Premiê de Israel acusa reação à ocupação de antissemitismo

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, voltou a usar o antissemitismo para acusar aqueles que criticam as suas políticas de ocupação sobre os territórios palestinos. Ele disse, durante uma conferência, que o movimento pelos boicotes é “revoltante” e comparou as recentes medidas europeias neste sentido, ainda cambaleantes, às táticas nazistas de embargo a empresas judias.

Por Moara Crivelente, da redação do Vermelho

Israel Benjamin Netanyahu - AFP Photo / Menahem Kahana

Netanyahu e outros expoentes da extrema-direita colonialista e racista de Israel têm reagido duramente contra a iniciativa palestina, apoiada internacionalmente, de boicotes e sanções contra a ocupação sobre os seus territórios. Em uma conferência com representantes de organizações judias-estadunidenses na segunda-feira (17), em Jerusalém, ele voltou a atacar.

O foco principal do movimento é que os países proíbam o comércio com as indústrias instaladas nas colônias israelenses na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, territórios palestinos sob a ocupação militar e administrativa de Israel, que mantém, assim, um regime de segregação, onde cidadãos israelenses vivem em um sistema civil e os palestinos, em um militar.

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O movimento tem ganho adesão internacional como uma alternativa de resistência à perpetuação de um processo de negociações que só tem garantido a expansão da ocupação, com a construção frequente de mais colônias e a imposição de novas exigências consideradas inaceitáveis para o povo palestino no contexto das negociações.

Uma delas tem ligação direta com o uso do “antissemitismo” para atacar os que apoiam a tática palestina: o premiê Netanyahu inaugurou um discurso de que a recusa dos palestinos em reconhecer Israel como um “Estado judeu” estaria na raiz do conflito. Por isso, alega que enquanto esta demanda não for cumprida, não haverá solução.

Para alguns, trata-se de mais uma tática para retratar os palestinos como responsáveis pela falta de avanço diplomático. Para outros, uma posição racista e fanática que serve a diversos propósitos para além da perpetuação da ocupação, como a sua própria afirmação política diante dos grupos mais radicais no país.

          
            Montagem feita pelo portal Intifada Eletrônica da atriz estadunidense Scarlett Johansson diante de uma fila de
            palestinos na Cisjordânia, para atravessar um posto de controle militar israelense. Recentemente, apelos para o
            seu afastamento da companhia SodaStream, cuja maior planta de fabricação de máquinas de refrigerante é na
            colônia de Ma'ale Adummim, reforçou o movimento pelos boicotes.

As ramificações desta empreitada pela imposição de uma dimensão étnico-religiosa a um conflito essencialmente político e de dominação impõem-se à resolução de um impasse de sete décadas, enquanto o direito dos palestinos à autodeterminação é sobreposto pelo despojo constante.

“No passado, os antissemitas boicotaram negócios judeus e hoje instam ao boicote do Estado judeu,” disse Netanyahu. “Acho que é importante que os autores do boicote sejam expostos pelo que são, um lixo moderno de antissemitas clássicos.”

Além disso, alegou que o objetivo primordial do movimento Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) é a destruição do Estado judeu, outra das suas retóricas oficiais repetidas como hipnose para a acusação daqueles que se contrapõem às políticas opressoras do seu regime e à ocupação dos territórios palestinos, como ressaltam até mesmo vários críticos nacionais, que os radicais chamam de “judeus que se odeiam”.

É constante a instrumentalização e a manipulação da identidade – no caso a religiosa transformada em étnica, artificialmente, de acordo com vários especialistas – para legitimar a opressão do outro. Antes, o propósito desta prática era denominado “colonialismo”. Nos tempos modernos e naquele contexto, ocupação, anexação e expulsão de todo um povo, o palestino.