Hamas critica presidente palestino por discurso para israelenses

O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas recebeu 300 estudantes israelenses na Cisjordânia, neste domingo (16), para falar das negociações com Israel. Enquanto isso, o partido que governa a Faixa de Gaza, Hamas – em processo de reconciliação com o partido do presidente, Fatah – condenou a sugestão de que os palestinos aceitariam tropas da Organização para o Tratado do Atlântico Norte (Otan) em seus territórios, e estudantes palestinos criticaram a postura conciliadora de Abbas.

Presidente Mahmoud Abbas - Nasser Nasser/Associated Press

Os estudantes israelenses aplaudiram o presidente Abbas em Ramallah, sede da Autoridade Palestina (AP), quando ele insistiu que não há alternativas além da construção da paz. A posição dos jovens foi ressaltada como positiva e inédita pelo jornal estadunidense The New York Times, em artigo sobre o evento nesta segunda-feira (17).

Abbas falou da questão dos refugiados, um dos principais temas de discórdia no processo de negociações: os palestinos na diáspora têm o direito reconhecido internacionalmente de retornar aos seus lares – de onde foram expulsos no processo de estabelecimento do Estado de Israel, formalizado em 1948.

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Grande parte dos integrantes do governo israelense recusa-se a respeitar este princípio, citando uma “guerra demográfica” que “ameaçaria” a sua segurança e, para a extrema-direita racista, que minaria a sua suposta característica de “Estado judeu”, cujo reconhecimento é uma das exigências impostas pelos grupos racistas aos palestinos.

Em resposta a declarações do premiê direitista de Israel, Benjamin Netanyahu, Abbas garantiu que não pretende “afogar Israel com milhões de refugiados” e descreveu as acusações neste sentido de “propagandas infundadas”. Ao invés disso, ele disse, a Autoridade Palestina busca uma solução “justa e consensual” para a questão, que seja “aceitável para Israel”.

A visita dos estudantes foi organizada pela organização civil One Voice Israel e iniciada pelo vice-líder do Parlamento israelense, Hilik Bar, do Partido Trabalhista.

Descontentamento com as negociações

O encontro de Abbas com os estudantes e com autoridades israelenses foi criticado pelo Hamas como uma forma de fazer concessões, de acordo com a agência palestina de notícias Ma'an. O processo de reconciliação entre o partido islâmico que governa Gaza e o partido à frente da Autoridade Palestina, Fatah, tem caminhado em meio a divergências fundamentais sobre o posicionamento nas negociações.

Suas declarações foram rechaçadas pela Associação de Estudantes da Palestina como “contrárias às metas da nação palestina”, que defende com empenho o direito dos refugiados ao retorno, inegociável, negligenciado há quase sete décadas. A associação também instou Abbas a abandonar as negociações e unir-se à resistência popular.

Atualmente, há quase cinco milhões de palestinos refugiados em toda a região e também em outros continentes, herdeiros diretos de uma política de despojo e expulsão iniciada ainda antes do estabelecimento do Estado de Israel. Muitos estão imersos em uma situação de insegurança agravada pelos conflitos que alguns dos países que os abrigam, como o Líbano e a Síria, têm enfrentado.

A frustração dos palestinos com a manutenção da ocupação – a expansão das colônias, a destruição de residências e plantios, detenções arbitrárias, entre outras políticas opressoras – tem se evidenciado e, desde o fim do ano passado, observadores locais advertem para a iminência do terceiro levante popular, ou “intifada”, em árabe. A última, em 2000, foi impulsionada também pela expansão da ocupação e pela posição opressora, mas os confrontos deixaram milhares de mortos dos dois lados.

Além disso, o único plano da diplomacia estadunidense, que se apresenta como mediadora, é interpretado como uma rendição dos palestinos, com a proposta de manutenção das tropas israelenses e estrangeiras, por exemplo, na Palestina, entre outras questões preocupantes, em que se incluem os refugiados e a falta de definição das fronteiras conforme o consenso internacional.

Ainda assim, o tom conciliador de Abbas pretende fazer correspondência com o compromisso de manter o processo de negociações até abril, finalizando um período de nove meses de conversações até agora estagnado. Panfletos com as posições da Autoridade Palestina foram distribuídos em hebraico aos estudantes israelenses, na tentativa de informá-los sobre suas reivindicações e, consequentemente, sobre a intransigência do governo israelense, responsável pela falta de avanço das negociações.

Abbas enfatizou que os palestinos já têm feito inúmeras concessões durante os diferentes estágios de um processo de negociações infindável, principalmente durante as conversações de Oslo (Noruega), que resultaram em dois acordos interinos no início da década de 1990, mas que nunca avançaram e, consequentemente, mantiveram a Palestina sob a ocupação israelense.

Por Moara Crivelente, da redação do Vermelho,
Com informações das agências