EUA devem propor permanência de colonos na Cisjordânia

Em entrevista para a televisão de Israel, nesta quinta-feira (20), o secretário de Estado dos EUA John Kerry sugeriu que os colonos podem não ser evacuados segundo um futuro acordo diplomático com a Autoridade Palestina, que resultaria das negociações retomadas em julho. Entretanto, ao contrário do que defendem seus representantes no governo israelense, os colonos viveriam sob a soberania palestina, embora a ocupação seja reconhecida amplamente como ilegal pela sociedade internacional.

Kerry e Netanyahu - MRE de Israel

O secretário de Estado norte-americano, que tem se apresentado como mediador nas atuais negociações entre Israel e a Autoridade Palestina, tem tentado avançar um rascunho de “base de acordo” extremamente polêmico e, apesar de visivelmente favorável a Israel, também questionado por seguimentos da extrema-direita racista no governo israelense.

Recentemente, mais de um parlamentar e ministro defendeu o princípio de manutenção das colônias israelenses em territórios palestinos sob a soberania de Israel em um futuro acordo, ficando apenas omitido o termo, mas não a intenção de anexação de vastas porções da Cisjordânia e de Jerusalém Oriental.

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Questões centrais como as fronteiras, o retorno dos refugiados palestinos, a capital Jerusalém, as colônias, temas “securitários” são os principais impasses nas negociações, nos quais os palestinos já tiveram de fazer duras concessões em negociações passadas.

No início da semana, o embaixador estadunidense em Israel, Dan Shapiro, garantiu que uma proposta de acordo deve ser apresentada em breve, enquanto o prazo definido para as negociações chega ao fim – em abril – sem qualquer avanço significativo à vista.

Além disso, o atual governo do premiê Benjamin Netanyahu, composto pela extrema-direita fanática, introduziu na lista de barreiras estruturais ao avanço o reconhecimento de Israel como um “Estado judeu” pelos palestinos, o que traz sérias preocupações pelo racismo em que se fundamenta e pelas consequências para os não judeus, que já têm estatutos sociais diferenciados no país.

Face à demonstração crescente de ceticismo e de desconfiança pelos palestinos com relação às chances reais de avanço e do próprio papel dos Estados Unidos, os representantes norte-americanos têm soltado declarações em que tentam refletir algum progresso, para que as negociações atinjam seu prazo. “As pessoas que me conhecem sabem que, quando eu cravo os dentes em algo, farei com que isso se realize,” disse Kerry na entrevista.

Ainda assim, as principais propostas apresentadas por ele favorecem novamente as exigências israelenses sobre as tais questões securitárias, que assentam o terreno para a manutenção de tropas nos territórios palestinos e a anexação de porções da Cisjordânia através da reformulação das fronteiras, já que o atual consenso internacional pressupõe uma definição “indefensável”, segundo as autoridades israelenses.

Nestas e outras questões que facilitam, expandem e mantêm e a ocupação israelense sobre os territórios palestinos, os EUA demonstram-se fielmente simpáticos a um pretexto e a uma noção militarista da segurança – já que a adotam para a sua própria política externa – que tem consequências paradoxais, uma vez que alimenta diretamente a revolta e o conflito.

Por Moara Crivelente, da redação do Vermelho,
Com informações das agências