Farc e governo colombiano assinam acordo de paz
Avisem em Macondo que a guerra acabou! Ao assinar o acordo de paz que dá fim aos 52 anos de conflito na Colômbia, tanto o comandante em chefe das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), Timoleón Jiménez, quanto o presidente do país, Juan Manuel Santos, citaram o romance Cem Anos de Solidão de Gabriel García Márquez, o prêmio Nobel de Literatura que fez de sua obra um manifesto de amor pelo fim da guerra.
Por Mariana Serafini
Publicado 27/09/2016 10:13
O acordo de paz foi assinado na noite desta segunda-feira (26) em Cartagena das Índias, cidade em que Gabo foi sepultado. Timoleón Jiménez encerrou seu discurso citando a história de amor entre Mauricio Babilônia e Meme (uma das últimas personagens da estirpe dos Buendia, do romance do escritor colombiano).
“Acabou a Guerra. Estamos começando a construir a paz. O amor de Maurício Babilônia por Meme poderá ser agora eterno e as borboletas que voavam livres atrás dele, simbolizando seu infinito amor, poderão agora se multiplicar pelos séculos cobrindo a pátria de esperança”.
O presidente, por sua vez, também citou a obra de Gabriel García Márquez ao encerrar seu discurso: disse que há uma “segunda oportunidade sobre a terra”.
A caneta usada para firmar o acordo é muito simbólica. Trata-se de um “balígrafo”, uma caneta produzida a partir do material de munições. “Nós criamos o que chamamos de balígrafo, que é uma bala convertida em uma caneta para dizer que esta é a transição das balas para a educação e ao futuro”, explicou o presidente.
Cerca de 15 chefes de Estado participaram da cerimônia que marcou o triunfo dos quatro anos de Diálogos de Paz realizados em Havana sob a supervisão de outros Estados soberanos. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, também fez questão de participar do ato.
O processo de paz “é uma vitória da sociedade colombiana como um todo e da comunidade internacional”, afirmou Jiménez, ao agradecer diferentes setores da população da Colômbia pelo apoio às negociações entre o governo e a guerrilha, “sobretudo às vítimas do conflito”.
Agora que acordo foi assinado ele será encaminhado ao Parlamento para ser submetido a um plebiscito, a ser realizado neste domingo (2), quando a população terá a oportunidade de votar “sim” pelo fim da guerra.
Depois de aprovado, o acordo entra em vigor e as Farc terão 180 dias para fazer a transição completa à vida civil e política. Sem armas, os ex-guerrilheiros terão o direito de ocupar três assentos no Parlamento até as próximas eleições, quando poderão concorrer como uma força política.
O processo de desarmamento e integração dos guerrilheiros à sociedade será supervisionado pela ONU com centenas de voluntários de várias partes do mundo. Outros organismos internacionais, entre eles a Celac e a Unasul também estarão presentes no processo.