Israel-Palestina: Colônias voltam ao debate sobre plano de acordo

O embaixador estadunidense em Israel, Dan Shapiro, em entrevista desta segunda-feira (17), disse que o plano com pontos gerais para um acordo entre Israel e a Autoridade Palestina será apresentado em breve, em meio ao ceticismo palestino com o processo. Já em referência a um dos principais impasses, em declarações recentes, o ex-premiê Ehud Olmert garantiu a possibilidade de retirada de colonos israelenses dos territórios palestinos.

Colonos judeus na Cisjordânia - Reuters

Autoridades palestinas divulgaram recentemente os principais pontos sugeridos pelos EUA, em defesa evidente das posições israelenses sobre suas “preocupações securitárias”, usadas para justificar a expansão da ocupação, a detenção arbitrária de palestinos, a desapropriação e a construção do muro de segregação, que já tem cerca de 700 quilômetros de extensão.

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O documento, denominado acordo-quadro (por pressupor um quadro geral para o acordo efetivo a ser negociado), já tem sido anunciado há meses pelo secretário de Estado dos EUA, John Kerry, em diversas viagens à região, com o aumento exponencial do ceticismo em relação às conversações.

Embora o governo israelense apresente uma série de condições às propostas estadunidenses, sobretudo derivadas das posturas racistas e colonizadoras da extrema-direita ortodoxa, os diplomatas norte-americanos enfatizam frequentemente, sem atenção à deterioração da confiança dos palestinos em seu papel, o apoio incondicional a Israel.

Por isso, se revela com clareza crescente a postura de parte envolvida no conflito, e não de mediador, desempenhado pelos Estados Unidos, o que fortalece as convicções de diversos movimentos e partidos palestinos de que este período de negociações é apenas mais um episódio do processo de institucionalização da ocupação israelense, como foram os acordos interinos do início da década de 1990, durante o processo de Oslo.

O embaixador estadunidense disse ao jornal israelense Yedioth Aharanoth: “Eu acredito que o documento terá conteúdo real e significativo. Não significa que os lados concordarão com cada palavra e ainda haverá muitas questões a serem tratadas durante as negociações, para um acordo final.”

Segundo Shapiro, “Israel e os palestinos têm uma oportunidade para alcançar um acordo-quadro antes do final do prazo de nove meses estabelecido pelos dois lados, quando os atuais esforços de paz começaram,” em julho. Não é o que grande parte dos palestinos têm interpretado, entretanto.

Retirada de colonos ainda é possível

Diversos observadores e atores diretamente ligados ao processo, como representantes da Organização das Nações Unidas, ressaltaram frequentemente que esta pode ser “a última oportunidade” e que a “janela está se fechando” para um acordo que possibilite o estabelecimento do Estado da Palestina conforme o consenso internacional a respeito da sua configuração.

Uma das denúncias feitas pelos palestinos, neste sentido, é a expansão constante da ocupação israelense sobre os seus territórios, com o anúncio recorrente da construção de mais colônias ou a expansão das já existentes, além da própria argumentação e atuação dos grupos de extrema-direita sobre a recusa em “descolonizar” ou retirar-se dos territórios palestinos.

Alguns expoentes desse grupo levantam o pretexto da inviabilidade da retirada dos colonos israelenses, que já ultrapassam os 500 mil, na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental. Além disso, ganha espaço a proposta de anexação das colônias por Israel – sem o uso deste termo, entretanto, já que resultaria na condenação global por violar o direito internacional.

A defesa da política de ocupação tem sido desafiada recentemente pelo fortalecer da posição internacional frente ao boicote à economia e à produção originária das colônias. Em reunião com representantes de grandes organizações judias-estadunidenses em Jerusalém, também nesta segunda, o ministro das Finanças Yair Lapid disse que Israel tem sofrido as consequências desse posicionamento por parte de diversos parceiros comerciais, inclusive europeus.

Já o ex-premiê Ehud Olmert (2006-2009)  afirmou, na semana passada, que as negociações com a Autoridade Palestina, em 2008, teriam resultado em um acordo que envolvia a evacuação de cerca de 80 mil colonos dos territórios palestinos, sem a exigência de manutenção de tropas israelenses no Vale do Jordão, como demanda o governo atual, de Benjamin Netanyahu.

Em entrevista ao Canal 2 da televisão israelense, Olmert – que também conduziu a brutal Operação Chumbo Fundido contra a Faixa de Gaza, entre dezembro de 2008 e janeiro de 2009 – afirmou que o mesmo compromisso seria possível atualmente, ao contrário do que alegam os grupos da extrema-direita ortodoxa, embora Netanyahu represente dois governos (o atual e o de 1996-1998) que mais construíram colônias nos territórios palestinos.

Entretanto, também na semana passada, o Canal 10 dizia que o plano a ser avançado por Kerry "é tão brando que até mesmo para os radicais israelenses que não deve causar qualquer crise na coalizão [governamental], em referência às recentes ameaças de fragmentação. O mesmo noticiário afirmava que "Kerry agora terá de enfrentar um desafio ainda mais difícil, o de convencer os palestinos a aceitar" o plano.

Por Moara Crivelente, da redação do Vermelho