Che Guevara – O guerrilheiro que eu não conhecia

Por Gutemberg Dias*

Há um tempo consegui terminar a leitura de uma das biografias do grande guerrilheiro e, sobretudo sonhador, “Ernesto Guevara, também conhecido como Che”, livro escrito por Paco Ignacio Taibo II, que contém 728 páginas de pura história.

Não quero aqui falar, especificamente, da biografia de “Che”, mas expressar minha admiração por um ser humano que viveu buscando concretizar o sonho que ele acreditava, sonho que para sua época se traduzia na instalação de um mundo melhor e mais justo.

Sou sincero em afirmar que não conhecia toda a história de vida do herói guerrilheiro e o pouco que sabia me chegou apenas como fragmentos de contos e histórias apresentadas em artigos e textos reproduzidos para elevar ou denegrir a imagem do guerrilheiro Che Guevara e, sobretudo, em relação ao tempo de guerrilha na revolução cubana.

Me interessei mais a fundo pela história de Che Guevara após estudar sobre a revolução em Cuba e, mais ainda, quando tive a oportunidade de assistir ao filme “Diários de Motocicleta”, de Walter Salles, que relata a viagem do jovem estudante de medicina Ernesto Guevara pela América Latina em companhia de seu amigo Alberto Granado.

Ernesto “Che” Guevara viveu além do seu tempo e, sobremaneira, ajudou a construir a história vitoriosa da revolução cubana que conseguiu instalar em Cuba e exportar para toda a América Latina um modelo revolucionário onde o humano estava acima dos interesses econômicos.

Para quem ler a biografia de Che Guevara, dentro do contexto da geopolítica que dominava o mundo nas décadas de 1950 e 1960, é fácil identificar que sua luta era contra o imperialismo americano que comandava todos os países da América Latina, através de apoio financeiro e de inteligência para exterminar grupos que fossem contra o modelo de dominação geopolítico e econômico, posto em movimento sobre países ditos periféricos. Bem como, contra a falta de cuidado dos governos com seus povos.

Sua luta contra o imperialismo não foi apenas nos campos de batalhas, mas, também, nos momentos que esteve representando o governo cubano na diplomacia internacional e nos tantos artigos que escreveu discutindo as teses marxistas. Teses essas que foram confrontadas com os desdobramentos da revolução em Cuba que, em parte, foi facilitado pela grande capacidade de leitura crítica de Che Guevara.

Mesmo estando habituado a ver e assimilar a figura de um homem duro e determinado, Ernesto “Che” Guevara era antes disso um ser culto que mesmo nas dificuldades da guerra em Cuba, Congo e, por fim, na Bolívia, nunca deixou de lado os livros e o amor pelas letras. Esse Che, o “Culto”, pouco foi divulgado, mas sem dúvidas dominava por vezes seu lado guerrilheiro.

Conta sua biografia que pouco antes de ser assassinado por um militar do exército boliviano, na escola de La Higuera, teria recebido a visita de uma professora, Julia Cortez, a qual ele mostra o quadro negro e corrige uma palavra que estava escrita com uma grafia errada. Esse realmente era o Che Guevara, guerrilheiro, mas, também, um homem que acreditava na educação e no conhecimento como mola para impulsionar as grandes transformações da sociedade.

Muito do que sabemos sobre a vida desse extraordinário ser humano foi relatado por ele mesmo em seus diários. Era um hábito salutar que tinha de transcrever as impressões diárias de sua vivência em pequenos cadernos. Essas anotações, muitas vezes se transformavam em artigos, discursos e livros, como o “Manual de Guerrilha”. Foram elas, também, que terminaram por denunciar a presença de Che Guevara na Bolívia quando o exército boliviano descobriu covas com documentos, alimentos e armas da guerrilha no acampamento de Ñancahuazú.

Nas últimas horas de vida Che Guevara foi privado de uma das suas principais armas, a caneta. Sem poder relatar em seus diários o que estava passando, sua história fica com uma imensa lacuna, já que ele não pode relatar seu calvário. Mas, graças àqueles que ficaram vivos para contar suas versões e aos homens que resolveram se retratar com a história, suas últimas horas foram resgatadas, mesmo com pequenas distorções entre os relatos.

Para esse pobre escrevinhador, Che Guevara, o guerrilheiro, nada mais é que o estereótipo daqueles que sonham com uma sociedade igualitária, justa e que não oprima os fracos buscando criar guetos de pobreza financeira e intelectual para que o, tão famoso e tentador, modelo econômico capitalista continue a dominar o mundo, principalmente, o mundo dos menos favorecidos economicamente.

*Gutemberg Dias
Presidente do Comité Municipal de Mossoró/RN