável para aqueles que combatem a disseminação da presença militar das potências ocidentais pelo mundo e as suas consequências políticas, mantendo a situação de dominação da qual os palestinos lutam por se libertar.

Da redação do Vermelho