Defensor da ocupação presta juramento como presidente de Israel

O chanceler dos EUA John Kerry tenta mais uma vez, nesta sexta-feira (25), fazer Israel aceitar uma "trégua humanitária”, para suspender os bombardeios que já mataram mais de 800 palestinos em Gaza. Outra notícia passa quase despercebida: a de que Reuven Rivlin prepara-se para assumir a presidência de Israel. Rivlin é do agressivo partido Likud, o mesmo do premiê Benjamin Netanyahu, que ordenou a ofensiva contra Gaza há 18 dias.

Por Moara Crivelente, da Redação do Vermelho

Israel - Parlamento de Israel

O jornal israelense Haaretz destaca as diversas opiniões e vozes sobre as notícias e as consequências da ofensiva “Margem Protetora” de Israel contra Gaza e à trégua anunciada pelas autoridades para a entrega de “ajuda humanitária” ao território sitiado, até que as bombas voltem a ser lançadas novamente, destruindo casas, escolas, mesquitas e hospitais, destroçando dezenas de famílias e massacrando centenas de crianças.

Perdido entre as notícias do “front” está o discurso de despedida do presidente Shimon Peres, de 90 anos de idade, o chefe de Estado considerado mais “pró-paz” até então. Contradições sobre esta perspectiva à parte, mais destaque é preciso para o seu sucessor, que é apresentado como a extrema-direita de um partido já extremo, em geral.

Ainda na quinta-feira (24), enquanto o agressivo e belicoso premiê Netanyahu se debatia contra a pressão cínica dos EUA por um “cessar-fogo humanitário”, análises indicavam que a decisão favorável neste sentido seria extremamente “impopular” e enfrentaria oposição firme do gabinete de governo (uma colcha de retalhos tendente à extrema-direita e aos representantes dos colonos ultranacionalistas) e de membros do próprio Likud.

Fundado pelo ex-primeiro-ministro Menachem Begin, em 1973, o partido, intitulado “A Consolidação”, tem seu próprio histórico de sustentação da ocupação da Palestina e da agressão contra palestinos e outros vizinhos árabes, sobretudo libaneses e sírios. Begin comandava o governo, por exemplo, quando o massacre nos campos de refugiados palestinos de Sabra e Chatila, no Líbano, foi perpetrado pelas tropas de Israel, com apoio da extrema-direita libanesa, em 1982.

Rivlin foi eleito o 10º presidente de Israel ainda em 10 de junho pelo Parlamento (Knesset). Seu principal oponente era Meir Sheetrit, do partido Hatnuah (O Movimento), formado em 2012 pela atual ministra da Justiça Tzipi Livni – alegando oferecer alternativa aos que se encontram frustrados pelo fracasso das autoridades israelenses em alcançar a paz com os palestinos – com apoio de dissidentes do partido Kadima (Adiante). Este, por sua vez, havia sido criado em 2005 pelo ex-premiê Ariel Sharon, reconhecido criminoso de guerra, com apoio de “moderados do Likud”, para sustentar o plano de retirada dos colonos da Faixa de Gaza (logo completamente sitiada, situação que se mantém até hoje).

Tudo volta ao mesmo centro, visivelmente. Apresentando-se como defensor dos “direitos das minorias” em Israel, referindo-se inclusive aos palestinos com cidadania israelense, Rivlin se declara abertamente contrário à solução de dois Estados para encerrar a ocupação sobre a Palestina. Além disso, também defende as colônias israelenses nos territórios palestinos. O novo presidente, que prestou juramento na quinta, assume o posto na segunda-feira (28). Ainda não há previsão para o fim do massacre dos palestinos.

Alterada às 17h39 pela informação de que Israel rechaçou a proposta de Kerry de uma "trégua humanitária"
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