Brasil convoca embaixador e Israel se diz “decepcionado” com a medida

O Ministério brasileiro de Relações Exteriores (Itamaraty) divulgou nota, nesta quarta-feira (23), informando a chamada ao embaixador do Brasil em Israel para consultas, em Brasília. O texto condena a escalada da violência que, em quase três semanas, já resultou em 660 mortes entre os palestinos, com “elevado número de vítimas civis, incluindo mulheres e crianças”. A Chancelaria israelense reagiu, nesta quinta (24), alegando que a medida “dá vantagem ao terrorismo”.

Gaza - Mohammed Abed / Maan / AFP

“O governo brasileiro reitera seu chamado a um imediato cessar-fogo entre as partes”, afirma a nota do Itamaraty, que informa ainda o voto favorável do Brasil, enquanto membro do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, pela criação de uma comissão de investigação das denúncias de crimes de guerra.

A resolução, esboçada pelos representantes palestinos na reunião, foi aprovada por 29 votos favoráveis entre os 47 membros do Conselho. Os Estados Unidos apresentaram o único voto negativo, na sequência das posições declaradamente favoráveis à ofensiva israelense contra a Faixa de Gaza palestina e da aliança sustentada com o governo agressor de Israel. As potências europeias, por sua vez, abstiveram-se.

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O chanceler israelense Avigdor Lieberman, citado pelo jornal Jerusalem Post, acusou o conselho de ter se “tornado há muito um conselho de direitos de terroristas” – mencionando Cuba e Venezuela – e também de antissemitismo, reação usual contra qualquer crítica às políticas racistas e agressoras do governo. Lieberman defendeu repetidamente que a ofensiva só deve terminar quando o exército de Israel retomar o controle da Faixa de Gaza, de onde milhares de colonos israelenses foram retirados em 2005, embora a medida tenha sido sucedida pelo bloqueio completo do território litorâneo.

O Ministério israelense das Relações Exteriores também emitiu nota através da sua página oficial, nesta quinta-feira (24), afirmando “decepção” com a decisão brasileira, que “não contribui para promover a calma e a estabilidade”, mas “oferece vantagem ao terrorismo”. No dia anterior, o Equador também havia decidido convocar o seu embaixador em Israel.

Ofensiva contra os palestinos

Nos 16 dias desde que a operação “Margem Protetora” foi lançada contra Gaza, mais de 660 palestinos já foram mortos, principalmente civis e cerca de 180 crianças, de acordo com a ONU, em episódios brutais e de flagrante violação do direito internacional humanitário, que pretende proteger a população civil em tempos de conflito armado. Ainda assim, é importante enfatizar o caráter unidirecional da agressão contra um território sitiado há sete anos por Israel, o que resulta em constante emergência humanitária, enquanto a reação às ofensivas, inclusive através da resistência armada, é deslegitimada como “atos terroristas”.

Em carta aos principais órgãos da ONU (Conselho de Segurança, Assembleia Geral e Secretaria Geral), o embaixador do Estado da Palestina, Ryiad Mansour, apelou, ainda na quarta-feira, por medidas concretas relativas às denúncias reiteradas sobre crimes de guerra perpetrados pelas forças israelenses. A carta, divulgada pela Organização para a Libertação da Palestina (OLP), é a 510ª enviada à ONU desde 2000, instando a comunidade internacional a cumprir seu compromisso de proteção dos direitos dos palestinos. O texto reitera o apelo:

“Ainda que a comunidade internacional tenha instado Israel repetidamente a encerrar esta agressão sangrenta contra o povo palestino, Israel, como em tantas outras vezes antes, escolhe deliberadamente ignorar esses apelos e continua, ao invés disso, a sua campanha de devastação e destruição contra a Faixa de Gaza e a sua população civil. A comunidade internacional precisa continuar a exigir que a potência ocupante encerre imediatamente essa agressão, sua grave punição coletiva e todos os outros crimes e violações que está perpetrando contra o povo palestino em todo o Estado ocupado da Palestina, inclusive em Jerusalém Oriental.”
Por Moara Crivelente, da Redação do Vermelho,
Com informações do Itamaraty e da OLP

Alterada às 10h12 para incluir novas declarações do chanceler Avigdor Lieberman