Venezuela: situação de excepção

Com um pedido de referendo revogatório do mandato presidencial em curso, um complexo quadro econômico agravado por fenômenos climáticos e uma nova vaga de ingerência imperialista, a situação que se vive na Venezuela é de excepção.

Nicolás Maduro - Presidência Venezuela

Depois da prorrogação do decreto do presidente norte-americano que considera a Venezuela uma ameaça à segurança dos EUA, outros elementos adensam o que o governo de Caracas e as forças políticas e sociais bolivarianas consideram ser uma campanha de ingerência externa visando a sua capitulação.

No início desta semana, a ministra dos Negócios Estrangeiros, Delcy Rodríguez, encontrou-se com membros das organizações que integram a Frente Patriótica Hugo Chávez e acolheu um documento em que se rechaça a postura do secretário-geral da Organização dos Estado Americanos (OEA), Luis Almagro, que a 28 de abril reuniu com parlamentares da oposição venezuelana admitindo a aplicação da Carta Democrática Inter-americana contra o país, isto apesar de a reunião violar os estatutos da OEA.

No mesmo dia, o Senado dos EUA admitiu a futura votação em plenário de um decreto que prolonga as sanções impostas por Washington a funcionários e governantes venezuelanos. O pretexto do texto apresentado pelo aspirante a candidato do Partido Republicano à Casa Branca, Marco Rúbio, são supostas violações dos direitos humanos por parte daqueles.

Paralelamente, na Venezuela decorreu a recolha de assinaturas para a convocação de um referendo revogatório do mandato presidencial. A Mesa de Unidade Nacional e o candidato presidencial derrotado mais do que uma vez, Henrique Capriles, entregaram as subscrições legalmente exigidas para que a Comissão Nacional de Eleições avalie o processo, mas ao contrário do que afirmam, a CNE não pode convocar o pleito imediatamente, esclareceu Jorge Rodríguez, líder dos delegados bolivarianos que, com membros da oposição e daquela entidade, vão verificar a validade das assinaturas.

Resistir

No ato central de comemoração do 1.º de maio, em Caracas, o chefe de Estado apelou ao levantamento e resistência dos trabalhadores e do povo caso a oligarquia criola aliada do imperialismo consiga derrubar o governo bolivariano. Nicolás Maduro, que há semanas vem alertando para um "golpe brando", advertiu para o endurecimento da ofensiva, chamando em particular a classe operária venezuelana a cerrar fileiras na aliança cívico-militar em defesa da democracia.

O presidente da Venezuela avisou ainda que os empresários que insistam em paralisar as respectivas atividades "vão ser castigados" e garantiu que os trabalhadores não irão permitir a continuidade da sabotagem. Recorde-se que em fevereiro os trabalhadores da indústria de panificação denunciaram a interrupção da laboração na maioria dos moinhos de farinha do país. A escassez de pão na Venezuela e as pilhagens que se sucedem em várias cidades não podem ser desligadas de paralisações do gênero.

No Dia do Trabalhador, Nicolás Maduro anunciou um novo aumento do salário mínimo e das pensões em 30 por cento (o 33.º em 17 anos de Revolução Bolivariana). A medida, aplicada no quadro da tentativa governamental de apostar e diversificar a produção nacional e arrancar o país da dependência da venda de petróleo, tem por objetivo responder à situação de emergência econômica e social. Nesta sobressai a carência de bens de primeira necessidade motivada pelo açambarcamento e pela ação do patronato, com a consequente especulação sobre os preços e a proliferação de filas junto de estabelecimentos comerciais.

A agravar a conjuntura, a Venezuela debate-se com uma invulgar escassez de água nas barragens, razão pela qual o executivo bolivariano alterou o fuso horário e ordenou constrangimentos transitórios no funcionamento dos serviços públicos e organismos estatais.