Palestinos e Liga Árabe não reconhecem Israel como "Estado judeu"

O Conselho Revolucionário do Fatah, partido à frente da Autoridade Palestina (AP), endossou nesta segunda-feira (10) a rejeição do presidente Mahmoud Abbas à exigência de reconhecimento de Israel como “Estado judeu”. Um membro do Fatah disse a jornalistas que o presidente declarou, durante um discurso na sede da AP, em Ramallah, Cisjordânia, que não irá retroceder nos direitos dos palestinos e nem “trair a sua causa”, apesar das “grandes pressões” impostas contra o governo.

Presidente Mahmoud Abbas - Nasser Nasser/Associated Press

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, transformou o reconhecimento de um “Estado judeu” na base fundamental para o progresso das negociações, que já estão estagnadas há meses, apesar das propostas de acordo elaboradas por seu aliado, os Estados Unidos.

Netanyahu declarou, mais de uma vez, que a recusa palestina em reconhecer Israel como a pátria dos judeus está na raiz do conflito, mas esta é uma reivindicação inaugurada em seu governo, formado em 2009. Diversos críticos, inclusive israelenses, chegam a ridicularizar a sua demanda, uma que não foi feita nem pelos primeiros líderes israelenses, que estruturam o sionismo – ideologia colonizadora e racista – institucionalmente.

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Para as autoridades e o povo palestino, reconhecer Israel como Estado judeu aprofundará a segregação já verificada tanto em território israelense quanto nos territórios palestinos ocupados.

Em Israel, são frequentes as denúncias de racismo e de marginalização dos não judeus. Além disso, a construção da narrativa religiosa e étnica para explicar o conflito é vista como um instrumento político destrutivo usado pelo governo israelense para angariar apoio e propagandear a sua posição.

A Liga Árabe, composta por mais de 20 países árabes, pronunciou-se a favor do posicionamento da Autoridade Palestina na rejeição à exigência racista do governo israelense. Além disso, a liga ressalta que a demanda também prejudica o direito de retorno dos refugiados palestinos, um ponto basilar em sua posição sobre as negociações e já reconhecido pelas Nações Unidas, mas completamente rechaçado pelas autoridades israelenses.

Em julho de 2013, os Estados Unidos mediaram os acertos para a retomada das negociações entre Israel e a Autoridade Palestina, que devem durar até abril.

Apesar da falta de progresso diplomático e da posição negativa do governo israelense, entretanto, os Estados Unidos têm pressionado as autoridades palestinas a aceitarem a extensão do prazo final para as negociações, enquanto os territórios palestinos e o povo continuam sujeitos à ocupação militar israelense, ao bloqueio imposto à Faixa de Gaza há oito anos e à violação diária dos direitos humanos mais básicos, além da negligência com relação ao direito internacional e às diversas resoluções das Nações Unidas sobre a solução da questão. 

Entretanto, a extensão da ocupação, com o aumento na construção de colônias judias em territórios palestinos, e a reafirmação de exigências inaceitáveis para os palestinos – além do reconhecimento de Israel como Estado judeu, também a manutenção de tropas israelenses na fronteira palestina com a Jordânia, por exemplo – são barreiras fundamentais para o avanço das negociações, mas tratadas com omissão pela parte que se apresenta como mediadora.

Por Moara Crivelente, da Redação do Vermelho,
Com informações das agências palestinas