Rafael Correa denuncia mídia ao inflar “golpe suave” no Equador

Após as manifestações desta quinta-feira (2), nas ruas do Equador, o governo de Rafael Correa denuncia a possibilidade de estar em curso uma tentativa de “golpe suave”. Na última quarta-feira (1º/7), na véspera das concentrações, José Serrano, Ministro do Interior, informou à imprensa equatoriana que há uma conspiração em curso, visando a tomada da sede do governo, conhecida como Carondelet.

Rafael Correa

De acordo com dados de inteligência, haveria orientações de incentivo e estruturação das manifestações em oposição ao governo de Correa. Na mesma linha, o ministro das Relações Exteriores, Ricardo Patiño, afirmou que há perigo para a democracia e apresentou três representantes do Comitê das Vítimas do Golpe Continuação Guarimba, da Venezuela, que falaram das semelhanças entre a situação atual com o que aconteceu na Venezuela.

O presidente Rafael Correa alertou para o papel da mídia burguesa e emitiu uma mensagem nas redes sociais: "Infelizmente temos indicações claras de uma tentativa de golpe em Carondelet (…) Eles tentam, pelo menos, manter-se em permanente confronto, como fizeram na Venezuela. Eles não terão sucesso", avisou.

De acordo com depoimentos dos opositores à imprensa daquele país, o motivo para as manifestações seria a proposta de Rafael Correa para taxar grande fortunas. No entanto, essa parece ser mais uma desculpa, já que o presidente Correa recuou na proposta.

A jornalista do Opera Mundi, Vanessa Martina Silva, que é especialista em política latino-americana e viu de perto a ofensiva conservadora na Venezuela e o golpe no Paraguai, disse que "as propostas do governo do presidente Rafael Correa, de taxar grandes heranças e de combater a especulação imobiliária, atingiram não só os setores conservadores e mais ricos da sociedade, como também a classe média – fortemente influenciada pelo discurso midiático que coloca as medidas como sendo 'contra a família que trabalhou tanto para deixar algo para seus filhos' ".

Segundo ela, “os protestos começaram a ser realizados no país a partir do momento em que o governo apresentou as propostas em caráter de urgência no Congresso, onde tem maioria. No entanto, elas foram retiradas e o governo solicitou um diálogo com os insatisfeitos, no qual teria a oportunidade de explicar melhor do que se tratam as medidas e até mesmo rever pontos se esses realmente prejudicassem os mais pobres ou a classe média. E assim, acalmar os protestos”.

"O que temos acompanhado é que, apesar do gesto de Correa, os protestos seguiram pelo país. Acontece que estamos nas vésperas da visita do papa Francisco, que chega no domingo. O temor é que os protestos se tornem violentos ou as tentativas de desestabilização tomem corpo e façam com que o papa desista da viagem. O que teria uma péssima repercussão não só internacional, como nacionalmente, fortalecendo assim a oposição”, comenta Vanessa.

A "Lei para a Distribuição da Riqueza", enviada pelo governo do Equador, prevê um imposto progressivo que começa com 2,5% para heranças de US$ 35,4 mil e chega a 47,5% para as heranças superiores US$ 566,4 mil.

Investida na América Latina

As ruas do Equador têm sido tomadas pelos opositores do governo – vindos dos setores da classe média – que pedem a saída de Correa e que, ao mesmo tempo, negam qualquer pedido de diálogo vindo do governo.

Em vários momentos, o presidente equatoriano agradeceu o apoio ao seu governo por parte da sociedade que atesta os avanços alcançados pelo Equador, mas a mídia não tem poupado o projeto liderado por Rafael Correa.

Em pronunciamento, nesta quinta-feira (2), o presidente renovou seu agradecimento à confiança depositada pelo povo em seu projeto e alertou que "se os adversários querem a presidência que a disputem nas urnas. Temos de estar vigilantes, essa investida continuará até 2017".

Em tuíte divulgado esta semana, Correa afirma: "Nós somos mais, muito muito mais!".