Fim da conciliação capital x trabalho iniciada nas eleições de 2002

 É certo que a situação político econômica delicada do Brasil é provocada pela irresponsabilidade dos derrotados nas eleições de 2014, que perderam no voto a luta democrática e resolveram partir para o tudo ou nada incendiando o país. Mas suas raizes são mais profundas.

José de Barros Neto*

 A conciliação proposta pelas forças de esquerda nas eleições 2002, quando um torneiro mecânico se aliou a um mega empresário, serviu para unir o Brasil e garantiu, além da vitória nas urnas, governabilidade suficiente para muitas conquista sociais e avanços. O país se desenvolveu e incluiu milhões – até então esquecidos- na agenda nacional.

Ocorre que a união chegou ao limite. Não dá para praticar justiça social sem traumas e descontentes. O andar de cima estrilou. As velhas oligarquias acostumadas a mandar sozinhas cansaram de perder poder, ainda que mantenham prestígios e privilégios (infelizmente).

A quarta derrota pela via democrática feriu de morte os falsos princípios daqueles que nunca engoliram ou se preocuparam com o povo. Partiram para o tudo ou nada. É flagrante o uso da grande mídia que usa sua força para insuflar a revolta e manipular a opinião pública contra o governo.

Contraditoriamente, os líderes da oposição são pessoas envolvidas em incontáveis escândalos. Têm folha corrida na polícia em vez de currículo. Portanto, é falso moralismo a falácia do "combate à corrupção". A alternativa à direita colocaria o Brasil de volta à abissal desigualdade antes de Lula. Quando poucos se refastelavam com as riquezas do país.

Ao passo que é tentativa de golpe apregoar o impeachment de uma presidenta sem qualquer fato típico ou prova de conduta ilícita. Tal acinte deve ser severamente repudiado pelos democratas.

Noutra banda a oposição ousa falar em ética, mesmo com seus políticos sem escrúpulos atolados até o pescoço no lamaçal da velha política. Tem ex-governador cassado por corrupção eleitoral. Outros estão envolvidos em depósitos de cifras estratosféricas em paraísos fiscais, esquemas em metrô, hidrelétrica e Petrobras. Sim, as estatais são tão generosas que abastecem até políticos da oposição.

Por isso a discussão sobre ética na política nos interessa, sobretudo se for para mudar por completo as coisas, na construção de um novo pacto federativo, novo plano nacional de desenvolvimento, leis mais justas, menos impostos para as massas e cobrança maior de quem pode e deve pagar mais.

A matéria prima numa democracia é o povo. Só ele pode mudar para valer. Sem mudanças profundas, radicais, iremos continuar enxugando gelo. Tirando esse ou aquele envolvido para aliviar a pressão sem alterar a ordem das coisas ou o que é fundamental.

Querem discutir mudanças necessárias e urgentes? Discutamos, pois, desde o processo eleitoral, financiamento da saúde e educação, modelo de campanhas políticas, concessões de tvs e rádios que trabalham contra o interesse nacional, redução da jornada de trabalho, reforma agrária, lucro abusivo de bancos, participação sindical na direção das empresas, salário mínimo mais digno, fim dos super salários e dos benefícios espúrios para todos no serviço público, dentre outros.

Discutamos também o mau uso de cargos públicos em todas as esferas de poder para aplicação de ideologias, quando o correto seria ter como norte a primazia das leis e combate às injustiças sociais. A ditadura de direita, legalista, arbitrária, circense, é tal qual a militar, senão pior.

Os mais ricos e seus lacaios estão golpeando pelo poder, querem dinheiro, não o estado remodelado. Muitos, facilmente manipulados com o argumento espúrio de que "tirando daquela escoria, sobraria mais para eles". Desrespeitam direitos conseguidos a duras penas e sempre se aproveitaram do estado nacional com benesses desde 1500. São amorais.

Criticam programas sociais porque acham que deles não precisam. Criticam, não porque não são bons, mas porque gostariam que os seus recursos ficassem para eles.

Os direitos civis, duramente conquistados, principalmente no último século, aprofundados na última década, também se encontram  ameaçados. Racismo, homofobia, higienização, são temas que há pouco tempo causavam constrangimento, mas hoje voltam com força, até como base de discursos reacionários. Está dando voto! Para vergonha da nossa sociedade.

A grande mídia envenenou, anos a fio, a opinião pública contra os políticos para se colocar acima do bem e do mal e isso vem de muito tempo. Agora tentam o golpe.

Não iremos contemporizar com a direita. Queremos avanços. Vamos resistir! É melhor morrer pela democracia do que nos porões da ditadura.

Se quisermos evitar o golpe devemos continuar nas ruas, de vigília, sempre. Vai ter luta, não apenas para manter Dilma na presidência, mas para aprofundar as mudanças!

*José de Barros Neto (Neto Barros) e vice-presidente estadual do PCdoB do Espírito Santo e prefeito de Baixo Guandu.